O ano de 2023 ficou marcado pelos saques expressivos na poupança. Os brasileiros não estavam dispostos a deixar seu dinheiro na caderneta e, entre janeiro e dezembro, a retirada líquida somou R$ 87,819 bilhões.
Vale destacar que 2023 foi o terceiro ano seguido cujos saques superaram os depósitos na caderneta. A última vez que ocorreu o contrário e as pessoas alocaram mais dinheiro na poupança do que retiraram foi em 2020, ano da pandemia da covid-19. O Banco Central (BC) divulgou as informações nesta segunda-feira (8).
Esse resultado mostra que a quantidade de saques superou de maneira significativa as captações da caderneta em 2023. Entretanto, vale destacar que, apesar do volume expressivo, o resultado reflete uma leve melhora em relação a 2022.
Em suma, a retirada líquida da caderneta de poupança chegou a impressionante marca de R$ 103,237 bilhões em 2022, maior volume de saques anuais da série histórica do BC, que teve início em 1995. 101,591
Confira abaixo os resultados líquidos dos últimos anos da caderneta de poupança:
- 2023: Saques de R$ 87,819 bilhões;
- 2022: Saques de R$ 103,237 bilhões;
- 2021: Saques de R$ 35,496 bilhões;
- 2020: Depósitos de R$ 166,309 bilhões;
- 2019: Depósitos de R$ 13,327 bilhões;
- 2018: Depósitos de R$ 38,260 bilhões;
- 2017: Depósitos de R$ 17,126 bilhões;
- 2016: Saques de R$ 40,701 bilhões;
- 2015: Saques de R$ 53,567 bilhões.
Nos últimos nove anos, os depósitos superaram os saques em quatro ocasiões, entre 2017 e 2020. No entanto, nos demais anos, os saques predominaram, superando significativamente o volume financeiro alocado na caderneta de poupança.
Depósitos bateram recorde em 2020
Os resultados dos últimos anos são completamente diferentes do registrado em 2020. Em suma, aquele ano ficou marcado pela pandemia da covid-19, que afetou todo o mundo, afundando a economia global em uma recessão que não era vista há décadas.
Em 2020, a poupança registrou uma captação líquida recorde de R$ 166,309 bilhões. Os depósitos na caderneta nunca haviam superado os saques de maneira tão significativa quanto naquele ano, e isso não se repetiu desde então.
Os principais fatores que contribuíram para o resultado foram a instabilidade no mercado de títulos públicos e o pagamento do auxílio emergencial. Como o governo disponibilizou valores bilionários a milhões de pessoas, e o depósito desses valores ocorria diretamente na caderneta de poupança, as captações dispararam naquele ano.
Veja os números de 2023
Já em 2023, os brasileiros depositaram R$ 3,82 trilhões na caderneta de poupança, segundo os dados do Banco Central. Por outro lado, os correntistas sacaram R$ 3,91 bilhões, valor que superou às entradas e fez o resultado anual ficar bastante negativo.
Com o acréscimo do resultado de 2023, com um volume expressivo de retirada de recursos da poupança, o estoque dos valores depositados caiu para R$ 983 bilhões. A título de comparação, o volume total aplicado somava R$ 999 bilhões em dezembro de 2022.
Entenda a saída líquida da poupança em 2023
O volume expressivo de retiradas líquidas em 2023 aconteceu devido a uma junção de fatores. Nos primeiros meses do ano, os saques líquidos da poupança ocorreram devido ao aumento de despesas tradicionais, como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Além disso, as famílias brasileiras também costumam gastar com matrícula e material escolar nos primeiros meses de cada ano. Isso sem contar que muitos consumidores acabam parcelando as compras do final do ano anterior, bem como os custos com viagens de férias.
Aliás, a expectativa é que os próximos resultados mensais da caderneta evidenciem a retirada de recursos da caderneta devido a essa questão sazonal.
Ao mesmo tempo, o volume de endividamento da população continuou elevado em 2023, apesar de recuar em relação ao ano anterior. Esse cenário fica marcado pela busca de recursos pelas pessoas para honrarem seus compromissos.
Redução dos juros contribui com os saques
Além disso, o Banco Central reduziu em 2,0 pontos percentual (p.p.) a taxa básica de juro da economia, a Selic, entre agosto e dezembro de 2023.
Quanto mais baixos os juros estiverem, menor a rentabilidade da renda fixa, da qual faz parte a caderneta de poupança. Esse é mais um motivo para os saques.
Por fim, a baixa rentabilidade da caderneta também ajuda a explicar a retirada líquida observada neste ano, apesar da melhora dos resultados, já que a inflação também está menor no país.
A saber, a rentabilidade da poupança tem perdido para outras aplicações em renda fixa, como, por exemplo, Tesouro Direto, CDBs e CDIs. Todos têm apresentando um desempenho mais favorável que a caderneta.