Na última terça-feira (22/09), pesquisadores de relevantes instituições da área climática participaram da audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o funcionamento do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima). O evento foi convocado pelo ministro Luís Roberto Barroso, relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 708.
Interesses nacionais
O pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) Beto Veríssimo destacou que o desmatamento é absolutamente desnecessário no atual momento da Amazônia. Nesse sentido, Veríssimo declarou: “A floresta tem um valor crescente do ponto de vista da prestação de serviços ambientais, seja no valor da sua biodiversidade, seja no seu potencial na bioeconomia”.
De acordo com o pesquisador, das áreas desmatadas, somente 10% estão sendo usados na agropecuária, 30% estão abandonados e 60% estão subaproveitados. “O mercado não quer produtos oriundos do desmatamento”, frisou.
Para Veríssimo, a solução passa por uma política de Estado que coloque os interesses nacionais acima das disputas ideológicas. “A conservação e o desenvolvimento sustentável deveriam obter o mesmo consenso que o Brasil alcançou com as políticas econômicas que levaram ao fim da hiperinflação. Diante disso, o pesquisador alegou que, em um mundo premido pelas mudanças climáticas, a conservação da Amazônia tem um papel chave para mitigar esses impactos e assegurar um papel estratégico para o Brasil como potência ambiental no século 21”.
Aquecimento inequívoco
A vice-presidente eleita do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), Thelma Krug, destacou que o relatório produzido pela entidade em 2014 confirma que o aquecimento do sistema climático é inequívoco e não tem precedentes em décadas. Alegou ainda que a interferência humana nesse sistema é considerada a causa dominante do aquecimento observado desde a metade do Século XX.
De acordo com a pesquisadora, estima-se um aquecimento de 1º Celsius devido às atividades humanas, podendo ser três vezes maior em certas áreas do planeta, como por exemplo, no Ártico.
A pesquisadora destacou que essa realidade causa impactos relevantes, tais como: secas, queimadas, surtos de pragas e aumento do volume do oceano. “A mudança do clima futuro será resultado da redução substantiva, sustentada e tempestiva das emissões de gás de efeito estufa em todos os setores da economia”, afirmou.
Desmatamento crescente
O coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) brasileiro e do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), Tasso Azevedo, declarou que atualmente o Brasil é quinto maior emissor de gases do efeito estufa no planeta, atrás apenas da China, dos EUA, da Rússia e da Índia.
No entanto, ao contrário desses países, que têm na queima de combustíveis fósseis a causa principal do problema, no Brasil, a maior fonte de emissão vem do desmatamento.
De acordo com o pesquisador, essa tendência havia se invertido entre 2005 e 2012, com a queda acentuada do desmatamento na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica, e se mantido estável entre 2013 e 2018.
Entretanto, os dados de 2019, ainda não fechados, indicam um aumento acima da meta fixada para 2020. Portanto, o pesquisador concluiu: “Como o desmatamento continua crescendo de forma crescente, mesmo sob os efeitos da pandemia, as emissões brasileiras devem crescer em 2020, e o Brasil não cumprirá a meta determinada em nossa política nacional de mudanças climáticas”.
Fonte: STF
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