A maioria dos investidores que tinham ações na Lojas Americanas se desfizeram dos seus papéis nos últimos dias. A saber, a varejista perdeu impressionantes 80% do seu valor de mercado em apenas cinco dias. E todo esse caos vem acontecendo após as notícias envolvendo um rombo bilionário na empresa.
De acordo com um levantamento realizado por Einar Rivero, da TradeMap, a pedido do portal de notícias g1, a Americanas fechou o pregão desta segunda-feira (16) com um valor de mercado de R$ 1,75 bilhão. Cinco dias atrás, ao fim do pregão da última quarta-feira (11), a varejista valia cerca de R$ 10,82 bilhões.
Isso quer dizer que a Lojas Americanas viu o valor das suas ações se esfarelar, perdendo 79,9% em menos de uma semana. Aliás, a maior queda foi registrada na sessão de ontem, que chegou ao fim com um papel da Americanas negociado a cerca de R$ 1,94. Ao longo do pregão, a varejista perdeu quase 40% do seu valor.
Varejista perdeu R$ 64 bilhões desde sua máxima histórica
Em síntese, a Lojas Americanas vem enfrentando muitos desafios nos últimos anos, provocados pela pandemia da covid-19. No início da crise sanitária, em 2020, a varejista se beneficiou com o aumento do consumo online.
Ao mesmo tempo, a população passou a direcionar uma parte maior da sua renda para itens comercializados pela empresa, como alimentos e eletrônicos. Inclusive, em 3 de agosto de 2020, a companhia chegou a ter o seu papel vendido a R$ 122,90, máxima histórica da Americanas.
À época, o valor de mercado da companhia chegava a R$ 66 bilhões, segundo Einar Rivero. No entanto, nesses quase dois anos e meio, a varejista perdeu R$ 64,34 bilhões do seu valor. Isso quer dizer que as ações da Americanas perderam 98,42% do seu valor.
A desvalorização não aconteceu apenas nos últimos dias. Na verdade, a Americanas vem enfrentando muitos desafios desde 2021. Em suma, a inflação disparou naquele ano, acumulando uma variação de 10,06% no país.
Para segurar a taxa inflacionária, o Banco Central (BC) elevou por 12 vezes consecutivas os juros no país. Assim, a taxa Selic chegou a 13,75% ao ano, maior patamar desde o final de 2016. E todo esse cenário limitou o consumo no país.
A saber, a inflação corresponde ao aumento contínuo e generalizado dos preços de bens e serviços. Para segurar a alta desses valores, o BC aumenta os juros, que reduzem o poder de compra do consumidor. E o resultado dessa equação é a diminuição do consumo no país.
Por isso que a Americanas, assim como várias outras varejistas, sofreram nos últimos anos para terem bons dados financeiros.
“Inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões
Como se tudo isso não fosse suficiente para derrubar o valor de mercado da Americanas, “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões ajudaram a afundar ainda mais a varejista nos últimos dias.
Em resumo, a Americanas reportou a existência de operações de financiamento de compras que não estavam “adequadamente refletidas” nas contas de fornecedores. Essas inconsistências foram observadas nas demonstrações financeiras do terceiro trimestre do ano passado.
O escândalo foi tão grande que fez o presidente da Americanas, Sergio Rial, deixar o cargo. Da mesma forma, o diretor de relações com investidores da companhia, André Covre, também renunciou ao cargo. Ambos os executivos assumiram seus postos em 2 de janeiro, ou seja, há menos de dez dias.
“O conselho de administração decidiu, ainda, criar um comitê independente para apurar as circunstâncias que ocasionaram as referidas inconsistências contábeis, que terá os poderes necessários para a condução de seus trabalhos”, disse a Americanas em nota.
Essas inconsistências contábeis intensificaram o processo de desvalorização da Americanas. A saber, o rombo bilionário aconteceu devido à uma operação conhecida como “risco sacado”. Aliás, esta linha de crédito envolve a empresa, seus fornecedores e instituições financeiras.
Como a Americanas não registrou essas operações de maneira correta nos balanços contábeis, dúvidas sobre a solvência da empresa começaram a surgir. Ao mesmo tempo, as incertezas em relação ao grau de endividamento da companhia ajuda a trazer ainda mais insegurança aos investidores.
Por fim, vale destacar que, no último sábado (14), a Justiça concedeu uma Tutela de Urgência Cautelar à empresa. Em síntese, houve a determinação, entre outras medidas, da interrupção de quaisquer cláusulas contratuais que tenham como imposição o pagamento antecipado de dívidas da Americanas, bem como a incidência de juros durante o período.