O Brasil já vem lidando há tempos com a alta no preço dos combustíveis devido ao avanço da inflação no país. Além disso, atualmente vem ocorrendo alguns temores recentes, de que venha a faltar diesel no país.
No fim de maio, tornou-se pública uma reunião em que a Petrobras levou ao governo a informação de que havia risco de desabastecimento de diesel no país. De acordo com o divulgado, isso poderia acontecer caso a empresa não praticasse por aqui os preços de mercado internacional.
A preocupação é resultado de um impasse: para conter os preços dos combustíveis, a Petrobras tem desrespeitado a política de paridade de importação (PPI), atrasado os reajustes e permitido que o valor final fique abaixo da média praticada no exterior.
E, ao vender diesel por preço menor que o mercado, a petroleira desestimula empresas importadoras a trazer diesel de fora. Isso porque, para elas, é preciso vender com prejuízo para competir com a Petrobras. Em momentos de alta demanda pelo combustível, cerca de 30% do abastecimento é preenchido pelo diesel importado.
Sem esse esforço da empresa, o Brasil se vê com duas possibilidades diferentes. O governo federal pode encarar a explosão dos preços por falta de produto (com reforço da inflação em toda a cadeia), ou então a pode forçar a Petrobras a assumir o prejuízo na importação, prejudicando a estratégia da própria empresa.
Porque da alta no preço do diesel
Desde 2016, ainda na gestão de Pedro Parente, a Petrobras adotou o preço de paridade de importação (PPI) para definir o preço da gasolina e diesel nas refinarias. O PPI é orientado pelas flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional e pelo câmbio.
Devido a pandemia do coronavírus, os combustíveis sofreram seguidos choques com o aumento dos preços do petróleo no mercado internacional e também com o real desvalorizado frente ao dólar. Em 2022, a guerra na Ucrânia e as sanções ao petróleo da Rússia reforçaram ainda mais a pressão de inflação sobre os combustíveis.
Mesmo com reajustes mais esporádicos, os três presidentes da Petrobras da gestão de Jair Bolsonaro seguiram a lógica de mercado para definição dos preços. Em 12 meses, o diesel acumula alta de 53,5% e a gasolina de 31,2%, segundo o IBGE.
Vai faltar diesel no país?
É difícil ter uma resposta concreta para esta questão, pois os dados de estoque das empresas não são públicos. No dia 27 de maio, o Ministério de Minas e Energia afirmou que o país tinha suprimento suficiente para 38 dias.
De acordo com especialistas, essa quantia é adequada. As empresas não fazem grandes estoques de combustível porque há custo para o armazenamento do diesel e o valor mais alto do combustível no mercado internacional também desacelera as compras.
“Esse estoque [de diesel] serve para eventuais problemas de ruptura de fornecimento ou demanda muito grande por conta de algum choque”, explica Helder Queiroz, ex-diretor da ANP e professor de economia da UFRJ.