O uso de reticências no texto

Sinal de pontuação que indica interrupção da lógica do pensamento

As reticências marcam a interrupção da continuidade textual motivada pelo próprio desejo do autor e são representadas graficamente na língua escrita como três pontos seguidos “…”.

A origem da palavra vem da língua latina “reticere” e já tinha a concepção de suprir algo.

E assim como o ponto de exclamação, as reticências também são um dos sinais de pontuação. Entretanto, existem sinais de pontuação em que o uso requer uma rigidez gramatical.

No caso das reticências os usos são mais subjetivos e por isso ficam a critério de quem escreve o texto.

Os sinais de pontuação são fundamentais para a coerência textual. É importante destacar que a “ausência” do seguimento das ideias marcadas pelas reticências não impacta no sentido da oração ou do parágrafo.

Normalmente, as reticências aparecem com mais frequência no final das orações. Veja o exemplo da oração abaixo:

Exemplo 1: Amanda acorda bem cedo para ir ao trabalho. A jovem segue os dias da vida, a rotina …

Em casos menos comum podem aparecer no início ou no meio da oração. Veja outros exemplos abaixo:

Exemplo 2: …Luluzinha toma café e vai para a escola. Lá ela estuda e se diverte com as amiguinhas.

Exemplo 3: Vá pra casa, Alana!… aí vem a chuva…

Continue lendo esse artigo e conheça as outras situações de usos das reticências.

 

Uso das reticências entre (…) ou entre […]

Existem situações da produção textual em que o autor precisa fazer citações de uma obra original, como um livro, um artigo científico, ou outros tipos de gêneros textuais.

Obviamente, a citação da obra original de forma completa além de desnecessário é inviável. Então, graças a utilidade gráfica das reticências entre parênteses (…) ou das reticências entre colchetes […] podemos suprimir partes do texto original.

Dessa forma, a finalidade é citar apenas as informações mais relevantes para os leitores. E a oração ou o parágrafo permanece com sentido e clareza.

É muito comum esses usos em textos acadêmicos. Primeiramente, exemplificaremos com o artigo cientifico “Cultura midiática e Educação infantil” do pesquisador e doutor em Teologia Alberto Moreira:

As indústrias culturais transnacionais, orientadas pelo lucro (definidas livremente como setores que usam símbolos, histórias, imagens e informações para gerar ganhos financeiros), são hoje as mais poderosas instituições culturais do mundo – contando mais histórias, cantando mais canções, provendo mais imagens e combinando mais metáforas que qualquer outro grupo de instituições do mundo (…). As indústrias culturais hoje dominam a vida nas regiões industriais avançadas e sua influência continua a se espalhar. Nos Estados Unidos seus produtos e atividades ocupam mais do tempo das pessoas do que qualquer outra coisa, exceto o trabalho, a escola e o sono (…). (Budde, 2001, p. 66)

As indústrias culturais transnacionais, orientadas pelo lucro (definidas livremente como setores que usam símbolos, histórias, imagens e informações para gerar ganhos financeiros), são hoje as mais poderosas instituições culturais do mundo – contando mais histórias, cantando mais canções, provendo mais imagens e combinando mais metáforas que qualquer outro grupo de instituições do mundo (…). As indústrias culturais hoje dominam a vida nas regiões industriais avançadas e sua influência continua a se espalhar. Nos Estados Unidos seus produtos e atividades ocupam mais do tempo das pessoas do que qualquer outra coisa, exceto o trabalho, a escola e o sono (…). (Budde, 2001, p. 66)

Observe que o pesquisador realizou um “corte” textual no meio e no final do parágrafo ao reproduzir a obra de Budde. E o sentido do texto não foi comprometido.

Agora, leia abaixo a reprodução do discurso da posse do presidente Jair Bolsonaro realizado no Congresso Nacional no dia 01 de janeiro de 2019:

Uma de minhas prioridades é proteger e revigorar a democracia brasileira, trabalhando arduamente para que ela deixe de ser apenas uma promessa formal […], com o respeito ao Estado Democrático.

A construção de uma nação mais justa e desenvolvida requer a ruptura com práticas que se mostram nefastas para todos nós […].

A irresponsabilidade nos conduziu à maior crise ética, moral e econômica de nossa história.

Hoje começamos um trabalho árduo para que o Brasil inicie um novo capítulo de sua história.

Um capítulo no qual o Brasil será visto como um País forte, pujante, confiante e ousado.

A política externa retomará o seu papel na defesa da soberania, na construção da grandeza e no fomento ao desenvolvimento do Brasil.

[…]

Deixo esta casa, rumo ao Palácio do Planalto, com a missão de representar o povo brasileiro.

Com a benção de Deus […] trabalharei incansavelmente para que o Brasil se encontre com o seu destino e se torne a grande nação que todos queremos.

Do mesmo modo que o exemplo anterior, o sentido textual permanece coerente. E tanto o uso gráfico do (…)ou do […] tem a mesmo finalidade.

Uso de letra maiúscula e minúscula após as reticências

O uso das reticências no final das oração, com o encadeamento de ideias, ocorre em uma especificidade gramatical. Assim, se o autor do texto após interromper o pensamento e depois prosseguir com encadeamento de ideias novas, inicia-se a oração com letra maiúscula. Veja exemplos de orações abaixo:

Exemplo 4: Estou muito preocupada com os fatos… A audiência de meu pai será na próxima semana.

Exemplo 5: Catarina segue a vida sonhando… Pela manhã, embeleza-se e sai decida para a vida.

Exemplo 6: Robson foi ao clube muito animado… Ao anoitecer continuou a leitura de Machado de Assis.

A outra situação diz respeito a interrupção do pensamento, entretanto o autor dá continuidade às ideia com informações previstas ou com a mesma lógica de raciocínio.

Nesse caso, após as reticências inicia-se a oração com letra minúscula. Veja exemplos de orações abaixo:

Exemplo 7: Carla o viu de longe e sorriu… deleitou-se de amor com seu amado.

Exemplo 8: O diretor pedagógico pensou e analisou o caso… não soube o que fazer com o aluno rebelde.

Exemplo 9: Como eu estava falando… bem… lamento muito, mas o senhor não foi premiado pela empresa.

Reticências no texto literário

Os escritores literários usam as reticências em suas obras como um recurso gráfico.

E, por certo, com o propósito de dá a linguagem literária um tom emocional, reflexivo, contemplativo, tristeza, ironia, etc.

Leia abaixo a “poesia da sensação” de Alberto Caeiro que valoriza a simplicidade da vida e exterioriza isso nos lindos versos poéticos:

Creio no mundo como num malmequer

Porque o vejo. Mas não penso nele

Porque pensar é não compreender…

O Mundo não se faz para pensarmos nele

(Pensar é estar doente dos olhos)

Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,

Mas porque a amo, e amo-a por isso,

Porque quem ama nunca sabe o que ama

Nem sabe por que ama, nem o que é amar…

Amar é a eterna inocência,

E a única inocência não pensar… (grifos nossos)

Alberto Caeiro além de interromper a sequência lógica do pensamento também dá pistas textuais para os leitores que sugere emoções, como no verso “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…”.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.