Sairá hoje, quarta-feira (2), a decisão sobre a taxa básica de juros da economia, a Selic. O anúncio será realizado pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A expectativa no mercado é praticamente unânime, de uma alta de 1,5%, o que levaria os juros a 10,75 pontos percentuais ao ano, um retorno aos dois dígitos após cinco anos.
As estimativas de crescimento para a taxa Selic estão atreladas ao combate da autarquia contra a inflação, que fechou 2021 em 10,06%, muito acima do teto da meta do ano passado, de 5,25%, e no maior nível desde 2016. Entretanto, esta será a oitava alta consecutiva, com a taxa de juros se distanciando cada vez mais do patamar historicamente baixo de 2%, que vigorou entre agosto de 2020 e janeiro de 2021.
Segundo especialistas, os riscos fiscais, a persistência do processo inflacionário e as incertezas externas, alimentam a perspectiva de alta, ao mesmo tempo, em que o cenário aponta para uma continuidade do processo de elevação por mais algumas reuniões.
Foram consultados 11 bancos e associações, entre eles: Itaú, Banco UBS, Toro Investimentos, Genial Investimentos, BTG Pactual, MB Associados, XP Investimentos, Ativa, ABBC, Suno Research e LCA, a respeito da projeção da alta da inflação. Todos projetam uma alta para 10,75%, assim como os agentes de mercado consultados no Relatório Focus divulgado na última segunda-feira (31).
Quais são os motivos?
Tanto o Copom, quanto o mercado citam causas semelhantes para esse cenário. A principal, de acordo com Gustavo Sung, analista da Suno Research, é o atual quadro fiscal do país, que continua a assustar o mercado desde a leitura no segundo semestre do ano passado de que o governo estaria disposto a desrespeitar o teto de gastos.
Ainda para Yihao Lin, analista da Genial Investimentos, a incerteza sobre o reajuste salarial de servidores e o anúncio do governo de querer congelar impostos sobre combustíveis, com a chamada PEC dos combustíveis, também contribuem para os riscos existentes ao arcabouço fiscal.
Depois do resultado do IPCA-15, que indicou um grau “elevado” de disseminação da inflação na economia, Yihao Lin também avalia que o comitê deve considerar um cenário em que a inflação ainda não desacelerou como previsto.
Outros fatores que afetam a inflação, são as questões climáticas que já afetaram a produção de alimentos no começo de 2022, e há a expectativa de que quebras de safra na soja e feijão continuem a pressionar os preços nessa área, segundo a MB Associados.
A alta de combustíveis deve ser outra preocupação, agora refletindo também nos preços do transporte público.
Taxa Selic e inflação
O principal objetivo do Comitê é conseguir trazer inflação para dentro das metas de 2022 e 2023, que são de 3,5% e de 3,25% ao ano, respectivamente, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Em relação à taxa Selic, uma expectativa mais consensual, é que o comunicado do Copom nesta quarta-feira não faça referência a altas “na mesma magnitude” em relação às reuniões de fevereiro e dezembro.
Segundo o levantamento da BGC Liquidez, o mercado ainda está dividido sobre o conteúdo do comunicado. Para 40%, o texto deve sinalizar uma futura desaceleração explicitamente, enquanto 30% esperam a manutenção de trechos sem alteração, com uma “tentativa de ser neutro”.
Apesar disso, Everton Pinheiro de Souza Gonçalves, superintendente da Assessoria Econômica da ABBC (Associação Brasileira de Bancos), considera que o processo de desinflação em 2022 pode ser facilitado pelas consequências da Selic elevada.