Setembro está chegando e com ele vem a transição para a primavera. Após um inverno com poucos episódios de frio intenso, o clima começa a mudar, trazendo consigo o aumento das temperaturas e os sinais visíveis da natureza se transformando. Neste ano, em particular, Setembro trará a influência do El Niño, com maior intensidade no clima desde 2015.
A Transição para a Primavera
O inverno astronômico termina oficialmente no dia 23 de Setembro, às 3h50, porém, o período conhecido como primavera meteorológica tem início em 1º de Setembro e vai até novembro. É nesse mês que podemos observar a transição para a primavera e o aumento gradual das temperaturas.
Em cidades como Porto Alegre, a média da temperatura mínima em agosto é de 11,6ºC, enquanto a máxima histórica é de 21,8ºC. Já em setembro, a média mínima na capital gaúcha é de 13,3ºC, com uma máxima média de 22,8ºC, de acordo com as normais climatológicas da série 1991-2020. Além disso, a precipitação média mensal em setembro é de 147,8 mm.
Na cidade de São Paulo, a média mínima em agosto é de 13,3ºC, enquanto em setembro a média mínima é de 14,9ºC. Já a média das máximas também aumenta, passando de 24,5ºC para 25,2ºC. De acordo com a série histórica 1991-2020, a precipitação média mensal em setembro é de 83,3 mm, sendo bem acima dos 32,3 mm de agosto, que é considerado o mês mais seco do ano na climatologia da capital paulista.
A Estação Seca no Centro do Brasil
Historicamente, setembro ainda é um mês da estação seca no Centro do Brasil. Isso significa que as médias de precipitação ainda são baixas na maior parte do Centro-Oeste e do Sudeste do país. Além disso, é comum que ocorram muitos dias de calor intenso, especialmente no Centro-Oeste, com temperaturas máximas acima de 40ºC, principalmente no Mato Grosso.
Com o aumento das temperaturas e o clima ainda muito seco, é comum que o número de queimadas seja muito alto no Brasil Central. Setembro é o mês de maior incidência de fogo no Cerrado, com uma média histórica de 22.735 focos de calor, superior aos 14.037 de agosto no bioma e inferior aos 12.330 de outubro.
No Centro do Brasil, setembro costuma marcar o retorno gradual da chuva, principalmente na segunda metade do mês. No entanto, neste ano, já tivemos uma antecipação das chuvas, que começaram em agosto. Assim, de acordo com a climatologia, o auge da estação seca e quente na região se dá na segunda metade de agosto e na primeira de setembro, enquanto a segunda quinzena de setembro já traz um aumento dos índices de precipitação.
O Sul do Brasil e as Chuvas de Setembro
No Sul do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, setembro é conhecido por apresentar altos volumes de chuva, com muitos episódios de cheias de rios e enchentes. Tanto é que existe o folclore da enchente de São Miguel, que ocorre na segunda metade do mês.
Em 2023, setembro será marcado pela influência do fenômeno El Niño, que teve início em junho. Será o primeiro setembro com o Pacífico Equatorial superaquecido desde 2015, ano do Super El Niño, e isso terá impacto também na região Sul do Brasil, principalmente em relação às chuvas.
De acordo com o último boletim semanal da NOAA, a anomalia de temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, está em torno de 1,5ºC, o que caracteriza um El Niño forte. Porém, serão necessárias várias semanas nesse patamar para classificar o fenômeno como forte.
Previsão de Chuva em Setembro
Setembro será um mês diferente do que costuma ser no Centro do Brasil, com um volume de chuvas acima da média para essa época do ano. As precipitações já retornaram mais cedo do que o habitual, em agosto, atingindo grande parte do Centro-Oeste e do Sudeste do país. De acordo com as projeções dos modelos, o padrão de chuva acima da média mensal persistirá em vários pontos do Centro do país.
O mapa acima mostra a projeção de anomalia de precipitação para o mês de setembro, de acordo com o modelo climático norte-americano CFS. É possível observar que há uma perspectiva de chuva acima da média em muitos locais dos estados do Centro-Oeste e do Sudeste do Brasil.
A região que mais terá chuva em setembro será o Sul do país. A tendência é que o mês registre precipitação acima ou muito acima da média em diversas localidades da Região Sul. Alguns locais podem chegar a acumular entre 300 mm e 500 mm de chuva apenas durante setembro, o que representa metade ou mais do que costuma chover em toda a primavera em apenas um mês.
