História e Cultura afro-brasileira e africana serão discutidas em roda de conversa

Na roda de conversa por webconferência, os participantes vão debater desde a formação de professores até os problemas encontrados em sala de aula, além da visão dos estudantes sobre o assunto

Em um momento em que o racismo reacendeu o debate em todo mundo com protestos e discussões, profissionais da educação do Distrito Federal terão nesta terça-feira (30), um encontro importante para discutir sobre a história e cultura afro-brasileira e africana.

A Secretaria de Educação, por meio da Gerência de Educação em Direitos Humanos e Diversidade, vai realizar uma roda de conversa sobre o tema, totalmente virtual, por meio de webconferência. O debate terá as professoras da rede pública de ensino Jane Ferreira e Ana Paula Rodrigues como mediadoras, além de servidores e estudantes convidados. O encontro está marcado para começar às 19h. Para participar, basta acessar o link.

Segundo a professora Jane, “não é de hoje que a desigualdade entre brancos e negros está presente no Brasil. Apesar de tantas mudanças feitas e da inclusão de pessoas negras na rede de ensino do país, ainda hoje a diferença entre raças persiste. Essa discriminação racial é conhecida como racismo estrutural e precisa ser debatida para que haja conscientização sobre o assunto”, explica.

Ela lembra que foi incluído o artigo 26-A na Lei 10.639 de janeiro de 2003, passando a integrar a Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), instituindo o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana como obrigatório, o que já foi um avanço para a educação brasileira.

Na roda de conversa por webconferência, os participantes vão debater desde a formação de professores até os problemas encontrados em sala de aula, além da visão dos estudantes sobre o assunto. O evento terá declaração de participação.

 

Escola referência em antirracismo

Em meio à suspensão das aulas presenciais por conta da pandemia e aos protestos contra o racismo no mundo todo, a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Nelson Mandela, em São Paulo, lançou a seguinte pergunta em uma postagem nas redes sociais: “Crianças pequenas podem ter atitudes racistas?”. A unidade é responsável pela reformulação, desde 2011, de seu projeto pedagógico para rever pequenas e grandes atitudes cotidianas que reforçavam o racismo.

A conclusão da equipe é de que, apesar de percepção de que crianças pequenas seriam incapazes de praticar atos discriminatórios, elas crescem “em uma sociedade estruturalmente racista e que reproduz essa lógica em diversos espaços e situações [do universo infantil]: na TV, na internet, nos brinquedos, filmes, desenhos e nas relações”.

Assim, as crianças podem, sem perceber, replicar essa mesma lógica em suas relações, dizem os educadores.

Atualmente, a escola é referência em educação antirracista. Mas ela, que abriga 212 alunos de 4 a 6 anos no bairro do Limão, Zona Norte de São Paulo, só conseguiu esse resultado criando estratégias para discutir e combater o racismo na escola depois de olhar a si própria no espelho.

Essa é a avaliação da ex-diretora Cibele Racy, que contou à BBC News Brasil que a unidade fez uma análise individual do que cada um poderia fazer. “Como a equipe de professores se relacionava com as equipes de limpeza e de cozinha? Havia racismo nessas relações? Porque, por menos que a gente queira admitir, a gente replica atitudes racistas. E não é possível combater o racismo sem admitir que você mesmo pode ser racista.”

A discussão foi embasada em uma lei de 2003, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileiras nas escolas públicas e particulares de todo o país.

De estereótipos enraizados e brincadeiras como escravos-de-jó e “barra manteiga na fuça da nega” até situações em que equipes de limpeza (formadas em sua maioria por mulheres negras) eram colocadas em posição de subserviência, Racy e seus colegas se dispuseram a rever toda a prática da escola que pudesse ter resquícios racistas.

“Muitas vezes, o professor se achava no direito de sujar a sala porque sabia que alguém ia limpar. Professoras negras não sentiam que tinham espaço para trazer seus saberes. Fizemos toda essa reflexão antes mesmo de começar a trabalhar o tema com as crianças.”

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