TikTok vai ser banido dos Estados Unidos?

Audiência na Câmara dos Deputados dos EUA colocou em xeque a integridade dos dados de norte-americanos em posse da rede social

O governo dos Estados Unidos parece cada vez mais interessado em banir o TikTok de seu país. Na semana passada, o Comitê de Energia e Comércio da Câmara estadunidense realizou uma audiência com o CEO da rede social de vídeos curtos, Shou Zi Chew. O executivo passou por um interrogatório onde teve a árdua tarefa de defender a empresa frente a uma série de acusações, que vão de compartilhamento de dados com o governo chinês a danos na saúde mental de crianças e adolescentes.

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A presidente do comitê, a republicana Cathy McMorris Rodgers, abriu a audiência acusando o TikTok de espiar os norte-americanos e vender os dados para o Partido Comunista Chinês. Os dados seriam usados para manipular o país. “Não confiamos que o TikTok abrace os valores americanos. Sua plataforma deveria ser banida”, afirmou.  

O executivo diz entender as preocupações dos deputados, mas ressaltou que o TikTok não é uma empresa chinesa. Tanto ele quanto a rede social são de Singapura, no entanto, o grupo que a detém, a ByteDance, é sim uma empresa chinesa com sede em Pequim.  

Para evitar a correlação com o governo chinês, Chew anunciou o “Project Texas”, um plano para migrar todos os dados de usuários norte-americanos para os Estados Unidos, em posse de uma empresa norte-americana e com possibilidade de auditoria por parte do governo do país. 

Implicações de um possível banimento 

Para congressistas, no entanto, isso não seria o bastante para evitar o controle chinês sobre os dados dos usuários e a melhor solução seria o banimento da empresa ou a compra por uma companhia norte-americana. 

Guilherme Dias, publicitário especialista em marketing digital, diz que o banimento, caso ocorra, terá implicações significativas no cenário das redes sociais e afetará principalmente as empresas Meta, Google e Snap. 

De acordo com uma análise da Bernstein, caso o TikTok seja banido nos EUA, as empresas Meta, Google e Snap serão as principais beneficiárias dessa situação. A razão para isso é simples: essas três gigantes da tecnologia são as maiores concorrentes do TikTok no mercado de redes sociais e publicidade digital. 

A Meta, por exemplo, poderia aproveitar a oportunidade para promover ainda mais o Instagram, sua plataforma de compartilhamento de fotos e vídeos. O Google, por sua vez, poderia impulsionar o YouTube e seu recurso YouTube Shorts, que compete diretamente com o formato de vídeos curtos do TikTok. Por fim, a Snap, dona do Snapchat, também se beneficiaria com a ausência do TikTok, já que muitos usuários em busca de uma alternativa poderiam migrar para sua plataforma. 

Congressistas seriam hipócritas? 

Apesar dessa preocupação com o que o TikTok faz com seus dados, é preciso lembrar que o próprio governo dos Estados Unidos já fez parceria com big techs para capturar dados de usuários de outros países. Em 2013, o jornal britânico The Guardian revelou que a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos tinha acesso aos e-mails, conversas online e chamadas de voz de clientes de empresas como Facebook, Google, Microsoft e YouTube, incluindo brasileiros. 

Até mesmo a presidente do Brasil à época, Dilma Rousseff, e outros membros de seu governo foram vítimas da espionagem norte-americana. A captura dessas informações seria uma forma de garantir a segurança nacional dos Estados Unidos e impedir novos ataques terroristas. 

No entanto, o resultado dessas investidas foi o autoexílio de Edward Snowden, ex-agente da CIA (outra agência de espionagem do país) e quem revelou todo o esquema do governo. Ele não pode retornar aos Estados Unidos por risco de ser preso e hoje vive na Rússia, tendo inclusive recebido cidadania russa no ano passado. 

Cambridge Analytica 

Outro caso que merece discussão é o da Cambridge Analytica. Entre 2014 e 2018, a empresa pagou de usuários do Facebook para que eles fornecessem seus dados ao participar de uma pesquisa. Com esses dados e ainda os de amigos de quem participou da pesquisa, a empresa criou um sistema que permitiu predizer e influenciar as escolhas dos eleitores nas urnas, segundo a investigação dos jornais The Guardian e The New York Times. 

Esses dados influenciaram tanto o rumo do Brexit, plebiscito que decidiu a saída do Reino Unido da União Europeia, e na eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016, que resultou na vitória de Donald Trump. Resta saber a opinião da deputada Cathy McMorris Rodgers sobre o Facebook ser uma empresa com “valores americanos”, já que dados dos seus usuários foram usados para manipular o país no passado.

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