Dado os atuais impactos da guerra na Ucrânia sobre a economia global, o Banco Central (BC) continuou a apertar os cintos na política monetária. O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu por unanimidade elevar a taxa Selic, taxa de juros básicos da economia, de 10,75% para 11,75% ao ano. A decisão era esperada pelos analistas financeiros.
O Copom indicou que a próxima elevação da Selic também será de 1 ponto percentual, mas que pode rever o ritmo do aperto monetário caso necessário. “Para a próxima reunião, o comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas”, destacou o texto.
Apesar de a taxa ter sido decidida por unanimidade, o resultado foi publicado com cerca de 40 minutos de atraso. Isso ocorreu porque o Copom terminou pouco depois das 19h. Geralmente, as reuniões terminam no meio da tarde, e o resultado é divulgado a partir das 18h30. Em comunicado, o BC informou que devido ao possível cenário de crise global, o momento atual exige cautela.
Alta da taxa Selic
A taxa Selic já vem sendo alvo de alterações a um certo tempo, essa será a nona alteração consecutiva da mesma. Além disso, a taxa está no maior nível desde abril de 2017, quando estava em 12,25% ao ano. Apesar da alta, o BC reduziu o ritmo do aperto monetário. Assim, depois de três aumentos seguidos de 1,5 ponto porcentual, a taxa foi elevada em 1 ponto.
Dos meses de março a junho do ano passado, o Copom tinha elevado a taxa em 0,75 ponto porcentual em cada encontro. Já no início de agosto, o BC passou a aumentar a Selic em 1 ponto a cada reunião a fim de suavizar o aumento da taxa.
Contudo, mesmo com a decisão do dia 16, a Selic continua num ciclo de alta, depois de passar seis anos em alta. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018.
Em agosto de 2019 a Selic voltou a ser reduzida, até alcançar 2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia de covid-19. Esse era o menor nível da série histórica iniciada em 1986.
Impactos na Inflação
Para relembrar, a Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, que é medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em fevereiro, o indicador IPCA fechou em 10,54% no acumulado de 12 meses, no maior nível para o mês desde 2015, pressionado pelos combustíveis e pelos aumentos de início de ano nas despesas de educação.
Contudo, o valor ainda se encontra acima do teto da meta de inflação. Para 2022, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual. O IPCA, portanto, não pode superar 5% neste ano nem ficar abaixo de 2%.
De acordo com o Relatório de Inflação divulgado no fim de dezembro pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que, em 2021, o IPCA fechará 2022 em 4,7% no cenário base. A projeção, no entanto, está desatualizada com as tensões internacionais que elevam a cotação do petróleo e com fatores climáticos que prejudicam as safras em diversas partes do Brasil. A nova versão do relatório será divulgada no fim deste mês.
As previsões do mercado estão mais pessimistas, o que pode acarretar em outra elevação da taxa Selic. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 5,38%. A projeção foi elevada após o aumento recente dos combustíveis