O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), se reuniu nesta terça-feira (2) para definir os novos caminhos da política monetária do Brasil. O encontro de dois dias, que se encerra na quarta-feira (3), definirá a taxa básica de juros do país, a Selic.
A expectativa de analistas do mercado financeiro é que a taxa não tenha reajuste neste encontro e permaneça no mesmo patamar. Caso a previsão se confirme, a Selic seguirá em 13,75% ao ano, maior patamar desde novembro 2016.
Se o BC mantiver a taxa Selic no mesmo nível, essa será a sexta vez que isso acontecerá. Aliás, a manutenção da taxa Selic nesse nível irá suceder 12 avanços seguidos dos juros no Brasil, maior ciclo de aumento de juros já promovido pela entidade no Brasil.
Em resumo, o BC começou a apertar a política monetária no país em março de 2021, quando elevou pela primeira vez a taxa Selic. Daquele mês até agosto de 2022 houve apenas altas nos juros, que acabam corroendo a renda da população brasileira.
Ao atingir o maior patamar em quase seis anos, o BC entendeu que os juros estavam segurando a inflação no Brasil. Aliás, a taxa inflacionária, que chegou a superar 10% em 2021, perdeu força em 2022 e encerrou o ano abaixo de 6%. Ainda assim, ambas ficaram acima da meta definida para aqueles anos.
Inflação pressiona BC a manter juros estáveis
O principal objetivo do Copom ao elevar a Selic é segurar a inflação do país. Em suma, uma Selic mais alta puxa consigo os juros praticados no país, reduzindo o poder de compra do consumidor. Como consequência, desaquece a economia do país, limitando o avanço da chamada “inflação por demanda”.
Quando a Selic sobe, encarece o crédito, reduzindo a busca das pessoas por empréstimos. Dessa forma, o consumo tende a diminuir, uma vez que a população passa a ter menos dinheiro em mãos.
Como a demanda diminui, os preços começam a cair, desacelerando a inflação, mas isso só acontece com o tempo. Por isso que o BC ainda não reduziu a taxa Selic, apesar da desaceleração da inflação em 2022.
Aliás, é importante explicar que desaceleração não significa queda. Pelo contrário, os preços de bens e serviços subiram em 2023, ficando mais caros que em 2022. A diferença é que essa alta, em relação ao ano anterior, foi menor que a registrada em 2022, na comparação com 2021.
De todo modo, vale destacar que uma inflação controlada traz diversos benefícios para a economia do país, como:
- Maior tranquilidade para investir no Brasil;
- Mais previsibilidade econômica, o que permite um planejamento das indústrias;
- Redução da concentração de renda;
- Maiores chances para o país ter um crescimento econômico sustentável.
O problema é que a inflação, apesar da desaceleração observada em 2022, continua mais alta que o esperado no Brasil. Em meio a isso, a expectativa dos analistas é que o BC mantenha a taxa de juros estável mais uma vez.
Presidente Lula critica taxa Selic elevada
Os juros elevados ajudam a segurar a taxa inflacionária no país, mas a um custo bem alto. Isso porque a junção de juros e inflação elevados, como o que tem sido visto no Brasil, afeta diretamente a renda das pessoas.
Como a população passa a ter menos condições financeiras para manter o mesmo ritmo de consumo, a atividade econômica acaba se enfraquecendo. E é justamente esse ponto que tem gerado diversas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Durante a passagem de alguns dias em Portugal, há pouco mais de uma semana, Lula voltou a criticar a taxa de juros no Brasil, dizendo que ninguém pega dinheiro emprestado quando os juros estão muito elevados.
“Nós temos um problema no Brasil, primeiro-ministro, que Portugal não sei se tem. É que a nossa taxa de juros é muito alta. No Brasil, a taxa Selic, que é referencial, está em 13,75%. Ninguém toma dinheiro emprestado a 13,75%, ninguém. E não existe dinheiro mais barato”, disse Lula.
“E a verdade é que um país capitalista precisa de dinheiro, e esse dinheiro tem que circular. Não na mão de poucos, mas na mão de todos”, acrescentou o presidente.
De acordo com Lula, os juros devem recuar no Brasil para que o crédito seja estimulado. Na verdade, quanto mais alta a taxa de juros estiver, mais caro fica o crédito no país, e isso afugenta as pessoas. Como consequência, a economia brasileira tem mais dificuldades para crescer.
“É a gente garantir que os pobres possam participar. Porque quando eles virarem consumidor, vão comprar. Quando eles comprarem, o comércio vai vender. Quando o comércio vender, vai gerar emprego, vai comprar mais produto na fábrica. […] Mais emprego vai gerar mais salário, é a coisa mais normal de uma roda gigante da economia”, afirmou o presidente.