Os analistas do mercado financeiro elevaram mais uma vez as estimativas para a inflação do Brasil em 2023. De acordo com o relatório Focus, que traz estimativas de analistas de mais de 100 instituições financeiras sobre indicadores econômicos do país, a taxa inflacionária deverá estourar a meta novamente em 2023.
Neste ano, o Brasil deverá ter uma inflação de 5,78%, taxa superior à projetada na semana passada (5,74%). Em resumo, esse avanço reflete o pensamento dos analistas, que se mostraram um pouco mais pessimistas nesta atualização do relatório Focus.
Aliás, o avanço é o oitavo consecutivo, refletindo a alta gradual das incertezas em relação à inflação do país. A propósito, o Banco Central (BC), responsável pelo levantamento, divulgou as novas estimativas dos analistas nesta segunda-feira (6).
Vale destacar que essas projeções deixaram a taxa inflacionária ainda mais distante da meta para este ano. E isso não é um dado positivo para o Brasil, que busca uma taxa abaixo da meta da inflação, cumprindo a meta definida.
Meta da inflação em 2023
O Conselho Monetário Nacional (CMN) define uma meta central para inflação do país anualmente. A partir destes dados, o BC age para cumprir a meta definida, uma vez que a inflação controlada traz diversos benefícios para o Brasil. Veja abaixo alguns desses benefícios:
- Maior tranquilidade para investir no Brasil;
- Mais previsibilidade econômica, permitindo um planejamento das indústrias;
- Redução da concentração de renda;
- Maiores chances para o país ter um crescimento econômico sustentável.
Para 2023, o CMN definiu uma meta central de 3,25% para a inflação brasileira, podendo variar entre 1,75% e 4,75%. Isso acontece porque a entidade também determina um intervalo de 1,5 ponto percentual (p.p.) para a taxa inflacionária, para cima e para baixo. Assim, valores dentro desse intervalo indicam que a inflação foi formalmente cumprida.
Contudo, os analistas não acreditam que o Brasil cumprirá a meta. Caso isso realmente aconteça, a inflação irá estourar a meta pelo terceiro ano consecutivo, algo bastante negativo para a população, que sofre para comprar produtos e contratar serviços ainda mais caros que em 2022.
Inflação perde força no Brasil
Em 2020, a pandemia da covid-19 impactou as cadeias globais de suprimentos, afetando toda a logística mundial. Isso reduziu a oferta, apesar de a demanda começar a se recuperar em 2021.
O resultado desse cenário foi o aumento expressivo dos preços de bens e serviços, uma vez que a procura estava maior que a oferta. E, quanto mais elevada a inflação, maior o custo de vida da população.
Como a pandemia também provocou a perda de milhões de empregos em todo o mundo, as pessoas não conseguiram manter os mesmo hábitos de consumo. Em suma, a redução na renda e a elevação da inflação dificultou a vida de milhões de pessoas.
Em 2022, as cadeias globais de suprimentos, que começavam a se estabilizar, sofreram um novo golpe: a guerra entre Rússia e Ucrânia. Isso fez os preços de diversos itens dispararem, principalmente o das commodities.
Para segurar a inflação, os Bancos Centrais passaram a elevar os juros com mais intensidade em 2022. No Brasil, o BC elevou 12 vezes consecutivas o juro da economia entre março de 2021 e agosto de 2022. Com isso, a taxa Selic chegou a 13,75% ao ano, maior patamar desde 2016.
Aliás, a alta dos juros ajudou a segurar a inflação no país em 2022. No entanto, os impactos de uma Selic mais elevada costumam ser vistos com maior nitidez apenas um ou dois anos após os aumentos. Por isso, a inflação do Brasil, que já perdeu força no ano passado, deverá cair ainda mais neste ano e em 2024.
Estimativas para o PIB brasileiro recuam
O relatório Focus também revelou as novas projeções dos analistas sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Nesta semana, o mercado financeiro reduziu levemente as projeções para o crescimento da economia brasileira em 2023, de 0,80% para 0,79%.
A saber, este recuo sucede duas altas consecutivas, que indicavam maior otimismo dos analistas do país. No entanto, as novas estimativas desta semana refletem uma leve piora desse sentimento.
Já para 2024, as projeções se mantiveram estáveis em 1,50% pela sexta semana consecutiva, ou seja, o PIB brasileiro deverá crescer mais expressivamente no ano que vem, uma vez que os impactos da inflação deverão estar bem menores no país.
Por fim, os analistas estimaram que a taxa Selic ficará em 12,50% ao ano em 2023. Esse indicador se refere à taxa básica de juro da economia brasileira. Já para o ano que vem, a taxa Selic deverá ficar em 9,75%, patamar ainda elevado e que continuará afetando a renda dos brasileiros.