A reforma dos planos de saúde é um tema que tem sido discutido há bastante tempo no Congresso Nacional. Com mais de 270 propostas sobre saúde complementar, o Projeto de Lei (PL) busca alterar a Lei dos Planos de Saúde de 1998, que estabelece as regras de prestação de serviço e de cobrança por parte dos convênios médicos. A expectativa é que a matéria seja votada ainda em setembro, mas a negociação não será fácil, uma vez que há interesses divergentes entre os consumidores, que buscam serviços de qualidade a preços justos, e as operadoras de planos, que enfrentam dificuldades financeiras.
O que é a Reforma dos Planos de Saúde?
O PL 7419, de 2006, é a base da reforma dos planos de saúde e tem como objetivo alterar toda a estrutura legal do mercado de saúde suplementar, flexibilizando as regras para os planos de saúde. O relator destacou os pontos prioritários da proposta, que incluem a adoção do prontuário único entre o Sistema Único de Saúde (SUS) e a rede privada, a proibição da rescisão unilateral do contrato, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos planos de alta gestão e a criação do Fundo Nacional das Doenças Raras. O foco do projeto é o consumidor final, buscando melhorar a qualidade e eficiência dos serviços de saúde.
Entenda o que é o Prontuário Único
Um dos pontos importantes da reforma dos planos de saúde é a obrigatoriedade do compartilhamento de informações relativas ao histórico de saúde de pacientes atendidos no SUS com a rede privada de saúde. A ideia é que as informações fiquem registradas em um banco de dados, alimentado tanto pela rede pública quanto pela particular, e que ambos tenham acesso ao Prontuário Único. Essa medida tem o objetivo de melhorar a eficiência dos atendimentos, garantindo que os dados dos pacientes sejam mais completos e de qualidade, facilitando o diagnóstico e o tratamento adequado.
Riscos da Reforma dos Planos de Saúde
Apesar do objetivo de unificar os dados de saúde dos pacientes, há preocupações quanto ao uso dessas informações. É importante ressaltar que o histórico de saúde de um paciente não pode ser utilizado como critério para seleção de risco ou para negar qualquer tipo de atendimento. Existem legislações, como a Lei dos Planos de Saúde de 1998 e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) de 2018, que já proíbem esse tipo de conduta. É fundamental que as informações sejam utilizadas de forma correta e responsável, garantindo a privacidade e a segurança dos pacientes.
Rescisão Unilateral dos Contratos
Outro ponto abordado na reforma dos planos de saúde é a proibição da rescisão unilateral dos contratos. Isso significa que as seguradoras não poderão cancelar um plano sem o consentimento do cliente, evitando que pacientes em necessidade sejam expulsos dos convênios. Essa medida visa garantir que todos tenham acesso aos planos privados de saúde, independentemente de idade, deficiência, doença grave ou rara, etnia, cor, condição socioeconômica, situação familiar, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, religião, crença, posicionamento ideológico ou político. A suspensão do plano só poderá ocorrer em casos de fraude ou não pagamento da mensalidade por período superior a 60 dias consecutivos, e o inadimplente será informado a cada 20 dias sobre o risco de corte antes do cancelamento definitivo do plano.
Como Registrar Queixas contra os Planos de Saúde
A reforma dos planos de saúde também prevê a aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos planos de alta gestão, permitindo que o Procon fiscalize os reajustes das mensalidades. A ideia é garantir a razoabilidade nas cobranças, evitando reajustes desproporcionais e abusivos. Atualmente, os consumidores que se sentirem lesados ou precisarem de informações podem entrar em contato com o Procon ou com a Agência Nacional de Saúde (ANS) para pedir orientações ou registrar reclamações. Esses órgãos estão disponíveis para proteger os direitos dos consumidores e garantir a qualidade dos serviços prestados pelos planos de saúde.
Fundo Nacional das Doenças Raras
Um ponto de destaque na reforma dos planos de saúde é a criação do Fundo Nacional das Doenças Raras, que será composto por recursos públicos e privados para o financiamento de terapias de alto custo relacionadas ao tratamento de doenças raras. Essa proposta pressupõe o compartilhamento de riscos entre o setor público e o privado. No entanto, é importante avaliar os impactos dessa medida, uma vez que os subsídios públicos ao setor da saúde suplementar já são significativos e a criação de mais um mecanismo de transferência de riscos pode aprofundar as desigualdades entre os setores público e privado.
Importância da reforma
A reforma dos planos de saúde é um assunto complexo e de grande importância para a sociedade. É fundamental que as mudanças propostas levem em consideração os interesses dos consumidores e garantam a qualidade e a acessibilidade dos serviços de saúde. A adoção do prontuário único, a proibição da rescisão unilateral dos contratos, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor e a criação do Fundo Nacional das Doenças Raras são medidas que buscam melhorar o sistema de saúde suplementar e oferecer mais segurança e proteção aos pacientes. No entanto, é importante que essas mudanças sejam acompanhadas de um debate amplo e transparente, envolvendo todos os atores envolvidos, para que sejam tomadas as melhores decisões em benefício da sociedade como um todo.