Os reajustes salariais realizados em 2022 não foram muito positivos para os trabalhadores do Brasil. Isso porque 39,5% dos acordos realizados neste ano ficaram abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
A saber, o indicador mede a variação da cesta de compras para famílias com renda de um até cinco salários mínimos, ou seja, foca nas pessoas de renda mais baixa do país. Aliás, o INPC é utilizado como referência para reajustes salariais e benefícios do INSS. Por isso que é um indicador tão importante para os trabalhadores.
Os reajustes salariais abaixo da variação acumulada pelo INPC representam redução no poder de compra do trabalhador. Em suma, o indicador reflete as variações nos preços de produtos e serviços. Assim, situações em que os reajustes ficam abaixo do INPC são indesejadas, pois correspondem à diminuição da renda do trabalhador.
Embora as negociações tenham sido negativas, em grande parte, para os trabalhadores, também houve reajustes que promoveram ganhos reais no país. No entanto, apenas 23,8% dos acordos e convenções coletivas superaram o INPC. Em outras palavras, menos de um em cada quatro trabalhadores viram o seu poder de compra aumentar em 2022.
Outros 36,2% dos acordos e convenções coletivas ficaram iguais ao INPC. Nesse caso, não houve alteração do poder de compra dos trabalhadores, que continuaram com uma remuneração equivalente à inflação observada no período.
A propósito, os dados fazem parte do levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e divulgado mensalmente.
Segundo o Dieese, estes dados são prévios, visto que várias categorias ainda não encerraram as negociações de 2022. Ainda assim, ao comparar com os últimos anos, o resultado de 2022 só não foi pior que o de 2021, quando 45,8% dos reajustes ficaram abaixo do INPC e apenas 15,2% proporcionaram ganho real aos trabalhadores.
Veja os reajustes nos principais setores econômicos
Entre os segmentos pesquisados, a indústria teve o maior número de reajustes acima da inflação do país em 2022, chegando a 32,6% do total dos reajustes. Já as negociações abaixo do INPC totalizaram 28,7%, enquanto 38,7% ficaram iguais à inflação medida pelo índice.
Com dados um pouco semelhantes, o comércio teve 26,6% dos reajustes abaixo da inflação em 2022. Por outro lado, 21,9% das negociações ficaram acima do INPC, enquanto os 51,4% dos acordos restantes tiveram uma variação igual a da inflação acumulada no país no ano passado.
Embora os dados do comércio não tenham sido tão positivos, o destaque negativo em 2022 ficou com o setor de serviços. Em suma, 50,0% dos reajustes ficaram abaixo da inflação, o que quer dizer que metade dos trabalhadores do setor viram o seu poder de compra literalmente diminuir no ano.
Além disso, 31,1% das negociações foram iguais ao INPC e também não representaram ganho real para o trabalhador do comércio. Assim, apenas 18,9% dos acordos superaram a inflação, aumentando o poder de compra dos profissionais deste setor. Em outras palavras, menos de dois em cada dez trabalhadores de serviços comemoraram o aumento da renda em 2022.
Sul tem melhor desempenho entre regiões
O Dieese também revelou dados sobre os reajustes salariais entre as regiões brasileiras. No ano passado, houve uma diferença bastante expressiva em relação aos acordos e convenções coletivas que ficaram abaixo do INPC, resultado em perda de poder de compra para os trabalhadores.
Confira abaixo as taxas registradas por cada uma das regiões brasileiras em 2022, que perderam para a inflação:
- Sul: 21,7%
- Sudeste: 39,7%
- Norte: 55,7%
- Nordeste: 56,7%
- Centro-Oeste: 65,6%
Por um lado, é possível ver que os trabalhadores do Sul não sofreram muito com a redução da sua renda, uma vez que o percentual ficou bem abaixo da média nacional. Inclusive, esta foi a única região que teve uma taxa menor que a nacional (39,5%).
Em contrapartida, os trabalhadores do Centro-Oeste sofreram bastante no ano passado, com quase um terço das negociações resultando em redução da renda. A situação no Nordeste e no Norte também foi bem crítica, com mais da metade dos reajustes abaixo do INPC.
Embora estas taxas tenham ficado bastante distantes umas das outras, não foi isso o que aconteceu em relação aos reajustes que superaram a inflação. Nesse caso, os dados não tiveram uma discrepância entre si.
Veja as taxas de reajustes acima do INPC nas regiões brasileiras:
- Sul: 29,8%
- Sudeste: 25,4%
- Norte: 18,7%
- Nordeste: 17,3%
- Centro-Oeste: 12,9%
Estes dados também mostraram um cenário mais favorável para os trabalhadores do Sul e mais complicado para os profissionais do Centro-Oeste. Ainda assim, as taxas ficaram bem mais próximas, e, mais do que isso, atingiram patamares baixos em todas as regiões.
Por fim, o Sul também teve o maior percentual de acordos e convenções coletivas iguais ao INPC (48,5%). Em seguida, ficaram Sudeste (35,0%), Nordeste (26,0%), Norte (25,6%) e Centro-Oeste (21,5%).