A pragmática é a área da linguística que analisa o uso concreto da linguagem em diferentes contextos. Ela vai além dos sentidos atribuídos pela semântica e pela sintaxe, que se dedicam à construção teórica.
O foco da pragmática é a interpretação da linguagem. Desse modo, leva em conta a linguagem falada e seus efeitos nos contextos culturais e sociais. Ela assinala que o significado linguístico depende da interação entre os interlocutores, dos elementos socioculturais envolvidos, do objetivo, dos efeitos e das consequências do uso.
Para a pragmática, é o uso da linguagem que dá sentido ao que é dito. É o ato de conversação que provoca o efeito. Portanto, seu estudo leva em conta a comunicação e o funcionamento da linguagem entre os interlocutores.
O contexto no qual a comunicação está inserida é essencial para a interpretação da mensagem transmitida. Nesse sentido, a pragmática é a intersecção entre o uso linguístico e o uso comunicativo.
Domínios estudados pela pragmática
A pragmática é a área que se debruça, principalmente, nos objetivos da comunicação. Ela absorve os conceitos de construção dos enunciados, presentes na sintaxe e os conceitos de significados, abordados pela semântica. Todavia, seu objeto é a análise dos discursos que ocorrem em diferentes contextos, bem como em situações comunicativas diversas.
O princípio da pragmática defende que não é possível fazer a interpretação de um enunciado baseado na informação linguística, uma vez que existe todo um conjunto de informações extralinguísticas, não linguísticas e contextuais que interferem na produção e interpretação de cada enunciado.
Todos os enunciados são produzidos tendo em vista a constatação de uma realidade. É o conjunto de conhecimentos culturais, sociológicos, psicológicos, ou influenciados por um conhecimento partilhado por locutor e interlocutor que permitem adaptar o que é dito em determinada situação.
A pragmática estuda três grandes domínios:
Indexicalidade – Abarca as questões da referência, a fim de dar conta dos processos em que os interlocutores usam para designar a própria situação comunicativa.
Atos de linguagem – Estudam as ações que os interlocutores realizam no ato de fala, bem como analisa o sentido do que foi dito.
Processos de inferência – Abordam as diferentes maneiras que levam os interlocutores a pressupor, a deduzir e a dar a entender sentidos diferentes dos enunciados, dizem explicitamente.
Conceituando a Pragmática
A pragmática enquanto campo de estudo tem como referência o semioticista e filósofo americano Charles Morris, que usou o termo pela primeira vez em 1938. Morris conceituou pragmática como o estudo da linguagem em uso.
Em 1997, Ferdinand de Saussure apontou que a pragmática leva em consideração a fala, a língua em uso. Além disso, ela estuda o sentido das palavras de acordo com o contexto extralinguístico em que ocorrem. Ou seja, a pragmática considera as relações extralinguísticas no processo de comunicação.
Seu estudo analisa a relação entre o sentido do enunciado, os interlocutores, bem como o contexto do discurso, o contexto situacional, o contexto social e a intenção dos interlocutores na transmissão da mensagem.
Desse modo, a pragmática estuda a linguagem na perspectiva de seus usuários, de suas escolhas, de suas restrições do uso da linguagem em interações sociais, bem como das consequências que o uso da linguagem tem sobre os demais integrantes do processo comunicativo.
O contexto define o sentido da mensagem
A pragmática estuda essencialmente os objetivos da comunicação e compreende o seu contexto como determinante para a interpretação da mensagem transmitida. A compreensão da mensagem depende, sobretudo, das condições de domínio da linguagem do interlocutor e do conjunto de conhecimentos linguísticos e extralinguísticos. São esses conhecimentos que permitem a adaptação daquilo que pode ser dito, a depender da situação.
Por exemplo, eles permitem identificar uma frase interrogativa como pergunta (Posso beber?) ou como pedido (Poderia trazer-me uma cerveja?); e uma frase declarativa como convite (Está um ótimo dia para ir à praia) ou como constatação (Está um bonito dia de sol).
O contexto também é importante na hora de transmitir a mensagem, pois a depender da situação, você pode usar várias formas de falar o que pretende. Por exemplo, ao agradecer é possível usar “valeu” (uma situação informal) ou pode-se usar “muito obrigada” (em uma ocasião mais formal).
A pragmática se debruça no estudo dos processos de inferência pelos quais se compreende o que está implícito. Obviamente, para que isso aconteça, é necessário que o interlocutor tenha conhecimentos extras, sobretudo, do contexto. A capacidade de entender qual foi a intenção do locutor é chamada competência gramatical.
Atos de fala
Os atos de fala ou atos elocutórios, na maioria das vezes, têm objetivos precisos. Um enunciado pode emitir juízo, expressar emoções, levar alguém a fazer algo, legitimar a realidade ou até criar realidade nova. Portanto, a linguagem tem uma função social.
Para avaliar os atos de fala é necessário se ater ao respectivo contexto de produção, à relação dos interlocutores, o espaço e o tempo, a referência do que é dito. O estudioso do campo da linguagem John Searle desenvolveu uma tipologia dos atos de fala. De acordo com Searle, os atos podem ser distribuídos da seguinte forma:
Assertivos – Sua marca linguística são os verbos declarativos. Os atos assertivos transmitem uma posição assumida pelo interlocutor.
Exemplo: Acredito que ele vai passar no vestibular.
Diretivos – Expressam ordens, pedidos, conselhos, sugestões através de frases imperativas. Os atos diretivos revelam a intenção de conduzir o interlocutor a agir segundo o que lhe é dito. Exemplo: Venha em minha sala, por favor.
Compromissivos – Tem como marca frases do futuro do indicativo e expressam o compromisso de o locutor realizar uma ação futura.
Exemplo: Se você não chegar até às 10h, eu irei para casa.
Expressivos – Expressam sentimentos, emoções, estados de espírito do locutor. Uma das características são frases exclamativas e com uso de advérbio.
Exemplo: Eu gosto muito de você.
Declarativos – Exprimem o poder de o locutor mudar a realidade pelo próprio ato de fala. Essa forma pode ser observada nos comunicados oficiais.
Exemplo: Amanhã não haverá expediente.
Declarativos assertivos – Expressam algo a ser seguido pelo interlocutor.
Exemplo: É imprescindível que traga todos os documentos.