De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o preço do leite já sofreu um aumento de 21,6% no acumulado de 12 meses. A alta no valor do alimento considerado essencial nas compras da população brasileira vem chamando a atenção nos últimos meses.
“Esse é um patamar bem histórico na série, né? Mais de 20% de aumento em 12 meses. É um aumento de custo bem significativo. Por um lado, esse preço já deve estar chegando em um teto. Mesmo sendo um bem tão essencial, essa demanda vai acabar caindo ainda mais com esse aumento de preço, mas ele vai estacionar em um patamar alto até essa produção voltar com o mesmo vigor de antes”, disse Matheus Peçanha, economista da FGV.
A última Pesquisa Nacional da Cesta de Alimentos realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), indica que o preço do leite subiu em 17 capitais brasileiras entre os meses de abril e maio. Em janeiro de 2022, o valor médio do item era de R$ 2,10, em contrapartida, em junho deste ano o valor passou para R$ 2,68.
Nas prateleiras dos supermercados o litro do leite longa vida varia entre R$ 5 a R$ 9, indica um levantamento divulgado pela CNN. Já na prévia da inflação de junho divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o litro do leite acumula uma alta de 3,45%.
Entenda a alta no preço do leite
Para especialistas, a alta no preço do litro do leite tem relação com a menor oferta do produto. Isso ocorre por conta da entressafra que acontece entre as estações de outono e inverno, quando o clima encontra-se mais seco, prejudicando as pastagens e ocasionando a queda na produção do item.
“No primeiro trimestre de 2021, teve uma queda de 10,3% no volume de leite que foi produzido no Brasil. Foi a maior queda histórica da série, que começou em 1997. Então, acho que ela dá uma dimensão de como essa oferta recuou”, disse Glauco Rodrigues, pesquisador da Embrapa Gado de Leite.
O pesquisador também pontuou que o custo de produção do leite subiu em mais de 60% desde o ano de 2020. Isso ocorreu porque houve alta no preço de diversos insumos como medicamentos, suplementação mineral e até mesmo combustíveis.
“Os custos de produção de leite subiram muito. A gente começou, em meados de 2020, com uma alta no preço do concentrado, a alimentação das vacas à base de milho e de soja. São dois insumos muito importantes em uma estrutura de custo de produção. A parte de alimentação é a que mais pesa dentro de um sistema de produção de leite”, afirmou o pesquisador.
O preço deve se manter em alta nos próximos meses
Para especialistas, a expectativa é de que ocorram novas altas no preço do leite nos próximos meses. “A gente ainda está no período seco, a captação deve continuar piorando e a expectativa é de aumento de preços tanto ao consumidor quanto no mercado spot, entre as indústrias”, explicou Jéssica Olivier, analista da Scot Consultoria.
Para Glauco Rodrigues, o Brasil vem enfrentando o auge da entressafra do leite, de forma que a produção só deve começar a aumentar a partir de agosto, setembro e outubro. O pesquisador informou que até lá, com a alta demanda e pouca produção, o preço do leite deve seguir aumentando.