A produção industrial brasileira encolheu 0,7% em 2022, na comparação com o ano anterior. Esse resultado negativo fez a indústria seguir abaixo do nível de fevereiro de 2020, último mês antes da decretação da pandemia da covid-19.
A saber, a atividade industrial do país está 2,2% abaixo do nível pré-pandemia. Isso quer dizer que as perdas provocadas pela crise sanitária na produção industrial do país ainda não foram recuperadas.
Além disso, vale destacar que a produção industrial brasileira está 18,5% abaixo do nível recorde registrado em maio de 2011. Aliás, o resultado ficou ainda mais distante do recorde após a queda registrada no ano passado, que poderia ter refletido uma recuperação mais firme da atividade industrial do país, mas isso não aconteceu.
Todos esses dados fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A série histórica teve início em janeiro de 2002 e, de lá pra cá, informa o desempenho da produção industrial do país mensalmente.
Queda da produção industrial se expandiu
De acordo com a PMI, 17 dos 26 ramos industriais registraram resultados negativos em 2022. Da mesma forma, 54 dos 79 grupos e 62,4% dos 805 produtos pesquisados pelo IBGE também fecharam o ano em queda, na comparação com 2021.
“É um perfil disseminado de recuo, que demonstra que a indústria nacional viveu, em 2022, uma retração que atinge diferentes grupos e segmentos da produção”, afirmou o gerente da pesquisa, André Macedo.
A saber, a queda da produção industrial em 2022 foi a terceira nos últimos quatro anos. Aliás, confira abaixo o desempenho da indústria brasileira nesse período:
- 2019: -1,1%
- 2020: -4,5%
- 2021: +3,9%
- 2022: -0,7%
“Muito do crescimento de 2021 (3,9%) tem relação direta com a queda significativa de 2020, ocasionada por conta do início da pandemia. Avançou em 2021, mas foi influenciada por uma base baixa de comparação e não superou as perdas de 2020”, explicou Macedo.
Já em 2022, a produção industrial respondeu às medidas adotadas pelo governo federal para incrementar a renda da população. As medidas mais importantes foram a antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas, a liberação do FGTS, o Auxílio-Brasil turbinado e a criação do auxílio concedido aos caminhoneiros.
“Ao longo do segundo semestre, essa resposta perdeu fôlego e a indústria teve um comportamento de menor intensidade e com maior frequência de resultados negativos”, afirmou o gerente da pesquisa.
Juros elevados derrubam indústria brasileira
No ano passado, outro desafio enfrentado pelo setor industrial foram os juros elevados no Brasil. Em suma, o Banco Central (BC) elevou 12 vezes consecutivas a taxa básica de juro da economia, a Selic, entre março de 2021 e agosto de 2022, para 13,75% ao ano. A saber, esse foi o maior sequência de elevações da taxa Selic em 23 anos.
Após esses avanços, o BC decidiu manter a taxa Selic estável nesse patamar, que é o mais alto desde novembro de 2016. E, quando a Selic sobe, ela impulsiona os demais juros no país, encarecendo o crédito. Por isso que uma das principais medidas tomadas pelo governo federal no ano passado ficou focada no estímulo ao crédito.
Em síntese, a taxa Selic é o principal instrumento do BC para conter a alta dos preços de bens e serviços, a temida inflação. Em 2022, os preços elevados, principalmente dos alimentos, impactou a renda das famílias e, consequentemente, o consumo das famílias do país.
“Também há influência do aumento nas taxas de inadimplência e de endividamento. E o mercado de trabalho, que embora tenha mostrado clara recuperação ao longo do ano, ainda se caracteriza pela precarização dos postos de trabalhos gerados’, disse André Macedo.
Atividades que mais impactaram o setor industrial
Em 2022, o setor de indústrias extrativas exerceu a maior influência na indústria brasileira, registrando uma queda firme de 3,2% no ano. A saber, o minério de ferro foi o principal responsável pela queda do setor.
O IBGE também revelou outros setores que fecharam o ano em queda, enfraquecendo a produção industrial do país: produtos de metal (-9%), metalurgia (-5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,7%) e produtos de borracha e de material plástico (-5,7%)
Em contrapartida, o setor que registrou a maior alta foi a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, cuja produção avançou 6,6%, exercendo a maior influência positiva na atividade industrial do país.
“Trata-se de um setor que manteve comportamento positivo ao longo de 2022, impulsionado, principalmente, por produtos com maior ligação com a mobilidade”, disse Macedo.
“Por fim, cabe lembrar também que é um setor que havia recuado em 2021 (-0,7%), ou seja, partiu de uma base menor de comparação”, acrescentou o pesquisador.