O Saque-Aniversário do FGTS, uma modalidade que permite aos trabalhadores sacarem parte do saldo de sua conta do Fundo Garantidor por ocasião do aniversário, está enfrentando discussões e resistência quanto à possibilidade de uma mudança significativa. O Ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, propôs recentemente uma alteração nas regras do Saque-Aniversário, permitindo que trabalhadores demitidos possam sacar o saldo integral de suas contas. No entanto, essa proposta tem encontrado oposição do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e da Caixa Econômica Federal.
Os argumentos em jogo sobre o Saque-Aniversário
Fernando Haddad argumenta que o Saque-Aniversário é uma modalidade que facilita o acesso ao crédito, servindo como um estímulo à economia. Por outro lado, a Caixa Econômica Federal teme que a proposta de Marinho possa prejudicar a sustentabilidade do FGTS. Segundo interlocutores envolvidos nas discussões, o governo ainda não tem uma estimativa precisa sobre o impacto financeiro que a mudança poderá trazer ao balanço do FGTS.
Como funciona atualmente
Atualmente, o Saque-Aniversário permite que os trabalhadores retirem parte do saldo de suas contas do FGTS no mês de seu aniversário. No entanto, em caso de demissão, eles só podem sacar o valor referente à multa rescisória, não o valor integral da conta.
A proposta de Marinho
A proposta de Luiz Marinho autoriza os trabalhadores a saírem do Saque-Aniversário a qualquer momento e a retirarem o saldo remanescente de suas contas em caso de demissão. Atualmente, existe um período de carência de dois anos para sair do Saque-Aniversário. Além disso, de acordo com o projeto do Ministério do Trabalho, aqueles que optarem por deixar o Saque-Aniversário não poderão retornar a essa modalidade. No entanto, a Fazenda considera que essa restrição enfraquece o Saque-Aniversário como um todo.
O impacto do Saque-Aniversário na economia
O Saque-Aniversário também permite que os trabalhadores antecipem o recebimento de recursos por meio de empréstimos junto ao sistema financeiro, da mesma forma que a restituição do Imposto de Renda. O valor comprometido fica bloqueado na conta vinculada ao Fundo e é automaticamente repassado ao banco credor no mês de aniversário do cotista, sendo amortizado ao longo do tempo. Por isso, a Fazenda avalia que essa modalidade injeta recursos na economia e estimula o consumo, contribuindo para o crescimento econômico do país.
O posicionamento da Caixa Econômica Federal
A Caixa Econômica Federal defende que a proposta de mudança inclua medidas para proteger o FGTS. Entre essas medidas, está a não obrigatoriedade de quitação antecipada de empréstimos junto aos bancos credores para os trabalhadores que migrarem para o Saque-Rescisão. Além disso, o banco sugere o escalonamento dos pagamentos, como já foi feito no passado com os saques emergenciais. De acordo com o Conselho Curador, o prazo de pagamento pode chegar a até 30 anos. Vale destacar que o FGTS possui um valor bloqueado na conta de R$ 75 bilhões, que serão repassados aos bancos que anteciparam o saque nos próximos anos.
Preocupações da construção civil
As preocupações da Caixa Econômica Federal também são compartilhadas por representantes do setor da construção civil, que temem uma redução dos recursos do FGTS destinados à política habitacional de interesse social, como o programa Minha Casa, Minha Vida. Para lidar com essas preocupações, Luiz Marinho se reuniu com representantes do setor e pediu um voto de confiança quanto à proposta.
Possíveis impactos financeiros do Saque-Aniversário
Projeções da Caixa Econômica Federal indicam que a proposta de Marinho poderá resultar em um impacto de até R$ 32,5 bilhões, dependendo das regras de corte estabelecidas. Caso a autorização de saque seja válida apenas para aqueles que aderiram ao Saque-Aniversário e foram demitidos entre abril de 2020, quando a modalidade foi criada, e hoje, o impacto seria de R$ 18 bilhões. No entanto, se forem incluídos aqueles que optaram pela modalidade e perderem o emprego no futuro, outros R$ 14,5 bilhões sairão do Fundo. No entanto, o Ministério do Trabalho argumenta que as estimativas da Caixa estão superestimadas. Os técnicos afirmam que o banco está considerando que todos os que aderiram à modalidade serão demitidos, o que não é uma realidade prática. Além disso, a instituição parte do pressuposto de que todos os trabalhadores irão desistir do Saque-Aniversário e retornar ao Saque-Rescisão.
Dados da modalidade atual
De acordo com dados oficiais do FGTS, já foram realizados um total de 68 milhões de saques por meio do Saque-Aniversário. Ao todo, foram retirados R$ 44,7 bilhões do Fundo. Além disso, o volume total de recursos emprestados por conta dessa modalidade já chega a R$ 80,8 bilhões.
Como podemos ver, a proposta de alteração no Saque-Aniversário do FGTS está gerando discussões e opiniões divergentes dentro do governo. Enquanto o Ministério do Trabalho busca oferecer mais flexibilidade e acesso aos trabalhadores demitidos, a Fazenda e a Caixa Econômica Federal estão preocupadas com a sustentabilidade do FGTS e com possíveis impactos na economia e na política habitacional. A decisão final sobre essa mudança precisará passar pelo Congresso, e é importante que todas as partes envolvidas considerem os argumentos e consequências antes de tomar uma decisão que afetará milhões de trabalhadores brasileiros.