O Ibovespa até poderia iniciar a semana em alta, já que a maioria das ações listadas no indicador subiram nesta segunda-feira (23). Contudo, os papeis da Petrobras, que respondem por quase 14% da carteira teórica do índice, despencaram mais de 6% e impediram que o indicador encerrasse o dia em alta.
A propósito, o Ibovespa é o indicador do desempenho médio das cotações das ações negociadas na B3, a Bolsa Brasileira. Na sessão de hoje (23), o Ibovespa caiu 0,33%, a 112.785 pontos. Esse é o menor patamar do indicador desde o dia 5 de junho, quando o índice fechou o pregão em 112.696 pontos, ou seja, em cinco meses e meio.
Com o acréscimo desse resultado, o índice aumentou as perdas acumuladas em outubro, para -3,24%. Por outro lado, o Ibovespa ainda reserva ganhos de 2,78% em 2023.
Aliás, o avanço acumulado neste ano chegou a superar 11% em julho, mas o indicador caiu em 18 dos 23 pregões realizados em agosto, período em que teve a maior sequência de quedas já registrada na história, recuando por 13 pregões consecutivos e acumulando perdas de 5,1% no mês.
Em setembro, o Ibovespa até conseguiu subir, mas a alta foi bem leve. Já agora em outubro, o resultado tem sido bastante preocupante, refletindo o pessimismo dos investidores, principalmente com o cenário internacional.
Conflitos no Oriente Médio repercutem
A guerra entre Israel e o grupo extremista islâmico Hamas continua prendendo a atenção dos investidores. São mais de duas semanas de muita tensão e ataques de ambos os lados, que já provocaram a morte de quase 6,5 mil pessoas, além de milhares de feridos e dezenas de reféns.
No último final de semana, Israel realizou bombardeios na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. O país afirmou que os ataques ocorreram em locais em que havia terroristas do Hamas. Inclusive, a expectativa é que Israel invada a Faixa de Gaza por terra em breve.
Do ponto de vista econômico, todo esse caos vem preocupando os analistas, que temem o aumento no preço do petróleo caso outros países do Oriente Médio se envolvam nos conflitos. Isso poderia pressionar a inflação em todo o mundo, fazendo os bancos centrais manterem os juros elevados, ou até mesmo voltarem a aumentá-los.
Caso os conflitos tenham uma escalada ainda maior, há um risco iminente de problemas na cadeia de produção e exportação de petróleo, ainda mais ao considerar que 60% da produção mundial de petróleo se concentra Oriente Médio.
Cenário nos EUA dá alívio à Bolsa Brasileira
Todo o cenário caótico do Oriente Médio poderia sugar dinheiro do Ibovespa nesta segunda-feira (23), mas isso não aconteceu, porque os investidores ainda estão deixando o assunto em “banho-maria”, considerando-o, principalmente, como uma questão humanitária, mas sem força para afetar a inflação global.
Além disso, os títulos do Tesouro americano deram uma trégua na sessão de hoje. Em resumo, estes são considerados os ativos mais seguros do mundo e, quando as preocupações globais crescem, a busca por ativos mais seguros também avança.
Nos últimos dias, os títulos estavam no maior patamar dos últimos 15 anos. Essa valorização atraiu muitos investidores de todo o mundo e, quanto mais dinheiro circulando nos Estados Unidos, mais dinheiro sai das bolsas de valores, incluindo a brasileira. Contudo, isso não aconteceu hoje.
Petrobras derruba Ibovespa
Diversos fatores poderiam ter puxado o Ibovespa para o campo negativo, mas isso aconteceu, principalmente por causa da Petrobras. Em suma, as ações da estatal respondem por quase 14% da carteira teórica do indicador e, nesta segunda-feira (23), os papeis preferenciais caíram 6,61%, enquanto os ordinários tombaram 6,03%.
Estas foram as maiores quedas do dia e superaram significativamente o terceiro maior recuo do pregão, registrado pela Magazine Luiza (1,95%). Aliás, outras petroleiras também tiveram um dia ruim, como a PetroRio ON (-1,73%) e a Petrorecsa ON (-0,09%), mas as quedas foram bem mais tímidas.
A saber, o forte tombo das ações da Petrobras ficou mais ligado à questão política. Os investidores não querem que a companhia retome as nomeações políticas vedadas pela Lei das Estatais desde 2016, algo que a empresa vem mostrando interesse.
Ao mesmo tempo, a Lei das Estatais não livra a Petrobras de interferência política. Nesse caso, os investidores temem que a escalada dos conflitos no Oriente Médio faça o preço do petróleo disparar e, para não ter impopularidade, o governo federal interfira nos preços da estatal, impedindo que a Petrobras reajuste os preços dos combustíveis em relação à cotação do barril de petróleo.
67 das 86 ações do Ibovespa sobem nesta segunda (23)
O temor com a interferência política na Petrobras foi tão forte que nem mesmo o avanço registrado por 67 das 86 ações listadas no Ibovespa impediram a queda do indicador nesta segunda-feira (23). Apenas 18 papeis fecharam o dia em queda, enquanto um se manteve estável. enquanto outros 31 papeis subiram e dois se mantiveram estáveis.
Além da Petrobras, outro peso pesado do Ibovespa é a mineradora Vale, cujas ações respondem por 15% da carteira teórica do indicador. Contudo, a mineradora fechou o dia em leve queda de 0,19%, ou seja, ajudou um pouquinho mais a puxar o Ibovespa para baixo.
Por fim, a carteira teórica mais famosa do país movimentou R$ 17 bilhões nesta segunda, 10% abaixo da média dos últimos 12 meses. Em outubro, a média está em R$ 16,1 bilhões, menor montante mensal de 2023, juntamente com setembro, que também movimentou R$ 16,1 bilhões. Por outro lado, o valor mais elevado foi registrado em junho, quando a média diária de giro financeiro no Ibovespa chegou a R$ 21,1 bilhões.