Parcela do auxílio emergencial comprava cesta básica completa, agora compra apenas 23%
Sucessivos cortes no valor do auxílio emergencial e a inflação alta, beirando dois dígitos, fizeram que o benefício perdesse quase 80% de seu poder de compra da cesta básica na região metropolitana de São Paulo desde que o programa foi criado, em abril de 2020. Na época era possível adquirir uma cesta básica completa com apenas uma parcela do auxílio.
O auxílio emergencial foi criado em 2020 pelo Governo Federal para atender famílias vulneráveis afetadas pela pandemia de Covid-19. Inicialmente foram oferecidas cinco parcelas de R$ 600 ou R$ 1,2 mil no caso de mães solteiras chefes de família. Logo após, o programa foi estendido até 31 de dezembro de 2020 em até quatro parcelas de R$ 300 ou R$ 600 cada.
Em 2021, o benefício foi definido inicialmente em 4 parcelas. Os valores foram alterados para R$150 para quem mora sozinho, R$250 para famílias e R$375 para mães que criam os filhos sozinhas. Estes valores permanecem iguais nas demais parcelas do auxílio, prorrogadas até o próximo mês pelo governo.
Para se ter uma ideia, de acordo com o economista Matias Cardomingo, pesquisador do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) da USP, o valor de R$ 1.200 que era pago no ano passado a mulheres que sustentam o lar sozinhas, dava para bancar duas cestas básicas e ainda sobravam R$ 87,50. Agora, essas mulheres recebem R$ 375, o que compra apenas 58% de uma cesta básica.
Despesas básicas também aumentaram
Junto aos seguidos cortes do auxílio,a inflação contribuiu para que o preço médio das despesas básicas, como gastos com comida, combustíveis e contas de água e energia, das famílias brasileiras aumentasse 33% no último ano, segundo levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo ( FecomercioSP).
Os dados foram levantados com base no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a pesquisa, entre março de 2020 e julho de 2021, período de pandemia, o avanço médio do valor das despesas básicas no Brasil foi de 30,3%.
A cesta de produtos de consumo básico englobam itens como arroz, feijão, carnes em geral, leite integral, óleo de soja, além de gastos com gás de cozinha, contas de água e energia residenciais, gasolina, etanol, óleo diesel e gás veicular. A FecomercioSP avalia que a inflação descentralizada, aliada ao fato desses serem produtos essenciais para sobreviver, dificultam ainda mais os consumidores conseguirem atingir o básico.
No último mês de julho, as despesas básicas das famílias influenciaram aproximadamente 18% no orçamento dos lares. Ou seja, no mesmo período em 2020, R$ 20 reais eram utilizados para a mesma finalidade, o que agora equivale a quase R$ 27, apresentando um aumento de R$ 7 em um ano.
Mais dados sobre o Auxílio Emergencial
Em 2021, além de cortar o valor, o governo restringiu o acesso ao benefício. Dados de agosto de 2021 do Ministério da Cidadania informam que o auxílio foi pago, em julho, a 39,4 milhões de pessoas. O número de beneficiados é bem menor que o do ano passado, quando superou a casa dos 68,2 milhões de pessoas.
Destes 39,4 milhões, foram distribuídos da seguinte forma: 18,4 milhões receberam R$ 150, 12,4 milhões receberam R$ 250 e 8,6 milhões receberam R$ 375, totalizando R$ 9 bilhões repartidos à população pelo governo através do auxílio emergencial .
A principal regra que não sofreu alteração em relação ao ano anterior, foi a de que o benefício será pago às famílias com renda mensal total de até três salários mínimos, desde que a renda por pessoa seja inferior a meio salário mínimo. Todos que tiveram o pagamento do auxílio emergencial cancelado em 2020, não tiveram o direito de recebê-lo este ano.