O número de brasileiros dispostos a comprar produtos no mercado estrangeiro chinês registrou queda nos últimos meses. Empresas como Shein, Shopee e ALiExpress começaram a sentir uma diminuição nas suas vendas para o mercado interno. O motivo pode estar relacionado ao processo de taxação que está sendo capitaneado pelo Ministério da Fazenda.
Os números divulgados no final da última semana pelo banco Santander mostram que no último mês de abril houve um recuo de 20% nas importações em comparação com o mesmo período do ano passado. Estamos falando da primeira queda nas vendas da empresa chinesa desde maio de 2020.
Os dados divulgados pelo Banco Central (BC) vão na mesma direção. De acordo com este levantamento, as vendas internacionais de pequeno valor somaram pouco mais de US$ 701 milhões em abril deste ano. O número representa uma queda de 25,3% em relação ao mês anterior.
Oficialmente, não existe nenhum dado que indique como estão as vendas de empresas como Shein, Shopee e AliExpress no Brasil. Desta forma os trakings do Banco Central acabam servindo como uma espécie de termômetro do ranking de importações de pequeno valor no Brasil hoje.
Evolução
Como dito, a evolução das vendas das empresas chinesas no Brasil vinha tendo sucessivos aumentos no decorrer dos últimos meses. Em agosto de 2020, por exemplo, a taxa de crescimento foi de 120% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em outubro, a elevação foi de 176%.
Em 2023, as taxas de crescimento foram notadamente menores nos primeiros meses do ano, mas sempre apontavam para um leve crescimento. Houve uma alta de 14% em janeiro, de 11% em fevereiro e de 7% em março, sempre em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em abril, ocorreu a primeira queda.
Preocupação do consumidor
Coincidência ou não, o fato é que as reduções nas vendas em empresas como Shein, Shopee e AliExpress estão ocorrendo justamente no momento em que o Governo discute uma maior taxação para as vendas de produtos destas companhias no Brasil.
Mesmo que a taxação ainda não tenha impacto direto nas vendas dos produtos, a avaliação de analistas é de que já existe uma preocupação por parte dos consumidores em relação ao aumento de impostos.
“Observamos que, à medida que as discussões sobre a tributação do comércio eletrônico internacional se materializam, levando a um aumento nos preços desses produtos, podem existir ventos contrários contínuos para empresas como Shein, Shopee e AliExpress, impactando positivamente as empresas locais“, disseram os analistas do Santander.
Tais analistas defendem que a taxação é positiva “especialmente para varejistas de vestuário, pois provavelmente apontam para uma desaceleração no crescimento da Shein no Brasil, que tem sido vista como uma ameaça para negócios como Lojas Renner , C&A e Guararapes/Riachuelo“, completam eles.
A polêmica da Shein, Shopee e AliExpress
No Brasil, existe uma lei que estabelece que os importados que custam até US$ 50 e que são enviados de pessoas físicas para pessoas físicas são isentos de impostos. O Ministério da Fazenda alega que empresas chinesas estariam se passando por pessoas físicas para usarem esta brecha e não pagarem os tributos.
O Governo decidiu agir e retirou a isenção sobre envios de produtos de até US$ 50 até mesmo para as pessoas físicas. Assim, as empresas não poderiam mais tentar enganar a Receita Federal. Contudo, o fim da isenção gerou uma enorme repercussão negativa, e fez com que o Governo desistisse de acabar com este benefício.
De todo modo, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) vem dizendo que será possível fazer com que as empresas chinesas paguem os seus impostos de outras formas. Uma das ideias é criar um plano de conformidade que faria com que estas companhias fossem obrigadas a pagar os tributos.
Ainda não está claro quando o novo formato vai ficar pronto. Quando o processo for concluído, os preços de empresas estrangeiras certamente deverão subir.