Português: O que é nível de formalidade ou variação linguística

Os diferentes níveis de formalidade estão relacionados diretamente à ideia de que variantes linguísticas têm diferentes valores sociais. As variantes são as diferentes formas linguísticas para se expressar um mesmo significado. E no uso em sociedade, essas variantes não provocam o mesmo efeito. Algumas variantes são entendidas como mais cultas e essas estão associadas a um nível de formalidade superior. Aquelas tidas como mais coloquiais estão associadas a um nível de formalidade mais baixo.

Essa distinção entre as variedades mais formais ou menos formais se manifestam na língua em diferentes níveis. Ou seja, é possível identificar do nível do vocabulário, do nível da fonética e no nível da sintaxe, esses diferentes valores sociais das variantes e por consequência, esses distintos níveis de formalidade.

Fragmentos de análise

Pensando nesses três níveis, dos estudos linguísticos, parte-se para os exemplos. Observe um fragmento de notícia, a seguir.

(UNICAMP)

Descanso mais longe

O brasileiro tá vivendo cada vez mais – o que é bom. Só que quanto mais ele vive, mais a situação do INSS se complica, e mais o governo trata de dificultar a aposentadoria do pessoal pelo teto (o valor integral que a pessoa teria direito de receber quando pendura as chuteiras) – o que não é tão bom.

(notícia JÁ, Campinas, 30/06/2012, p.1 e 12.)

Para quem esperava uma notícia mais próxima do convencional, essa pode provocar alguma surpresa, porque o gênero noticiário costuma empregar a norma culta com rigor nos gêneros mais formais. No entanto, o jornal “notícia JÁ”, busca um tipo de interação mais aproximada dos seus leitores e por isso se vale de marcas da informalidade. Neste caso as variantes linguísticas não seguem uma ordem maior da norma culta ou padrão. Isso é possível identificar no vocabulário adotado. No fragmento, por exemplo, se usa a expressão “pendurar as chuteiras” ao invés de se usar a expressão aposentar-se.

É possível dizer que são diferentes maneiras de se referir a um mesmo acontecimento. É possível entender a expressão “pendurar as chuteiras”, como formas variantes. Porém, a expressão aposentar-se é mais associado à língua culta, no entanto com um nível maior de formalidade, enquanto dizer “pendura as chuteiras” é mais associada a uma linguagem coloquial, portanto no fragmento existe um nível menor de formalidade.

O mesmo texto da margem a perceber a diferença entre variantes também na fonética, que pode ser entendida num termo mais técnico como a pronúncia adotada. Em “O brasileiro tá”, ao invés de está, a qual seria a forma mais associada ao português culto, mais formal. Enquanto é a forma associada à coloquialidade, uma forma menos formal.

Para que tenhamos um exemplo do terceiro nível de análise linguística, que é a sintaxe, vamos recorrer a outro texto.

É um fragmento da obra “Macunaíma” de Mario de Andrade. Observe:

-Meu avô, dá caça para mim comer?

-Sim, Currupira fez.

Cortou carne de perna moqueou e deu pro menino (…).

O caso da sintaxe acontece na expressão “para mim comer”. A sintaxe traduzida em termos mais simples, é o campo da gramática que estuda as relações entre os termos ou vocábulos. E as formas variantes no exemplo citado são: “…para mim comer” >> para eu comer

O que acontece é que nesta construção, substituindo mim por eu, é tida como mais formal. E isso acontece simplesmente por respeitar uma regra da gramática normativa em que a palavra eu atua como sujeito. No caso da palavra mim, ela atua na informalidade no Português coloquial.

O que vale ressaltar, também, é que no Português existem variedades de maior prestígio e de menor prestígio social. Essas associadas a um menor prestígio social são associadas a expressões mais comunicativas do cotidiano.

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