Alta dos alimentos não tem isolamento social como culpado - Notícias Concursos

Alta dos alimentos não tem isolamento social como culpado

No acumulado desde o início da pandemia, em 2020, o preço dos alimentos teve aumento de 15% no Brasil. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse valor representa quase o triplo da inflação acumulada desde o início da pandemia, que foi de 5,20%. De acordo com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o isolamento social, que é defendido por órgãos do mundo inteiro, é o culpado pela alta dos alimentos.

Apesar da pandemia impactar na alta dos alimentos, elas têm relação menor do que o aumento do dólar em comparação ao real. O aumento do dólar, sim, é o principal motivo para os alimentos terem ficado mais caros ultimamente.

Especialistas afirmam ao UOL o peso que a alta do dólar tem nessa equação. “Isso o Bolsonaro não gosta muito de assumir. A desvalorização da nossa moeda aconteceu pela incerteza na economia, associada ao aumento do déficit e dos gastos públicos e ao risco que a covid-19 causou na economia brasileira”, disse o economista André Braz, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

O economista também explicou o peso do isolamento social nessa alta. “O isolamento contribuiu porque, com as famílias em casa, o gasto com alimentação é maior. Comprando mais, afeta o valor, pois se tinha uma demanda que foi aumentada. Agora, isso é o que menos justifica o preço. Há problemas mais graves”, explicou.

Durante a pandemia, o real já perdeu 22% de seu valor quando comparado ao dólar. E a relação disso com a alta dos alimentos acontece porque grande parte do preço de custo de produção está ligada ao dólar. Com o real desvalorizado, a diferença de câmbio das duas moedas faz com que o produtor pague mais, repassando o aumento ao consumidor final. Ou seja, os aumentos começam já no crescimento do preço de custo da produção.

Por outro lado, o real desvalorizado faz com que os produtos brasileiros fiquem mais baratos no exterior. Em 2020, por exemplo, 35 países aumentaram as importações de arroz do Brasil e mais 25 começaram a comprar o item.

De acordo com o IBGE, o preço do arroz teve aumento de 69% nos últimos 12 meses. Além disso, dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que os estoques públicos de alimentos tiveram diminuição de 96% em sua média anual em dez anos.

Para conter a alta dos preços dos alimentos, então, o ideal seria a estagnação da desvalorização da moeda brasileira. O câmbio do dólar é a chave para fugir dessa inflação. E, para valorizar o real, uma alternativa seria a vacinação em massa. Ela seria capaz de retomar a confiança de investidores no Brasil.

Silvio Farnese, diretor do Departamento de Comercialização e Abastecimento, do Ministério da Agricultura, afirmou que a estratégia do governo para reduzir esses preços são os incentivos à oferta dos produtos. “Estamos fazendo políticas de ofertas de aumento de produção, com financiamento de linhas de créditos, seguros, apoio de comercialização e estruturação de cadeias”, disse ele.

“O produtor, quando planta, faz uma leitura de que pode vender quando quiser. Se a gente travar a exportação, romperia os contratos já firmados para as colheitas. Com esse nível intervencionista, desarticularia o mercado”, continuou.

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