APROVADO projeto que garante abrigo para crianças vítimas de violência sexual

A violência sexual contra crianças e adolescentes é um problema grave que exige atenção e ação imediata. Para enfrentar essa questão, projetos de lei têm sido propostos e aprovados, visando garantir a proteção e o acolhimento dessas vítimas. Um desses projetos é o PL 5464/20, que prevê o oferecimento de abrigo institucional para crianças e adolescentes vítimas de violência sexual.

Aprovação e Recomendação da Relatora

A relatora do projeto, deputada Flávia Morais, recomendou a aprovação da proposta. Segundo ela, o projeto pode se tornar um instrumento poderoso no enfrentamento da violência sexual praticada contra crianças e adolescentes. A Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados aprovou o projeto, que agora seguirá para análise das comissões de Finanças e Tributação, e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

O Funcionamento do Abrigo Institucional

O abrigo institucional é uma unidade semelhante a uma residência, localizada em áreas residenciais, mas sem identificação visível. Possui capacidade para abrigar no máximo 20 crianças ou adolescentes e tem como principal objetivo garantir a reinserção familiar dos acolhidos. É um ambiente seguro e protegido, onde as vítimas de violência sexual podem receber o apoio e a assistência necessários para sua recuperação física e emocional.

Contratos de Locação e Adaptação de Imóveis

De acordo com o projeto de lei, a União, o Distrito Federal, os estados e os municípios poderão celebrar contratos de locação e promover, com dispensa de licitação, a reforma ou adaptação dos imóveis que serão utilizados como local de acolhimento. Essa medida visa garantir a disponibilidade de espaços adequados e seguros para abrigar as vítimas de violência sexual.

O Papel da Sociedade e das Instituições

O enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes não é responsabilidade apenas do poder público. A sociedade como um todo, incluindo instituições, organizações não governamentais e indivíduos, deve se engajar nessa luta. É necessário promover a conscientização sobre o tema, denunciar casos de violência e apoiar as vítimas em seu processo de recuperação.

O Caso do Rio de Janeiro

Na cidade do Rio de Janeiro, um convênio foi assinado entre o Tribunal de Justiça e a prefeitura local com o objetivo de garantir segurança e proteção máxima às crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. Esse acordo permitirá a instalação de novas unidades do Centro de Atendimento Multidisciplinar a Crianças e Adolescentes (Cami), que funcionarão nas unidades de saúde da prefeitura. Essas unidades contarão com equipes multidisciplinares compostas por psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde.

O presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Ricardo Rodrigues Cardoso, ressaltou a importância dessa iniciativa na busca por soluções para um problema tão grave como a violência sexual contra crianças e adolescentes. Ele expressou sua esperança de que essa parceria possa diminuir a dor dessas vítimas e possibilitar sua recuperação.

A Importância da Capacitação Profissional

Um desafio enfrentado no combate à violência sexual é a falta de preparo dos profissionais que lidam com crianças e adolescentes. Tanto na área jurídica quanto na área da saúde e educação, a abordagem sobre o tema muitas vezes é superficial ou apenas técnica. É fundamental que os estudantes dessas áreas recebam uma formação adequada, que os capacite a lidar de forma eficaz e sensível com as vítimas de violência sexual.

A promotora de Justiça Renata Rivitti destaca a ausência do direito infantojuvenil como disciplina obrigatória na graduação em Direito. Atualmente, essa disciplina costuma ser oferecida de forma eletiva, com um conteúdo insuficiente para desenvolver um olhar amplo sobre a associação entre relações familiares e violações dos direitos das crianças e adolescentes.

Na área da saúde, a abordagem sobre violência sexual está muitas vezes limitada à identificação de indícios físicos. A médica Renata Di Sessa, especializada em sexualidade humana, ressalta a importância de ir além da técnica, desenvolvendo habilidades de comunicação, empatia e acolhimento por parte dos profissionais de saúde.

Já na área da educação, as escolas desempenham um papel fundamental na identificação e proteção das crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. No entanto, é necessário que os educadores estejam preparados para lidar com essa realidade, o que nem sempre é contemplado nas licenciaturas. O currículo escolar deve abordar as múltiplas dimensões da criança e do adolescente, e os professores devem ser capacitados para identificar pontos de alerta no comportamento dos alunos.

Além disso, é essencial envolver a comunidade nesse processo, para que compreenda a importância de abordar temas como direitos sexuais e reprodutivos em sala de aula. A escola deve atuar de forma preventiva, garantindo os direitos das crianças e adolescentes, mas também é necessário que haja um apoio efetivo dos órgãos responsáveis pela proteção, para que a rede de proteção funcione de maneira adequada.

Fortalecendo a Rede de Proteção

Um dos desafios enfrentados é a falta de integração entre as diferentes áreas jurídicas, o que dificulta a definição de prioridades no atendimento. As varas envolvidas, como a vara da infância, a vara da família e a vara criminal, muitas vezes não atuam de forma coordenada. Uma formação conjunta permitiria um trabalho mais integrado e eficiente.

Além disso, é fundamental que haja capacitação contínua para os profissionais que atuam nas áreas de saúde, assistência social, educação e justiça. Essa capacitação deve abordar não apenas aspectos técnicos, mas também questões relacionadas à comunicação, ao acolhimento e à proteção das vítimas.

É importante ressaltar que o medo de denunciar casos de abuso ainda é uma realidade para muitos profissionais. A falta de confiança no sistema de justiça e o receio de sofrer represálias dificultam a atuação desses profissionais. Portanto, é necessário criar mecanismos e dispositivos que garantam a proteção e a segurança daqueles que denunciam, despersonalizando o ato de denunciar e tornando-o um ato institucional.

Aprovação é passo importante

A aprovação do projeto de lei que garante o acolhimento institucional para crianças e adolescentes vítimas de violência sexual é um passo importante na busca por soluções efetivas para combater esse grave problema. No entanto, é necessário ir além da aprovação de leis. É fundamental fortalecer a rede de proteção, capacitar os profissionais que atuam nessa área e promover a conscientização da sociedade como um todo. Somente assim poderemos garantir a proteção e a reinserção familiar dessas vítimas, oferecendo a elas a oportunidade de se recuperarem e construírem um futuro melhor.

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