Haddad defende discussão com ‘sobriedade’ sobre INFLAÇÃO
Ministro da Fazenda faz declarações após críticas do presidente Lula à meta da inflação para 2023, que atrapalha o crescimento econômico do país
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (23) que a discussão sobre a inflação precisa acontecer com “sobriedade”. De acordo com ele, é preciso “ter tranquilidade” para enfrentar os desafios que a busca por uma taxa inflacionária baixa provoca.
A saber, Haddad fez as declarações em Buenos Aires, na Argentina, onde acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Aliás, as falas ocorreram após críticas do presidente sobre a meta para a inflação no Brasil em 2023.
Segundo Lula, a atual meta inflacionária atrapalha o crescimento econômico do Brasil. No entanto, o ministro acredita que deva haver discussões envolvendo todos os aspectos relacionados à inflação. Além disso, Haddad afirmou que que uma inflação baixa sempre é o cenário mais desejável.
“Tudo isso tem que ser ponderado, com sobriedade, e olhando para o mercado, olhando qual é o comportamento dos preços, qual a chance de a gente convergir pra uma inflação mais baixa, que é sempre o mais desejável, sobretudo pensando na parte mais vulnerável economicamente da população”, disse Haddad. “É ter tranquilidade em enfrentar esse tipo de discussão”, acrescentou.
O ministro ressaltou que as atenções voltadas à inflação podem ser mais expansivas. Em outras palavras, ele defendeu que não é necessário olhar apenas para a meta da inflação, mas também para os limites definidos para a taxa.
“Tem chance da gente pelo menos a gente estar dentro da banda, que é relativamente alta no Brasil, que é 1,5 [ponto percentual pra cima ou baixo]”, falou Haddad.
A propósito, o ministro está acompanhando o presidente Lula em uma série de agendas bilaterais e com empresários.
Lula critica atual meta da inflação
Na semana passada, o presidente Lula criticou a atual meta da inflação, de 3,25%. Em resumo, o petista afirmou que uma meta inflacionária baixa pressiona o Banco Central (BC) a elevar os juros no país. E um dos efeitos dessa ação é a desaceleração da atividade econômica brasileira.
“Você estabelecer uma meta de inflação de 3,7%, quando você faz isso, você é obrigado a arrochar mais a economia para poder atingir aqueles 3,7%. […] O que nós precisamos nesse instante é o seguinte: a economia brasileira precisa voltar a crescer”, disse Lula.
A saber, o Conselho Monetário Nacional (CMN) define uma meta central para inflação do país todos os anos. E cabe ao BC agir para cumprir essa meta, uma vez que a inflação controlada traz diversos benefícios.
Veja abaixo alguns desses benefícios:
- Maior tranquilidade para investir no Brasil;
- Mais previsibilidade econômica, permitindo um planejamento das indústrias;
- Redução da concentração de renda;
- Maiores chances para o país ter um crescimento econômico sustentável.
Para 2023, o CMN definiu uma meta central de 3,25% para a inflação brasileira, podendo variar entre 1,75% e 4,75%. Isso acontece porque a entidade também determina um intervalo de 1,5 ponto percentual (p.p.) para cima e para baixo para a taxa inflacionária.
Assim, valores dentro desse intervalo indicam que a inflação foi formalmente cumprida no país. Por isso que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que é preciso olhar os limites definidos, e não só a meta central da inflação.
Mercado repercute falas do presidente Lula
As declarações do presidente Lula deixaram o mercado nervoso. Isso porque muitos analistas entenderam estas falas como um indicativo de que o governo pode elevar a meta da inflação nos próximos anos.
Como dito anteriormente, é o CMN que define a meta inflacionária do país. E, para quem não sabe, o conselho é formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e Orçamento e pelo presidente do Banco Central.
Nesta segunda-feira, Fernando Haddad afirmou que os agentes econômicos estão confiantes com a atuação do Brasil. De acordo com ele, o país está convergindo para a meta inflacionária estabelecida. Por isso, o CMN precisa observar esse movimentos, segundo ele.
“Essa é uma coisa que tem que ser observada pelo CMN, observar qual é a projeção que os agentes econômicos estão fazendo para tomar decisão, todo mundo prefere inflação mais baixa do que mais alta”, disse Haddad.
Por fim, o BC também divulgou nesta segunda-feira as novas projeções de analistas de mais de 100 instituições financeiras sobre indicadores econômicos do país. Em resumo, a inflação em 2023 deve ficar em 5,48%, ou seja, a inflação deverá estourar pelo terceiro ano consecutivo a meta do país.