Dado os atuais impactos da guerra na Ucrânia sobre a economia global, o Banco Central (BC) continuou a apertar os cintos na política monetária. Deste modo, o BC decidiu elevar a taxa Selic, que passou de 4,25% para 5,25% ao ano, levando em consideração que essa já é a nona alteração consecutiva da mesma. O aumento de um ponto percentual foi o maior em 18 anos (desde 2003) e tem um impacto direto nas atividades da economia brasileira, principalmente no agronegócio.
A justificativa dada pelo Banco Central para a elevação da taxa Selic é a inflação no Brasil acima da meta e o surgimento da variante Delta, fatos que colocam em risco a retomada econômica global. Uma previsão de maior Produto Interno Bruto (PIB), a prorrogação do auxílio emergencial e a expectativa de criação de um novo Bolsa Família, de cerca de R$ 400, também foram levados em consideração.
O Copom ainda deu indicativos de que um novo aumento pode ser realizado na próxima reunião, em 45 dias, quando os juros podem saltar para 6,25% ao ano, dependendo do nível inflacionário e da evolução da atividade econômica. Até o final do ano, analistas do mercado projetam que a taxa Selic deve ficar de 7% a 8% ao ano.
Impactos no agronegócio
Deve-se levar em consideração que a elevação da taxa Selic tem um impacto direto no encarecimento do financiamento das atividades do agronegócio, especialmente para pequenos e médios produtores. Os juros do Plano Safra 2021/22 tiveram um aumento médio de um ponto percentual em relação ao ano anterior, o que também já é reflexo dos aumentos anteriores da taxa básica.
As operações de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), por exemplo, que custavam de 2,75% a 4% ao ano na temporada 2020/21, agora são oferecidas com taxas anuais entre 3% e 4,5%.
De acordo com o vice-presidente de agronegócios do Banco do Brasil, Renato Naegele, uma das características da alta da Selic é que a mesma também deve restringir o crédito privado para a industrialização das atividades do agronegócio.
Alta da taxa Selic
O valor atual da taxa é o maior nível já visto desde abril de 2017, quando estava em 12,25% ao ano. Apesar da alta, o BC reduziu o ritmo do aperto monetário. Assim, depois de três aumentos seguidos de 1,5 ponto porcentual, a taxa foi elevada em 1 ponto.
Dos meses de março a junho do ano passado, o Copom tinha elevado a taxa em 0,75 ponto porcentual em cada encontro. Já no início de agosto, o BC passou a aumentar a Selic em 1 ponto a cada reunião a fim de suavizar o aumento da taxa.
Contudo, mesmo com a decisão do dia 16, a Selic continua num ciclo de alta, depois de passar seis anos em alta. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018.
Em agosto de 2019 a Selic voltou a ser reduzida, até alcançar a incrível marca de 2% ao ano, em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia de covid-19. Esse era o menor nível da série histórica iniciada em 1986.