Nesta quarta-feira (2), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu em 0,50 ponto percentual a taxa básica de juro da economia brasileira, de 13,75% para 13,25% ao ano.
A redução ocorre após sete reuniões consecutivas de estabilidade da taxa Selic, que estava no maior patamar desde 2016 por causa do ciclo de 12 avanços promovidos pelo Copom entre março de 2021 e agosto de 2022.
Embora o BC tenha reduzido a taxa Selic, isso não retirou o Brasil da liderança do ranking mundial dos juros reais. Em resumo, a lista desconta a inflação projetada para os próximos 12 meses, e o Brasil tem os juros reais mais altos do mundo desde maio de 2022, ou seja, há mais de um ano.
A saber, os juros reais no país caíram para 6,68% ao ano após a decisão do BC sobre a taxa Selic. Esse dado faz parte de um levantamento compilado pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management, que analisa 40 países, incluindo Estados Unidos, China, Japão e Alemanha, as maiores economias do planeta.
Confira abaixo os 15 países com os maiores juros reais do planeta.
1º Brasil | 6,68% |
2º México | 6,64% |
3º Colômbia | 6,15% |
4º Chile | 4,60% |
5º África do Sul | 3,82% |
6º Filipinas | 3,80% |
7º Indonésia | 3,63% |
8º Hong Kong | 2,83% |
9º Reino Unido | 2,36% |
10º Israel | 2,23% |
11º Nova Zelândia | 1,96% |
12º Estados Unidos | 1,82% |
13º China | 1,67% |
14º Malásia | 1,64% |
15º Coreia do Sul | 1,57% |
Outros 20 países pesquisados também apresentaram taxas positivas de juros reais, destacando-se Alemanha (0,30%) e Japão (0,24%), algumas das maiores economias do mundo. Aliás, em junho, ambos os países estavam com taxas negativas de -1,97% e -1,85%, respectivamente. No entanto, isso mudou recentemente e as taxas passaram para o campo positivo.
Argentina tem os menores juros reais do mundo
Enquanto o Brasil continua na liderança mundial dos juros reais, a Argentina ocupa a outra ponta da tabela, seguido na última posição do ranking. O vizinho sul-americano apresentou um juro real negativo de 28,53%.
Além da Argentina, outros quatro países também tiveram taxas negativas dos juros reais. Veja abaixo os únicos países com juros negativos da pesquisa:
- Argentina: -28,53%;
- Polônia: -6,05%;
- Hungria: -1,89%;
- República Tcheca: -1,86%;
- Suécia: -0,03%.
No final de junho, quando o Copom havia feito a última reunião, apenas 18 países estavam com taxas positivas. Em contrapartida, outras 22 nações estavam com juros negativos. A mudança em relação ao início deste mês de agosto mostra que os países continuam elevando os juros para conter a alta da inflação, e agora com ainda mais intensidade.
Veja quem lidera o ranking de juros nominais
Em suma, o levantamento também revelou as taxas de juros nominais entre os 40 países. Essa lista se refere ao valor nominal dos juros em cada um dos países analisados, sem descontar a inflação projetada para os meses seguintes.
Nesse ranking, a Argentina liderou com bastante folga, apresentando uma taxa básica de juro da economia de expressivos 97% ao ano. A situação foi completamente diferente da observada no ranking dos juros reais.
Cabe salientar que a Argentina vem tentando sair de uma recessão econômica desde 2018. Em 2021, a inflação disparou 50,9% no país, uma das maiores taxas do mundo. A situação piorou em 2022, com a taxa saltando para 94,8%.
Em meio a isso, o Banco Central argentino passou a elevar os juros no país. Aliás, como ambas as taxas, de inflação e de juros, estão muito elevadas, a Argentina acaba apresentando a menor taxa de juro real entre os 40 países do levantamento, apesar de ter o maior juro nominal da lista.
Brasil tem o quarto maio juro nominal do mundo
De acordo com o levantamento, o Brasil caiu para a quarta posição, com a taxa passando de 13,75% para 13,25% ao ano. Até junho, quando o Copom havia mantido os juros em 13,75% ao ano, o país estava na segunda posição. Entretanto, mesmo se a taxa se mantivesse o mesmo patamar, o país inevitavelmente cairia duas posições na lista.
Em síntese, o top dez dos juros nominais foi formado pelos seguintes países:
- Argentina: 97,00%;
- Turquia: 17,50%;
- Hungria: 15,00%;
- Brasil: 13,25%;
- Colômbia: 13,25%;
- México: 11,25%;
- Chile: 10,25%;
- Rússia: 8,50%;
- África do Sul: 8,25%;
- República Tcheca: 7,00%.
Confira também as taxas em algumas das maiores economias do mundo: Estados Unidos (5,50%, em 16º), Reino Unido (5,00%, em 19º), China (4,35%, em 21º), Alemanha (4,25%, em 22º), França (4,25%, em 30º) e Japão (-0,10%, em 39º). A Suíça tem os menores juros entre todos os países, de -0,75%.
Entenda como os juros afetam o Brasil
Em resumo, a taxa Selic é o principal instrumento do BC para conter a alta dos preços de bens e serviços, a famosa e temida inflação. Assim, quanto mais alta a taxa Selic estiver, mais altos ficarão os juros no país, pois a Selic puxa consigo os juros para cima, no geral.
Dessa forma, o crédito fica mais caro no Brasil, reduzindo o poder de compra do consumidor. Portanto, as pessoas se veem obrigadas a pagar mais caro para contratar crédito, muitas delas reduzem seus gastos e modificam seus hábitos de consumo para adequarem suas rendas à nova realidade financeira.
A principal consequência de tudo isso é o desaquecimento da economia brasileira, uma vez que o consumo é um dos principais motores da atividade econômica.
Como a inflação perdeu força em 2022, o Copom decidiu interromper a sequência de altas e manteve a taxa Selic estável. Recentemente, com a inflação perdendo ainda mais força no Brasil, o BC decidiu promover o primeiro corte nos juros em três anos.