A produção industrial brasileira cresceu 0,1% em setembro de 2023, na comparação com o mês anterior. O resultado positivo foi o segundo consecutivo, sucedendo a alta de 0,4% observada em agosto, mas não conseguiu mudar o saldo negativo acumulado em 2023.
Em resumo, a indústria brasileira vem enfrentando dificuldades para crescer desde o final de 2022. Neste ano, o setor industrial cresceu em cinco dos nove primeiros meses, mas todos os resultados foram tímidos, refletindo a perda de fôlego do setor.
A produção industrial nacional não está conseguindo crescer no início do governo Lula. Contudo, com o acréscimo do resultado de setembro deste ano, a indústria reduziu a distância para o nível observado em fevereiro de 2020, último mês antes da decretação da pandemia da covid-19.
Na prática, a atividade industrial do país está 1,6% abaixo do nível pré-pandemia. Isso quer dizer que as perdas provocadas pela crise sanitária na indústria brasileira não foram recuperadas.
Além disso, vale destacar que a indústria brasileira está 18,1% abaixo do nível recorde registrado em maio de 2011. A distância ficou um pouco menor após a alta registrada em setembro, visto que a diferença era de 18,3% no mês anterior.
Os dados fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A série histórica teve início em janeiro de 2002 e, de lá pra cá, informa o desempenho da produção industrial do país mensalmente.
Apenas 5 dos 25 ramos pesquisados sobem no mês
De acordo com a PMI, apenas 5 dos 25 ramos industriais registraram resultados positivos em setembro. Entre as quatro grandes categorias econômicas pesquisadas pelo IBGE, apenas uma fechou o mês em alta, na comparação com agosto.
O gerente da pesquisa, André Macedo, explicou que, apesar do crescimento limitado a poucos segmentos, os avanços foram mais importantes que as quedas. Por isso, a indústria brasileira subiu em setembro, mesmo com a disseminação das quedas.
“O resultado de setembro da produção industrial nacional marca o segundo mês seguido de crescimento, mas não altera o comportamento de menor dinamismo que a caracteriza nos últimos meses. Para além disso, no índice desse mês, observa-se predomínio de taxas negativas, alcançando três das quatro grandes categorias econômicas e 20 dos 25 ramos industriais investigados“, disse o pesquisador.
Entre as atividades que subiram em setembro, as que exerceram os principais impactos positivos na produção industrial brasileira foram, respectivamente:
- Indústrias extrativas: 5,6%;
- Produtos químicos: 1,5%;
- Produtos de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis: 0,5%.
Entre as quatro grandes categorias econômicas, bens intermediários (0,3%) foi a única a crescer em setembro. Assim, interrompeu quatro meses seguidos de queda, período em que acumulou perda de 1,4%, ou seja, a alta eliminou apenas uma parte do recuo observado nos últimos meses.
Indústrias extrativas impulsionam taxa nacional
Em síntese, as indústrias extrativas tiveram a maior influência na indústria em setembro, impulsionando o resultado nacional. Aliás, o avanço de 5,6% eliminou toda a perda acumulada entre julho e agosto (-5,6%).
“O setor de indústrias extrativas, para além da baixa base de comparação, visto que vinha de duas quedas em sequência, ainda foi favorecido pela maior extração de petróleo e minérios de ferro nesse mês. Esse segmento representa aproximadamente 15% da indústria total e exerce o principal impacto positivo no consolidado do ano“, explicou o gerente da pesquisa.
Atividades caem e limitam avanço do setor industrial
O IBGE revelou que 20 dos 25 ramos tiveram queda em sua produção em setembro. Confira abaixo os principais resultados negativos do mês:
- Produtos farmoquímicos e farmacêuticos: -16,7%;
- Máquinas e equipamentos: -7,6%;
- Veículos automotores, reboques e carrocerias: -4,1%.
O maior impacto foi exercido pela indústria farmacêutica, que interrompeu dois meses de alta. “Pelo lado da indústria farmacêutica, esse setor caracteriza-se pela alta volatilidade. Quedas e avanços elevados em sequência são comuns ao longo da série. Para além disso, o recuo de dois dígitos desse mês guarda relação importante com o avanço de 30,2% acumulado nos meses de julho e agosto de 2023“, explicou Macedo.
O coordenador ainda falou que os outros ramos que exerceram fortes impactos negativos na indústria brasileira em setembro haviam subido fortemente em agosto. Em suma, o setor industrial vem apresentando essa característica ao longo do ano, de quedas e avanços que se eliminam.
“Isso também acontece com a indústria geral e fica bem caracterizado quando comparamos o patamar de setembro de 2023, que é o mesmo de maio desse ano, com o de dezembro de 2022: verifica-se um saldo positivo de somente 0,3%. Ou seja, passados 9 meses de 2023, a indústria só avançou 0,3% frente ao patamar que havia encerrado o ano de 2022“, disse.
Indústria brasileira acumula queda em 2023
Segundo o pesquisador André Macedo, existem dois principais fatores que vêm limitando o crescimento da indústria brasileira em 2023: crédito caro e elevada taxa de inadimplência. A combinação destes pontos está pressionando tanto os investimentos quanto o consumo no país.
“Em linhas gerais, taxa de juros elevada, mesmo com o movimento de redução verificado nos últimos meses, nos ajuda a entender esse comportamento do setor industrial, com influência direta sobre as decisões de investimento, por parte das empresas, e de consumo, por parte das famílias. Para além disso, explica o crédito ainda caro e as elevadas taxas de inadimplência“, explicou Macedo.
No acumulado entre janeiro e setembro deste ano, a produção da indústria brasileira encolheu 0,2%. Em suma, o resultado foi provocado pela queda de duas das quatro grandes categorias econômicas, bem como de 17 dos 25 ramos, 52 dos 80 grupos e 56,8% dos 789 produtos pesquisados.
Nessa base comparativa, os principais impactos negativos vieram, respectivamente, de:
- Produtos químicos: -7,2%;
- Veículos automotores, reboques e carrocerias: -5,8%;
- Máquinas e equipamentos: -6,9%;
- Máquinas aparelhos e materiais elétricos: -11,1%;
- Produtos de minerais não metálicos: -7,4%;
- Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos: -9,2%;
- Confecção de artigos do vestuário e acessórios: -8,9%.
Por outro lado, os principais destaques positivos em 2023, que reduziram a queda do setor, foram as indústrias extrativas (6,0%), os produtos de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (4,8%) e os produtos alimentícios (3,9%).