O ato de comprar algo que se deseja pode ser a realização de um sonho para muitas pessoas. Contudo, em alguns casos, o ato pode também se tornar um pesadelo, principalmente se a compra em questão for feita através do cartão de crédito. Dados oficiais apontam que em fevereiro, a taxa do rotativo chegou a 417% ao ano, um recorde desde agosto de 2017.
É neste contexto que membros do Governo Federal começaram a se movimentar para debater uma grande mudança: a redução da taxa de juros do cartão de crédito. Em entrevistas recentes, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) vem deixando claro que já existe uma discussão interna acerca do tema, e ela vem amadurecendo com o passar das semanas.
“O desenho (do crédito do cartão rotativo) está prejudicando muito a população de baixa renda. Uma boa parte do pessoal que está no Serasa hoje é por conta do cartão de crédito. Não só, mas é também por cartão de crédito. E as pessoas não conseguem sair do rotativo. É preciso encontrar um caminho negociado como fizemos com a redução do consignado dos aposentados“, declarou o Ministro.
Haddad disse ainda que o Governo Federal está trabalhando na apresentação de 14 propostas para a melhora da situação do crédito no Brasil. Parte delas já estaria sendo acertada com membros do Banco Central (BC). A ideia específica de reduzir os juros do cartão de crédito para cidadãos de baixa renda está sendo debatida com a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).
O crédito rotativo do cartão
Os juros rotativos são aqueles que são cobrados pelos bancos quando o cidadão não consegue pagar a sua fatura em dia. Como estes juros estão cada dia mais altos, se convencionou a dizer que eles são proibitivos. Isto significa que quando uma pessoa entra neste esquema, dificilmente conseguirá sair dele, sobretudo se estivermos falando de cidadãos mais pobres.
E o fato é que cada vez mais pessoas de baixa renda estão entrando neste sistema. Dados mais recentes do Banco Central (BC) indicam que há um crescimento das concessões de empréstimos por meio do cartão de crédito rotativo.
Febraban concorda com o movimento
Mas o que a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) acha deste movimento do Governo de tentar reduzir a taxa de juros do rotativo? Isaac Sidney, que comanda a organização, disse que vai participar de um grupo de trabalho junto com representantes do Ministério da Fazenda para analisar os cenários e as possibilidades.
“Vamos constituir um grupo de trabalho para aprofundar tecnicamente quais são as causas do elevado spread no cartão de crédito para poder, atacando as causas, encontrar as soluções corretas e que possam zelar pela racionalidade econômica”, disse o presidente da Febraban.
Sidney participou na tarde desta segunda-feira (17) de uma reunião com a presença do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Não tratamos de propostas. Os caminhos precisam ser construídos a partir de um diagnóstico correto. Estamos aprofundando esse diagnóstico para saber quais são as causas que fazem com que o spread do cartão de crédito seja elevado”, disse.
“Portanto, tem um projeto de lei tramitando no Congresso e já aprovado na Câmara. Se o País tiver um marco legal de garantias, damos um passo importante para reduzir os custos de crédito. Isso vale para qualquer linha, incluindo o cheque especial e o cartão de crédito”, declarou.
Endividamento
Uma das principais promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições do ano passado ainda não saiu do papel. Estamos falando do Desenrola, que prevê a renegociação de dívidas de cidadão que estão endividados, inclusive com o rotativo do cartão de crédito.
Acontece que mesmo depois do aval do presidente Lula, o programa Desenrola ainda não tem prazo para o lançamento. O Ministério da Fazenda justifica a demora afirmando que o sistema tecnológico do programa é complexo e demanda tempo para ser entregue.