Seu celular escuta o que você fala? E o WhatsApp, ele lê suas mensagens?
Especialistas discutem níveis de privacidade que os dispositivos móveis dão aos usuários
Desde que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) começou a ser discutida no Brasil, em torno de três anos atrás, a questão da privacidade dos dados foi ganhando mais importância no dia a dia do brasileiro. Hoje, ela está em plena ação e uma das mudanças mais claras foram os pedidos de aceitação de cookies nos sites. No entanto, algo que ainda gera dúvidas é o quanto de informação os smartphones capturam de seus usuários. Será que o celular escuta nossas conversas?
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Talvez você já tenha notado ou ouvido uma história que, após conversar com alguém perto do celular, tópicos da conversa que envolvam produtos, marcas ou serviços comecem a aparecer através de propagandas em redes sociais. Seria isso uma coincidência ou os smartphones realmente escutam as conversas dos usuários?
Laura Tyrell, chefe de RP da NordVPN, empresa especializada em soluções de privacidade, segurança e rede privada virtual (VPN), afirma que as suspeitas são verdadeiras. De acordo com ela, assistentes virtuais como Siri, Google Assistente ou Alexa nos ouvem o tempo todo. Em teoria, isso acontece porque essas soluções precisam escutar constantemente para ativar os comandos de voz e ajudar os usuários.
“No entanto, algumas coisas que as pessoas dizem estão sendo registradas para benefício próprio das empresas, como para a melhoria da qualidade do serviço ou para fins de marketing – algo semelhante ao pesquisar informações nos buscadores”, adverte a especialista.
Como descobrir se o seu celular escuta suas conversas
A especialista dá uma dica para você verificar se seu celular está ouvindo o que você fala. Basta montar uma “armadilha”:
- Escolha um assunto que não seja de ser cotidiano, algo que não poderia ser associado à sua personalidade, um assunto sobre o qual você nunca fala.
- Isole o tópico do seu celular. Não use seu celular nem nenhum outro dispositivo para buscar informações sobre esse assunto e certifique-se de não ter jamais pesquisado o assunto em buscadores.
- Pense numa lista de palavras-chaves que possam servir de gatilho para mecanismos de busca.
- Discuta o tópico em voz alta nas proximidades do seu celular. Você pode fazer isso sozinho ou com outra pessoa por vários minutos por vez. Faça isso por alguns dias em sequência.
Depois de montar a armadilha, observe se algum novo anúncio começou a ter você como alvo nas redes sociais ou em outros canais digitais. Se sim, seu telefone provavelmente está ajudando esses anúncios a chegarem até você.
Mas, mesmo se o seu celular escutar suas conversa, isso não é necessariamente ilegal, lembra Laura. Segundo ela, ao utilizarmos um assistente virtual, concordamos com os termos e condições do provedor de serviços. O melhor é revisar os termos de consentimento e ter certeza do que autorizamos o smartphone a capturar.
O WhatsApp lê suas mensagens?
O Facebook, dono do aplicativo WhatsApp, utiliza o sigilo entre seus usuários como propaganda, sempre destacando que a criptografia de ponta a ponta protege seu cliente. No entanto, de acordo com a ProPublica, uma organização norte-americana sem fins lucrativos voltada ao jornalismo investigativo de interesse público, esse sigilo não é total.
Segundo a organização, uma inteligência artificial analisa as mensagens trocadas e, interceptando aquelas que julga “problemáticas”, as envia para análise de contratados do Facebook, que decidem se as mesmas serão ou não entregues aos destinatários.
A ProPublica diz que são mais de mil pessoas fazendo esse trabalho, instalados em diferentes locais, como Irlanda, Cingapura e Estados Unidos. Esse pessoal, em menos de um minuto, libera as mensagens ou retém aquelas relativas a prováveis fraudes, spam, pornografia, pedofilia, terrorismo, entre outras.
Contatado pela ProPublica, o diretor de comunicações do WhatsApp, Carl Woog, reconheceu que esse trabalho ocorre, mas apenas para evitar abusos e não com intenção de quebra da privacidade. Há suspeitas de que o Facebook compartilhe informações com órgãos de segurança.
Para o professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Vivaldo José Breternitz, a melhor opção para o usuário é não acreditar que o sigilo é 100% garantido na Internet. “Mudar para concorrentes como o Telegram, WeChat e outros não muda muita coisa. Privacidade não existe mais”, finaliza.