A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) impediu os estudantes a frequentarem as aulas presenciais nas escolas em todo o mundo. Em alguns lugares, essa realidade tem gerado problemas graves para as crianças, principalmente para as meninas. Segundo especialistas em proteção infantil e de Organizações não governamentais (ONGs), o fechamento de escolas expôs crianças a violações dos direitos humanos, como a mutilação genital feminina forçada, casamento precoce e violência sexual.
Segundo reportagem do UOL, o Banco Mundial estima, globalmente, que 1,5 bilhão de crianças deixaram de frequentar as escolas em decorrência da pandemia. ONGs afirmam que após décadas lutando pela educação de meninas, a Covi-19 pode atrasar a igualdade de gênero na educação.
Na Tanzânia, meninas que estavam em internatos e foram enviadas para casa já sofreram mutilação genital feminina. Na região do Sahel, também na África, onde o casamento infantil é generalizado, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, a Unicef, teme que muitas meninas nunca mais voltem à escola.
Uma instituição holandesa, a Terre des Hommes, também constatou a mesma realidade. O projeto administra uma casa de proteçnao para meninas contra a mutilação genital na Tanzânia. “A comunidade aproveitou essa situação da Covid-19 e, agora que as crianças estão em casa, estão cortando suas filhas”, afirmou a organização ao jornal The Guardian.
Na África ocidental e central, 120 milhões de crianças foram mandadas para casa após o fechamento das escolas. E segundo levantamento da Unesco, das quase 743 milhões de meninas sem aulas presenciais, 111 milhões vivem em países subdesenvolvidos e onde o direito à educação é uma batalha que já dura anos.
O consultor de proteção infantil da Unicef na África ocidental e central, Andy Brooks, explica que o ensino médio é um retardador do casamento precoce. “Nesta região, quatro em cada dez meninas são casadas antes dos 18 anos”, afirma.
O que é a mutilação genital feminina?
A Mutilação genital feminina, ou na sigla MGF, é o corte ou a remoção deliberada da genitália feminina externa. A prática envolve a remoção ou o corte dos lábios e do clitóris, e a Organização Mundial da Saúde a descreve como “um procedimento que fere os órgãos genitais femininos sem justificativa médica”.
A maioria das razões apontadas para a mutilação genital feminina passa por aceitação social, religião, desinformação sobre higiene, um modo de preservar a virgindade, tornando a mulher “casável” e ampliando o prazer masculino.