Ninguém nega que a decisão da Petrobras de acabar com o esquema de paridade internacional (PPI) e reduzir os combustíveis tem um impacto econômico forte nas contas do país. Contudo, há também um segundo impacto nestas medidas: o político. A redução nos valores da gasolina e do diesel deverão ser usadas pelo Governo Federal para tentar elevar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Não à toa, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates mandou uma indireta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao falar sobre o assunto. Em entrevista à Globo News na tarde desta quarta-feira (17), ele disse que a gestão anterior teria trabalhado para reduzir os preços artificialmente, e argumentou que daquele jeito “era fácil governar”.
“É preciso lembrar que os impostos (sobre a gasolina) estão voltando porque houve uma decisão, ao meu ver, puramente eleitoreira e simplista, de retirar os impostos dos governadores. Uma situação completamente inusitada e fácil de fazer. Governar assim, qualquer um governa. Se você tira o imposto de tudo, tudo baixa de preço. Essa solução para a inflação é simplista”, disse Prates.
“Não é assim que tem que ser feito. Se tirou muito dinheiro dos governadores”, completou o presidente da Petrobras, sem citar os nomes dos ex-presidentes do Brasil e da Petrobras.
A desoneração da gasolina
No ano passado, o ex-presidente Jair Bolsonaro optou por desonerar completamente os valores dos combustíveis no Brasil. Como a medida foi tomada às vésperas das eleições, opositores acusaram o então presidente de usar a Petrobras para fazer campanha. Bolsonaro nega.
Nesta declaração concedida à Globo News, Prates estava se referindo ao processo de reoneração dos preços dos combustíveis no Brasil pelo atual governo. Parte dos impostos estão sendo retomados desde o início de março, e a outra parte entrará na cobrança do litro de combustíveis, incluindo a gasolina, já a partir de junho.
Prates disse que ainda não é possível saber se a Petrobras vai tomar alguma medida para reduzir o impacto deste novo aumento que está previsto para o próximo mês.
“Eu não sei, vamos ver até lá. As circunstâncias vão dizer. As coisas não estão sendo feitas por acaso. Isso está sendo feito com muita parcimônia e com muita análise. Não é chute”, disse o presidente da Petrobras.
Repercussão no Congresso Nacional
Desde que anunciou a redução dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha, parlamentares estão se dividindo sobre o teor destas medidas. Em resumo, apoiadores do governo afirmam que se tratam de boas ideias, e críticos dizem que a queda de preços é boa, mas pode trazer complicações.
Parlamentares que apoiaram a medida
- Deputado Helder Salomão (PT-SE)
“Nós voltamos a ter uma política de preços justa, com base em estudos técnicos e que vai gradativamente controlar o preço dos combustíveis e garantir que a Petrobras seja uma empresa pública cada vez mais forte para garantir desenvolvimento econômico e social”, disse.
- Deputada Lídice da Mata (PSB-BA)
“O preço da comida certamente ficará mais barato com a gasolina mais barata, impactando, portanto, no transporte dos produtos que vêm do interior para os centros mais dinâmicos das capitais e das grandes cidades e que chegam à mesa do cidadão”, destacou.
Parlamentares que não apoiaram a medida
- Deputado Marcel van Hattem (Novo-RS)
“É muito triste nós vermos o que está acontecendo hoje porque a nova política de preços da Petrobras, anunciada agora há pouco, já fez o dólar mais uma vez disparar, o euro subir e as bolsas ficarem nervosas.”
- Deputado Maurício Marcon (Pode-RS)
“O que nós estamos vendo hoje nada mais é do que uma contabilidade criativa para agradar alguns que não entendem como os preços funcionam”, disse o parlamentar em entrevista à TV Câmara.