A aceleração da transmissão da nova variante coronavírus no Amazonas e o estrago que a covid-19 está causando no estado não tem precedentes. Segundo médicos, as infecções registradas agora são mais graves e rápidas do que aquelas vistas na primeira onda em 2020. Isso pode estar acontecendo devido à nova variante do coronavírus encontrada no estado.
Dados mostram que, ao contrário do ocorrido na primeira onda, quando a letalidade da covid-19 era alta apenas em idosos e pessoas com comorbidades, agora mais jovens estão morrendo por complicações causadas pela doença. De acordo com registros de óbito dos últimos 30 dias, quatro a cada dez mortos por covid-19 no Amazonas tinham menos de 60 anos.
Em entrevista ao portal UOL, médicos relataram o que têm visto na linha de frente do combate à covid-19 no Amazonas.
“Algo de muito diferente está ocorrendo em Manaus. Não sei informar se é uma cepa nova ou se é algo diferente. Mas quem está na linha de frente está vendo um aumento da gravidade dos casos”, diz o infectologista e pesquisador Noaldo Lucena.
As mudanças entre o cenário visto na primeira onde em 2020 e aquele registrado atualmente intriga os profissionais de saúde do estado.
“Claramente estamos diante de um ser invisível que é muito mais patogênico e transmissível. Hoje chegam famílias inteiras com os sintomas ao mesmo tempo, antes era um de cada vez.”, afirmou Noaldo Lucena.
Covid-19 mais grave, rápida e letal entre jovens no AM
Segundo o infectologista Noaldo Lucena, os exames feitos em pacientes com covid-19 agora revelam lesões no pulmão mais graves do que as vistas por ele em 2020.
“Neste ano, eu já vi mais 150 pessoas aqui na clínica e mais 300 no serviço público. Digo que menos de 2% deles tinham comprometimento leve. Os demais eram comprometidos acima de 50%. Alguns com 70%, 80%, 90%, com necessidade de internação imediata e até suporte ventilatório”, diz Noaldo.
De acordo com os dados mais recentes do Portal Transparência Brasil dos cartórios, 710 óbitos por covid-19 foram registrados no Amazonas, dos quais 285 com pessoas menores de 60 anos, o que representa cerca de 40% do total.
“Sem dúvida muito mais jovens estão morrendo. Não estamos falando só de grupo de risco: isso está em todas as faixas etárias, atingindo bebês, crianças, adolescentes mesmo sem comorbidade”, aponta a infectologista Silvia Leopoldina, que trabalha nas redes públicas estadual e municipal de Manaus.
A velocidade do avanço da doença nos pacientes infectados também chama a atenção dos profissionais de saúde do Amazonas.
“Antes, os primeiros sintomas de gravidade apareciam em torno do décimo dia em diante. Agora têm pacientes que, com sete, oito dias, estão com comprometimento de 75% dos dois pulmões.”, relata Silvia.