Mesmo que o empréstimo consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil tenha sido aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, os grandes bancos privados do país não querem disponibilizar a nova modalidade ao público alvo.
O Bradesco, Itaú, Santander, Nubank e BMG são algumas das instituições financeiras que não irão oferecer o crédito consignado. A negativa acontece, principalmente, após o governo anunciar que a medida não possui um limite referente a taxa de juros a ser cobrada.
Preocupação dos bancos
De acordo com especialistas, a recusa em série dos grandes brancos demonstra a preocupação quanto à efetividade da medida e seu impacto na própria instituição financeira.
Em resumo, a principal preocupação é com o endividamento das pessoas em situação de vulnerabilidade social, atendidas pelo programa social de transferência de renda.
Segundo o regulamento do empréstimo, o beneficiário pode comprometer até 40% do salário do Auxílio Brasil (R$ 400).
O que dizem os bancos?
O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Júnior, esclareceu que o banco não pretende oferecer a modalidade de crédito uma vez que a operação conta com altas taxas de juros (sem teto estabelecido).
“Não se trata de uma aposentadoria ou pensão, mas um benefício a pessoas que estão em dificuldades. Portanto, o Bradesco não vai operar nessa carteira. Estamos falando de pessoas vulneráveis. Em vez de ser uma boa operação para o banco e para o cliente, entendemos que a pessoa terá mais dificuldade quando o benefício cessar”, disse.
Já os demais bancos privados, como o Itaú, Santander, Nubank, BMG e Inter, afirmaram não ter perspectivas de trabalhar com o consignado do Auxílio Brasil. Eles ainda ressaltam que não irão disponibilizar o empréstimo, assim como o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob).
De acordo com o coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV, Lauro Gonzalez, as instituições financeiras não querem arriscar ter uma garantia representativamente baixa para oferecer o empréstimo para a população pobre ou extremamente pobre.
O especialista destaca que a atitude convergiria com às práticas ESG (meio ambiente, social e governança na sigla em inglês).
“As instituições que de fato estejam investindo em políticas ESG vão se questionar muito se entram ou não nesse mercado e, provavelmente, não vão entrar porque parece que há quase um consenso sobre, digamos assim, a ruindade dessa medida.”