A inflação oficial do Brasil estourou a meta pelo segundo ano consecutivo. A saber, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou uma variação de 5,79% no ano passado. Contudo, o limite definido para a taxa inflacionária era de 5,00% em 2022.
Todos os anos, o Conselho Monetário Nacional (CMN) define uma meta central para inflação do país. E cabe ao Banco Central (BC) agir para cumprir essa meta, uma vez que a inflação controlada traz diversos benefícios. Aliás, veja abaixo alguns deles:
- Maior tranquilidade para investir no Brasil;
- Mais previsibilidade econômica, permitindo um planejamento das indústrias;
- Redução da concentração de renda;
- Maiores chances para o país ter um crescimento econômico sustentável.
Para 2022, o CMN definiu uma meta central de 3,50% para a inflação brasileira. Além disso, a entidade também determina um intervalo de 1,5 ponto percentual (p.p.) para a taxa inflacionária. Assim, valores dentro desse intervalo indicariam que a inflação teria sido formalmente cumprida, mas não foi isso o que aconteceu.
No ano passado, a taxa inflacionária no Brasil poderia variar entre 2,00% e 5,00% que, ainda assim, seria cumprida. No entanto, o valor superou essa faixa, chegando a 5,79%, estourando a meta pelo segundo ano consecutivo.
Ainda assim, vale destacar a forte desaceleração da inflação no país em 2022. A título de comparação, a inflação chegou a 10,06% em 2021, variação quase duas vezes superior à registrada no ano passado. Em 2021, a meta central definida pelo CMN havia sido de 3,75%, com limite superior de 5,25%.
Entenda o que é IPCA e o que ele mede
Em primeiro lugar, vale explicar o que é inflação. Em síntese, o termo se refere ao aumento contínuo e generalizado nos preços de bens e serviços. A propósito, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga mensalmente a variação do IPCA, que é considerado a inflação oficial do país.
Diariamente, pesquisadores do IBGE vão a estabelecimentos comerciais para colher informações sobre os preços de diversos itens. Nove grupos de produtos e serviços pesquisados compõem o IPCA, mas cada um deles exerce um impacto específico no indicador.
Em 2022, sete dos nove grupos pesquisados tiveram taxas positivas. Isso quer dizer que os preços de itens e serviços destes grupos ficaram mais caros, em comparação a 2021. Assim, apenas dois grupos registraram taxas negativas, aliviando um pouco o bolso dos brasileiros, mas os recuos foram bem leves.
Veja abaixo a variação acumulada por cada um dos grupos em 2022:
- Vestuário: 18,02%
- Alimentação e bebidas: 11,64%
- Saúde e cuidados pessoais: 11,43%
- Artigos de residência: 7,89%
- Despesas pessoais: 7,77%
- Educação: 7,48%
- Habitação: 0,07%
- Comunicação: -1,02%
- Transportes: -1,29%
Em resumo, o grupo vestuário teve a maior variação anual, ou seja, os seus preços foram os que mais subiram em 2022. No entanto, o impacto exercido pelo grupo no IPCA foi de apenas 0,78 ponto percentual (p.p.), bem menor que a influência do grupo alimentação e bebidas (2,41 p.p.).
O grupo saúde e cuidados pessoais também exerceu maior impacto na inflação oficial do país, contribuindo com 1,42 p.p. Já os outros quatro grupos que tiveram taxas positivas influenciaram o IPCA de maneira ainda menos intensa que o grupo vestuário.
Em contrapartida, os grupos comunicação e transportes reduziram a inflação acumulada em 2022, contribuindo com -0,05 p.p. e -0,28 p.p., respectivamente, no resultado final do IPCA. Aliás, estes grupos, assim como o de habitação, cuja taxa ficou quase estável em relação a 2021, tiveram um motivo específico para não dispararem em 2022.
Limitação do ICMS impede inflação mais elevada no país
Em junho do ano passado, o governo federal sancionou uma lei complementar que limitou a cobrança do ICMS sobre diversos itens, incluindo combustíveis e energia elétrica, itens que exercem grande impacto no IPCA.
Para quem não conhece, a lei federal limitou a alíquota de cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os seguintes produtos e serviços:
- Combustíveis;
- Energia elétrica;
- Gás natural;
- Telecomunicações;
- Transporte coletivo.
Com a entrada da lei em vigor, os produtos e serviços acima passaram a ser considerados essenciais. Assim, a cobrança de uma alíquota acima da regra geral passou a ser inconstitucional. A saber, antes dessa lei, as taxas superavam 30% em alguns locais do país. No entanto, a lei limitou as alíquotas a 18%, ajudando a reduzir o preço destes produtos e serviços no país.
No ano passado, o preço da gasolina despencou 25,78% em 2022, ante uma forte alta de 47,49% em 2021. Por sua vez, a tarifa de energia elétrica acumulou uma queda de 19,01% em 2022. Caso o IBGE não considerasse esses itens, a inflação no Brasil teria subido 9,56% no ano passado.
Por fim, isso mostra que a população continuou sofrendo com o aumento dos preços em 2022. Embora a gasolina e a energia elétrica tenham despencado, os preços de vários outros produtos e serviços subiram e pressionaram a renda da população no ano passado.