Os ciclones extratropicais são fenômenos meteorológicos comuns que se formam sobre o oceano ou o continente e podem trazer grandes ondas quando estão sobre as águas. No entanto, eles podem se tornar devastadores quando ganham intensidade e atingem o continente, especialmente devido à força dos ventos. Nos últimos meses, o Sul do Brasil tem sido afetado por pelo menos quatro ciclones extratropicais. Mas por que essa região é aparentemente mais suscetível a esses fenômenos?
O papel da diferença de temperatura e umidade
De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Manoel Alonso Gan, toda vez que passa uma frente fria, ela está associada a um ciclone extratropical. Nem todos os ciclones são intensos o suficiente para causar destruição, mas os mais intensos costumam ocorrer na costa da região Sul do Brasil no período entre maio e setembro. Isso se deve à diferença de temperatura e umidade entre o continente e as águas do mar próximas à costa.
Neste ano, a temperatura da superfície do mar está ligeiramente mais alta do que a climatologia desta época do ano. Isso contribui para que o oceano forneça mais energia em forma de calor e umidade para a atmosfera, tornando os ciclones mais intensos. O calor proveniente do oceano aquece o ar próximo à superfície, tornando-o instável e propenso a movimentos ascendentes. Esse aquecimento também causa a queda da pressão no centro do ciclone, intensificando o fenômeno.
Além disso, o ar sobre o oceano mais quente consegue armazenar mais umidade. Ao ascender para níveis mais altos da atmosfera, o vapor d’água esfria e muda para a fase líquida, liberando calor latente e tornando a atmosfera ainda mais instável.
Outros fatores que influenciam a ocorrência de ciclones extratropicais
No entanto, nem todos os eventos climáticos podem ser atribuídos exclusivamente aos ciclones extratropicais. Em alguns casos, o estacionamento de uma frente com ar quente e úmido vindo da região amazônica e a formação de baixa pressão também podem contribuir para a ocorrência de chuvas intensas. Um exemplo disso foi o evento ocorrido no Rio Grande do Sul na semana passada, que não pode ser explicado apenas por um ciclone extratropical.
O pesquisador do Inpe ressalta que é necessário realizar uma análise detalhada de cada evento para compreender com precisão os fatores que contribuíram para sua ocorrência. De acordo com ele, embora alguns estudos mostrem uma tendência de redução na formação de ciclones extratropicais devido às mudanças climáticas, observa-se um aumento na frequência de ciclones mais intensos.
Previsões e impactos dos ciclones extratropicais
A previsão de ciclones extratropicais e seus impactos é uma tarefa complexa. Os centros meteorológicos brasileiros não possuem dados suficientes para quantificar o número e a intensidade desses fenômenos que se formam ao longo do ano e passam pela costa do Sul do Brasil. No entanto, estudos indicam que há uma variabilidade interanual, com anos de maior e menor formação de ciclones.
Uma nota técnica emitida pelo Inpe, Inmet e Funceme para os meses de setembro, outubro e novembro indica chuvas acima da média para o Sul do Brasil, influenciadas pela ação do El Niño. Essas previsões são importantes para que a população e as autoridades estejam preparadas para lidar com os impactos dos ciclones extratropicais, como fortes ventos, chuvas intensas e possíveis danos à infraestrutura.
Os ciclones extratropicais são fenômenos naturais que podem ter impactos significativos quando atingem o continente. No caso do Sul do Brasil, a região é mais suscetível a esses fenômenos devido à diferença de temperatura e umidade entre o continente e as águas do mar próximas à costa. O aquecimento do oceano fornece energia para a atmosfera, intensificando os ciclones. No entanto, outros fatores climáticos também podem contribuir para a ocorrência de eventos extremos, como chuvas intensas. Portanto, é fundamental monitorar e compreender esses fenômenos para garantir a segurança da população e a adoção de medidas adequadas de prevenção e mitigação de danos.