Influências de sarcasmo e ironia na literatura

Estilos de linguagem que dão toque “ácido” à frase

Sarcasmo e Ironia são formas de expressar uma afirmação com sentido conotativo, ou seja, figurativo. Essas palavras derivam do grego. Sarcasmo vem de sarkasmós, que significa zombaria e escárnio (sarx=carne e asmo= queimar). Já ironia significa “perguntar fingindo não saber a resposta”, “disfarce” ou “dissimulação”. O curioso é que essa palavra já foi usada, antigamente, para referir-se à ignorância ou desconhecimento sobre algo.

Desde o período aristotélico sarcasmo e ironia já eram registrados nos discursos. O filósofo Aristóteles usava esses artifícios de linguagem ao fingir não entender a ideia expressa pelo interlocutor, confrontando-o até que chegasse a uma contradição na fala.

A gramática explica sarcasmo e ironia como figuras de linguagem usadas fora do seu real significado, que expressam um tom de deboche. A diferença entre sarcasmo e ironia é que enquanto o primeiro é dito em tom malicioso e ríspido, o segundo é uma frase contraditória que geralmente tem sentido de humor.

De acordo com estudos de Harvard Business School, o sarcasmo é uma “forma elevada de criatividade” visto que o cérebro precisa ser mais criativo do que o normal para conseguir dar resposta rápida.

No cotidiano, sarcasmo e ironia estão presentes nas falas de muitas pessoas. O sarcasmo é uma forma de provocação. Enquanto função de linguagem, tem objetivo de desprezar a pessoa envolvida no contexto da frase. Para muitas pessoas seu uso está relacionado à falta de educação e má intenção. Já a ironia é mais usada e facilmente aceita em relação ao sarcasmo, pois expressa, com humor, o oposto do que o interlocutor pretende dizer.

Nem todas as pessoas conseguem entender sarcasmo e ironia em uma frase, o que muitas vezes causam conflitos de oratória e más interpretações textuais. Por isso, quando o interlocutor utilizar esse artifício deve ter certeza de que o receptor da mensagem estará prestando atenção à sua fala.

A pessoa considerada sarcástica usa essa figura de linguagem para emitir uma opinião ou comentário com tom zombador ou ofensivo. É o tipo de sujeito que sempre tem uma “piada ácida” para dizer. Essa forma de expressão não é bem aceita por algumas pessoas. Já a pessoa considerada irônica expressa-se por meio de declaração contraditória, muitas vezes, dita com humor.

Frases de sarcasmo e ironia

Sarcasmo: “Eu acho que a televisão é muito educativa. Sempre que alguém liga o aparelho, eu vou para outra sala e leio um livro.” (Groucho Marx)

Ironia: “Ele estudou tanto que tirou zero na prova.”

Nessa frase a ironia está na contradição entre a nota tirada na prova e o comportamento do aluno, pois quando uma pessoa estuda muito o resultado esperado é que ela tire uma nota boa.

Sarcasmo: “Eu nunca esqueço uma cara, mas no seu caso eu tenho o prazer em abrir uma exceção.” (Groucho Marx)

Ironia: “Eu fico feliz quando ela não me responde no WhatsApp.”

A ironia fica clara nesse enunciado porque quando alguém manda uma mensagem para outra espera, no mínimo, ser respondido. Logo, se a mensagem foi enviada e não houve resposta, o interlocutor da frase não está satisfeito.

Sarcasmo: “Uma consciência tranquila normalmente é um sinal de má memória.” (Steven Wright)

Sarcasmo e ironia na literatura

Sarcasmo e ironia estão presentes em várias obras literárias no mundo, sendo mais encontrados em obras do gênero textual do tipo crônica. Uma referência nesse segmento é o escritor e dramaturgo irlandês Oscar Wilde, considerado especialista em utilizar sarcasmo e ironia, influenciando diversos autores contemporâneos.

Outro nome famoso na literatura, o português Eça de Queiroz (1845 – 1900) foi considerado o “mestre da ironia”. Aliando modernidade e contemporaneidade, Eça de Queiroz buscava denunciar a sociedade por meio da linguagem escrita, que aproximava–se da fala. Ele deixou como legado diversas obras como “O Primo Basílio” e “O Crime do Padre Amaro”. Por meio da sua literatura ele usava sarcasmo e ironia para criticar a sociedade, mesmo nos romances realistas.

As obras mais famosas do escritor português Eça de Queiroz são: O Mandarim (1880), A Relíquia (1887), Os Maias (1888), Correspondência de Fradique Mendes (1900), A Cidade e as Serras (1901), Notas Contemporâneas (1909), além dos já mencionados O Crime do Padre Amaro (1876) e O Primo Basílio (1878).

No cenário brasileiro, o escritor Rafael Sperling aposta no sarcasmo em sua obra “Um homem burro morreu”, em formato de um livro de contos. No decorrer de 27 contos, o autor destaca elementos irônicos e provocadores nas narrativas inverossímeis, que tornam-se plausíveis no contexto de sarcasmo e ironia.

O sarcasmo de Voltaire

O filósofo iluminista francês Voltaire é descrito por historiadores como um sarcástico, que foi preso na Bastilha por causa de sua ironia.

Conta-se que ao chegar a Paris, Voltaire soube que o regente que governava a França vendeu metade dos cavalos dos estábulos reais para equilibrar a economia. O filósofo, então, comentou, ironicamente, que a economia seria muito maior se o regente despedisse metade dos “asnos” que atulhavam a corte real.

Por esse e outros deboches, o sarcasmo de Voltaire foi considerado como “a mais terrível de todas as armas intelectuais jamais brandidas por algum homem”. Suas obras literárias foram proibidas pela Igreja e pelo Estado, na época, por tratar de assuntos polêmicos com sarcasmo e ironia.

Sarcasmo e ironia na série Black Mirror

Série britânica de ficção científica, popular entre quem gosta de tecnologia, Black Mirror narra temas contemporâneos criticando, de forma subliminar, as consequências das novas tecnologias nas relações da sociedade.

Cada episódio traz uma série autônoma, com personagens e cenários diferentes. Como característica, Black Mirror traz discursos irônicos para ilustrar a melancolia dos seus personagens.

A série ganhou o prêmio de Melhor Filme/Minissérie da TV no International Emmy Awards, em 2012. Um ano depois, o jornal The A.V. Club colocou a série em sua lista de “Melhores de 2013”.

Em junho de 2017, o criador de Black Mirror, Charlie Brooker, anunciou uma série de livros baseados na sua série televisiva, sendo essa coletânea composta por histórias satíricas, que atingem o desconforto coletivo em relação ao mundo moderno.

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