Segundo dados do último relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), o leite vem sofrendo uma desvalorização de preços neste ano, o que está afetando os produtores no Brasil.
De acordo com o relatório, a média do litro de leite chegou a R$ 2,25 ao produtor, em agosto deste ano. Isso representa uma queda de 29,4% na comparação com o mesmo período de 2022, sendo que na ocasião o produto era vendido a R$ 3,04.
Estes resultados para agosto representam a quarta queda mensal consecutiva nos preços do leite, uma tendência que deve continuar ocorrendo. Neste ano, o produto já acumulou uma queda real de 13,6%.
Dados mais atualizados ainda não foram divulgados, porém, pesquisas ainda em andamento da Cepea indicam que a média líquida do leite no âmbito nacional pode ter sofrido redução de 5% a 10% para o mês de setembro.
Essa grande queda nos preços do leite está sendo explicada pela alta disponibilidade interna do produto no Brasil, gerando uma pressão nas cotações para que abaixem ao longo da cadeia. Quanto maior a oferta do produto sem um aumento na procura, menor serão os preços.
Os preços médios do leite UHT, queijo muçarela e leite em pó, sendo negociados no estado de São Paulo, registraram uma queda de até 21% em agosto deste ano. A comparação foi feita com o mesmo período em 2022.
Aumento da disponibilidade interna do leite
Como dito, a alta disponibilidade interna do leite vem gerando a queda nos preços do produto, no entanto, alguns fatores como a importação estão contribuindo para a saturação do mercado brasileiro. Apesar das importações registrarem um recuo de 22% no mês de setembro, ainda continuam contribuindo para a queda nos preços do leite.
Este aumento na importação está ocorrendo, pois os preços externos estão sendo mais competitivos que os nacionais. Dessa forma, a grande quantidade de produto estrangeiro, juntamente com a produção interna, estão provocando a grande queda nos preços do leite.
Natália Grigol, pesquisadora de leite da Cepea, disse que os preços ao produtor estavam com uma tendência de alta no começo deste ano, até o mês de março. Contudo, desde então os preços começaram a cair bastante.
Grigol afirmou: “Passamos pela pandemia. Os anos de 2021 e 2022 foram de inflação elevada e elevação dos preços dos insumos agrícolas. Isso fez o leite disparar como consequência. […] o nível de preço do ano passado era muito alto, visto que acompanhou a tendência dos insumos agrícolas”.
Além disso, Grigol completou dizendo que os custos e o preço do leite subiram de acordo com a alta das commodities agrícolas, assim como no ano passado. Da mesma maneira, a redução começou juntamente com a queda desses insumos. “Observamos uma redução nos custos de produção, gerando sinais de melhora a partir do segundo trimestre do ano. Isso levou a uma recuperação da produção interna”, afirmou.
O problema é que essa diminuição nos custos de produção do leite não acompanhou a redução observada nos preços do produto, gerando uma disparidade. Com isso, no momento os dados demonstram um aumento de 0,56% do Custo Operacional Efetivo (COE) no mês de setembro.