Praticamente quatro a cada dez brasileiros que recebem até 2 salários mínimos por mês sofrem com a falta de comida, ou seja, com a fome. Isso é o que mostra a pesquisa do Datafolha divulgada pelo jornal “Folha de S.Paulo” nesta sexta-feira (24) . Para aqueles que recebem entre 2 e 5 salários mínimos, o percentual cai para 17%.
Para se saber qual o nível em que a falta de comida afeta os cidadãos de acordo com sua renda, foi realizada a seguinte pergunta na pesquisa: “Nos últimos meses, a quantidade de comida na sua casa para você e sua família foi:”. Confira as respostas:
Entrevistados que recebem até dois salários mínimos:
- Mais do que o suficiente: 7%;
- O suficiente: 56%;
- Menos do que o suficiente: 37%;
Entrevistados que recebem de 2 a 5 salários mínimos:
- Mais do que o suficiente: 12%;
- O suficiente: 71%;
- Menos do que o suficiente: 17%.
O levantamento foi realizado entre os dias 13 a 16 de dezembro, com 3.666 participantes em 191 municípios espalhados por todo Brasil. A margem de erro é de dois pontos percentuais para baixo ou para cima.
Salário Mínimo deveria ser 5 vezes maior
Se for considerada a cesta básica como parâmetro para uma família não sofrer com a falta de comida, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), realizou um levantamento de quais são os valores médios das cestas, por regiões do Brasil.
No último mês de julho, a cesta básica mais cara encontrada foi a de Porto Alegre (R$ 656,92), seguida pelas de Florianópolis (R$ 654,43) e São Paulo (R$ 640,51). Por outro lado, as despesas básicas de menor custo foram as de Salvador (R$ 482,58) e Recife (R$ 487,60).
Com isso e com base na cesta mais cara, o instituto calculou em R$ 5.518,79 o salário mínimo necessário para as despesas básicas de um trabalhador e sua família. Ou seja, mais de 5 vezes o atual piso nacional, que é de R$ 1.100. Essa proporção era de 4,93 vezes em junho, o que demonstra uma alta no mês de julho.
O tempo médio para conseguir arcar com as despesas geradas pelos produtos da cesta subiu para 113 horas e 19 minutos de trabalho, quase duas horas a mais. E o trabalhador remunerado pelo salário mínimo comprometeu 55,68% de sua renda líquida para adquirir esses produtos (54,79% no mês anterior).
A falta de comida e o aumento da fome
A pesquisa divulgada hoje pelo Datafolha também aponta que o Nordeste, apesar de ter apresentado ser a região com cesta básica de menor custo no mês de julho, é a região com mais pessoas que afirmaram que sofrem com a fome (35%), seguida por Centro-Oeste/Norte (25%), Sudeste (23%) e Sul (21%).
Outro dado importante apresentado pela pesquisa é que entre as famílias que recebem o Auxílio Brasil, 39% afirmaram que sofrem com a falta de comida. Nas famílias que não recebem o benefício, o número cai para 22%.
Outra pergunta realizada na pesquisa, foi se os entrevistados perceberam que o número de pessoas que passam fome no Brasil aumentou durante a pandemia. Para 89%, a falta de comida aumentou, para 7% ficou igual ao que era, e para apenas 3% o problema da fome diminuiu durante a pandemia.