Os mapas a seguir trazem a projeção de anomalia de chuva semana a semana para grande parte do mês de setembro, de acordo com o modelo meteorológico europeu. É possível constatar a tendência de um padrão climático mais chuvoso no Sul do Brasil e perto ou acima da média no Centro do país.
No início de setembro, espera-se um episódio de chuva significativa no Sul do Brasil, o que fará com que muitas cidades superem a média histórica de precipitação do mês logo na primeira semana. Essa maior frequência de chuva pode prejudicar o início do plantio da safra de verão e episódios de precipitação excessiva podem resultar em cheias de rios e enchentes.
Temperatura em Setembro
De acordo com a análise da MetSul Meteorologia, setembro de 2023 deve ser marcado por temperaturas acima da média histórica em grande parte do Centro-Sul do Brasil. Os maiores desvios de precipitação devem ocorrer no Centro-Oeste e em parte do Sudeste.
Áreas mais ao Sul do país devem ter mais dias de temperatura agradável ou amena, mais próximas dos valores médios históricos. No entanto, a tendência é que o mês termine com marcas acima da média em muitos locais da Região Sul.
A expectativa é de um baixo número de dias de frio em setembro no Sul do país, embora sejam previstos alguns dias com temperaturas baixas e formação de geadas. Por outro lado, dias quentes, alguns de calor intenso, são muito comuns nesse mês, e já houve anos em que a temperatura chegou perto dos 40ºC na Grande Porto Alegre. Não são projetados, no entanto, um alto número de dias de forte calor com o padrão climático mais chuvoso.
Os mapas acima trazem a projeção de anomalia de temperatura semana a semana para grande parte do mês de setembro, de acordo com o modelo meteorológico europeu. É possível observar que o Sul do Brasil terá um maior número de dias com temperaturas próximas da média.
No Sudeste, na primeira metade do mês, é esperado que alguns locais tenham temperaturas abaixo da média, mas de maneira geral, a região terá um setembro com marcas próximas ou acima da média. Devem ser esperados dias de calor excessivo em São Paulo, especialmente no interior, assim como no Oeste de Minas Gerais. No Centro-Oeste, em comparação com o Sudeste, a perspectiva é de mais dias de calor e vários de temperatura significativamente alta, especialmente no Mato Grosso e em Goiás.
Maior Ocorrência de Tempestades
Setembro, como o mês da primavera climática, tende a ter um aumento nos episódios de tempo severo no Sul do Brasil. Esse risco é agravado principalmente com a chegada tardia de massas de ar frio, à medida que a presença de ar quente se torna mais comum sobre a região, com o fim do inverno.
O encontro de massas de ar frio e quente gera as tempestades severas, principalmente na chegada de frentes frias. Em anos de El Niño, como é o caso de 2023, a atmosfera mais quente, úmida e instável, com maior influência de ar tropical, favorece uma maior frequência de tempestades no Sul do Brasil.
Os temporais não necessariamente são mais intensos, mas ocorrem em maior número. Podem ocorrer os primeiros eventos de sistemas convectivos de mesoescala, que são aglomerados de nuvens carregadas que crescem durante a noite, uma característica da primavera, no Norte argentino e no Paraguai.
Em 2023, já na primeira semana, espera-se um episódio de forte instabilidade no Centro-Sul do Brasil, o que deve trazer muitas tempestades. O maior risco será nos estados da Região Sul e no Mato Grosso do Sul.
Por fim, setembro é um mês com maior propensão para a formação de ciclones extratropicais no Atlântico Sul, nas latitudes médias do continente, especialmente nos litorais da Argentina e do Uruguai, e às vezes na costa do Sul do Brasil, uma vez que se torna mais frequente o encontro de massas de ar quente e frio na região.
Episódios de frio mais intenso serão muito dependentes da formação de ciclones mais intensos em setembro no Atlântico Sul, mas a tendência é que neste ano os ciclones mais intensos se posicionem mais ao Sul do continente, perto da Antártida e da Patagônia.
Setembro está chegando e com ele vem a transição para a primavera. Neste ano, o El Niño terá uma influência maior no clima, trazendo temperaturas acima da média e um volume de chuvas acima do normal, principalmente no Sul do Brasil. É importante estar preparado para as mudanças climáticas e para a ocorrência de tempestades, especialmente no Sul do país. Acompanhe as previsões meteorológicas e esteja atento aos avisos das autoridades para garantir a sua segurança e o melhor aproveitamento dessa estação.