O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar a atual taxa de juros do Brasil. Durante um evento em Portugal, o petista fez declarações negativas sobre a taxa elevada de juros, que afeta o crescimento econômico do país.
Em resumo, a taxa básica de juro da economia brasileira, a Selic, está em 13,75% ao ano. Esse é o maior percentual desde novembro de 2016, quando a taxa de juros estava em 14,00% ao ano.
Aliás, o Brasil segue com os juros reais mais elevados do mundo, descontada a inflação. Essa posição foi alcançada em maio de 2022, e, desde então, o Brasil não saiu mais da liderança.
Para quem não sabe, o Banco Central (BC) define a taxa de juros do país. Diante das críticas do presidente Lula, a entidade financeira vem afirmando que os juros altos se mostram necessários na conjuntura atual do Brasil para controlar a inflação no país.
“Nós temos um problema no Brasil, primeiro-ministro, que Portugal não sei se tem. É que a nossa taxa de juros é muito alta. No Brasil, a taxa Selic, que é referencial, está em 13,75%. Ninguém toma dinheiro emprestado a 13,75%, ninguém. E não existe dinheiro mais barato”, disse Lula.
“E a verdade é que um país capitalista precisa de dinheiro, e esse dinheiro tem que circular. Não na mão de poucos, mas na mão de todos”, acrescentou. As declarações do presidente ocorreram durante um fórum com investidores em Matosinhos, cidade localizada ao norte de Portugal.
‘Colocar o pobre no orçamento’
No evento, o presidente Lula voltou a falar sobre “colocar o pobre no orçamento”. Em suma, o petista usa esse lema desde a sua campanha eleitoral, em 2022, focando em medidas que deem mais destaque às pessoas mais pobres do país.
Segundo o presidente, os juros devem recuar no Brasil para que o crédito seja estimulado. Na verdade, quanto mais alta a taxa de juros estiver, mais caro fica o crédito no país, e isso afugenta as pessoas. Como consequência, a economia brasileira tem mais dificuldades para crescer.
“É a gente garantir que os pobres possam participar. Porque quando eles virarem consumidor, vão comprar. Quando eles comprarem, o comércio vai vender. Quando o comércio vender, vai gerar emprego, vai comprar mais produto na fábrica. […] Mais emprego vai gerar mais salário, é a coisa mais normal de uma roda gigante da economia”, disse Lula.
Inflação demora a cair
Na semana passada, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, falou sobre a taxa de juros definida pela entidade financeira. Em síntese, Campos Neto afirmou que a queda da inflação no Brasil está ocorrendo de maneira mais lenta que o esperado.
“Olhamos muitas coisas e cruzamos muitos dados. Mas a realidade é que a queda da inflação é mais lenta do que esperávamos, considerando o patamar da taxa real de juros no Brasil”, falou Campos Neto na semana passada.
“Quando você olha o núcleo da inflação, o ritmo é lento. Está caindo, mas em um ritmo muito lento. E isso é um consenso entre vários bancos centrais, provavelmente significa que o trabalho não terminou e precisamos insistir”, acrescentou.
Além disso, o presidente do BC disse a “batalha” contra a inflação não foi vencida. Por isso, explicou que a taxa Selic não pode ser reduzida, ao menos por enquanto, mesmo que esse seja o desejo do governo federal e de parte do mercado financeiro.
“A gente precisa avançar e explicar melhor para que isso consiga permear através dos mercados, para que a expectativa de inflação melhore e para que abra espaço para a gente fazer o nosso trabalho de queda de juros”, disse Campos Neto, na última sexta-feira (21).
Entenda a Selic
A saber, o principal objetivo da Selic é segurar a inflação do país. Em suma, uma taxa Selic mais alta puxa consigo os juros praticados no país, reduzindo o poder de compra do consumidor. Como consequência, desaquece a economia do país, limitando o avanço da chamada “inflação por demanda”.
Quando a Selic sobe, encarece o crédito, reduzindo a busca das pessoas por empréstimos. Dessa forma, o consumo tende a diminuir, uma vez que a população tem menos dinheiro em mãos. Por isso que o presidente Lula vem criticando os juros elevados, que continuam limitando o crescimento econômico do Brasil.
Como a demanda se enfraquece nesse cenário, os preços também tendem a cair, ou seja, a inflação desacelera, mas isso só acontece com o tempo. Isso explica a manutenção da Selic no mesmo patamar desde o ano passado, mesmo com a queda gradual da inflação no país.
Por fim, alguns economistas afirmam que a taxa Selic elevada é um “remédio” amargo, mas necessário para o país. Resta esperar para ver se a população terá que enfrentar essa situação por muito mais tempo, ou seja haverá mudança nos próximos meses, algo desejado pelo governo federal.