Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro (PL) gerou polêmica ao insinuar que não há fome no Brasil como apontam os principais indicadores sociais. O chefe de estado disse, entre outros pontos, que mais de 20 milhões de pessoas recebem o dinheiro do programa Auxílio Brasil de R$ 600 do Governo Federal.
“Quem porventura está no mapa da fome, pode se cadastrar e vai receber, não tem fila o Auxilio Brasil. São 20 milhões de famílias que ganham isso aí”, disse o presidente em entrevista para um podcast. “Então, essa preocupação de se antecipar problemas têm feito com que o povo brasileiro sofra menos do que a população aí fora”, seguiu ele.
“Esse discurso de 15 milhões passando fome não é verdade esse número. Se for a qualquer padaria aqui, não tem ninguém pedindo ali pedindo para você comprar o pão para ele, isso não existe. Eu falando isso estou perdendo votos, mas a verdade você não pode deixar de dizer”, completou o presidente.
Dados oficiais apontam que o presidente pode estar equivocado nesta avaliação. O 2º inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 aponta que 33,1 milhões de pessoas estejam passando fome no Brasil. Os dados passaram por uma divulgação no último mês de junho, e tomam como base os anos de 2020 a 2022.
Além disso, a pesquisa também aponta que 58,7% dos brasileiros convivem com algum grau de insegurança alimentar. A cada 10 cidadãos do país, quase seis não se alimentam da maneira como deveriam porque não conseguem comprar os alimentos adequados, ou seja, um padrão alimentar que reforce um desenvolvimento saudável.
O Auxílio de R$ 600 e a fome
Como dito, o presidente Jair Bolsonaro usou como argumento os pagamentos do Auxílio Brasil no valor de R$ 600 para questionar os dados da fome no Brasil. De fato, o depósito do programa subiu de R$ 400 para R$ 600 desde o último mês de agosto.
Além disso, o número de usuários aptos ao recebimento do benefício também aumentou neste mesmo período. Entre os pagamentos de julho e agosto, estima-se que mais de 2,2 milhões de brasileiros tenham entrado no projeto social, o que elevou o número total para mais de 20 milhões de atendidos.
Entretanto, mesmo com o aumento nos valores, a conta não é tão simples. Analistas afirmam que mesmo quem recebe R$ 600 por mês, pode passar fome. Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontam que este valor não é suficiente para comprar uma cesta básica em várias cidades, como em São Paulo, por exemplo.
Fila de espera
Na mesma declaração, o presidente Jair Bolsonaro também cita que os pagamentos do Auxílio Brasil não contam mais com uma fila de espera. Assim, ele leva a crer que não existe mais ninguém no país que passe fome fora do grupo de usuários do Auxílio Brasil.
A informação pode levar o cidadão ao erro. Em entrevista recente, a vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Tatiana Thomé de Oliveira, disse que a fila de espera para o programa foi zerada apenas em agosto. Ele afirmou que é provável que a lista volte a se formar já a partir de setembro.
Para além disso, é preciso lembrar que existe uma fila para a fila de espera. Dados mais recentes apontam que metade dos moradores de rua, por exemplo, não conseguem entrar no Cadúnico, a lista que abre caminho para o recebimento de programas sociais. São cidadãos que passam fome, mesmo que não entrem oficialmente nas contas do Governo Federal.