A pandemia da covid-19 impactou a economia mundial nos últimos anos. A crise sanitária empurrou milhões de pessoas no Brasil para níveis de pobreza cada vez mais intensos, corroendo a renda da população e dificultando a vida das pessoas.
De acordo com um estudo publicado por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), a pobreza social atingiu 64,6 milhões de pessoas no Brasil em 2021.
Com isso, o percentual de pessoas nessa condição chegou a 30,4%, ou seja, três em cada dez brasileiros sofreram com a pobreza social em 2021. Em resumo, esse é o maior nível já registrado pela série histórica, que teve início em 2012.
O patamar ficou muito elevado porque houve um acréscimo muito significativo de pessoas nessa situação. A saber, entre 2020 e 2021, 11,7 milhões de pessoas entraram em situação de pobreza social no Brasil. E isso impulsionou expressivamente os números.
Confira abaixo a evolução da população em situação de pobreza social no Brasil nos últimos anos:
- 2012: 56,7 milhões;
- 2013: 52,9 milhões;
- 2014: 50 milhões;
- 2015: 52,2 milhões;
- 2016: 57,1 milhões;
- 2017: 55,7 milhões;
- 2018: 55,3 milhões;
- 2019: 55,1 milhões;
- 2020: 52,9 milhões;
- 2021: 64,6 milhões.
Os dados acima mostram que a maior quantidade de pessoas em situação de pobreza social havia sido registrada em 2016. Aliás, os números nunca haviam chegado a 60 milhões, mas superou significativamente essa marca em 2021.
Em suma, isso aconteceu devido aos fortes impactos provocados pela pandemia da covid-19. Ao mesmo tempo em que a crise sanitária acabou com milhões de empregos em todo o planeta, ela também pressionou a inflação global, provocando uma recessão mundial em 2020.
Assim, muita gente acabou empurrada para níveis cada vez mais intensos de pobreza. E os dados do levantamento de pesquisadores da PUC-RS só confirmam isso.
Pobreza atinge Nordeste e Norte do Brasil
Segundo o estudo, alguns grupos sofreram mais fortemente com a pobreza social no Brasil. Em síntese, os negros e os moradores das regiões Norte e Nordeste do país acabaram sendo mais atingidos por esse cenário.
Veja a taxa de pobreza social no Brasil em 2021:
- Pretos, pardos e indígenas: 38,9%;
- Brancos: 19,4%.
O percentual de pobres entre pretos, pardos e indígenas foi duas vezes mais elevado que o de brancos. Esse quadro acaba se repetindo sempre que há pesquisas focando nos impactos sofridos entre as diferentes cores e raças do país.
Da mesma forma, quando os levantamentos analisam os dados obtidos em cada região brasileira, os resultados geralmente indicam que as dificuldades são mais intensas em algumas regiões específicas.
Confira as taxas de pobreza social em cada região brasileira em 2021:
- Nordeste: 36,4%;
- Norte: 33,9%;
- Sudeste: 29%;
- Centro-Oeste: 28,4%;
- Sul: 24%.
Em resumo, as regiões Nordeste e Norte apresentaram as maiores taxas de pobreza social do país. Aliás, estas foram as únicas regiões a registrarem taxas superiores à média nacional. Por outro lado, o Sul teve o menor percentual do país, bem inferior às taxas das demais regiões.
“O Brasil é um país em que as desigualdades são marcadas por disparidades não apenas funcionais ou educacionais, mas também regionais e de raça, o que torna o fenômeno ainda mais complexo para ser enfrentado”, disse Ely Mattos, coordenador do PUCRS Data Social.
Mulheres também são maioria
O levantamento também comparou a proporção de mulheres e homens em situação de pobreza social no Brasil em 2021.
Na verdade, em toda a série histórica, desde 2012, o percentual de mulheres nesta condição superou o de homens, exceto em 2018. À época, a taxa entre mulheres ficou 0,07 ponto percentual abaixo da observada entre homens.
Vale destacar que, apesar de a taxa de pobreza social ser maior entre as mulheres, a diferença é relativamente pequena, segundo os dados da pesquisa.
“Isso acontece porque o cálculo das taxas de pobreza é feito com base na renda da família onde os indivíduos estão inseridos. Dessa forma, se a família é considerada pobre de acordo com determinado critério, todos os seus membros serão assim classificados, independentemente de seu sexo”, informou o estudo.
“Mesmo assim, a taxa de pobreza tende a ser ligeiramente maior para as mulheres. Em 2021, por exemplo, enquanto 31,2% das mulheres se encontravam em situação de pobreza social, entre os homens essa cifra era de 29,6%.”
Entenda a pequisa sobre pobreza social
Por fim, o cálculo do estudo considera a renda domiciliar per capita, o que inclui rendimentos de trabalho formal ou informal. Também entram nos rendimentos algumas fontes como seguro-desemprego, aposentadorias e programas de transferência de renda.
Seja como for, a pesquisa considerou alguns conceitos, cujos valores de média nacional em 2021 eram os seguintes:
- Linha de Pobreza Social: R$ 502,07;
- Linha de Pobreza Extrema: R$ 182,82;
- Linha de Pobreza Absoluta: R$ 582,47;
- Linha de Pobreza Relativa: R$ 404,29.
Embora esses sejam valores nacionais, o estudo considerou as diferenças regionais. Assim, a linha de pobreza social em São Paulo englobava as pessoas com renda per capita de R$ 647,79 em 2021. Por sua vez, no Maranhão, o valor era bem menor, de R$ 297,79.
“Isso acontece porque a medida que utilizamos considera em situação de pobreza não apenas aqueles com renda abaixo de um valor definido, mas também aqueles cujo poder de consumo está muito abaixo do morador mediano de determinada região em um dado período. Nesse sentido, é uma taxa de pobreza social, que leva em conta também as desigualdades”, explicou o estudo.po