De acordo com dados divulgados pelo Banco Central (BC) nesta terça-feira (28),o endividamento e o comprometimento da renda das famílias brasileiras estão em um aumento desenfreado e já bateram recordes.
No mês de setembro, período com dados divulgados mais recentes, o endividamento das famílias brasileiras correspondeu a 49,4% da renda acumulada em 12 meses. A alta foi de 0,7% no mês e de 5,5 pontos no ano.
Esse indicador junto com o fato do valor médio gasto pelos brasileiros para pagar o serviço de dívidas ter sido de 26,2%, foram os mais altos da da série histórica iniciada em 2005. Neste mês, a metodologia dos indicadores foi alterada pelo BC e inclui novas fontes no cálculo da renda, incluindo rendimentos extraordinários, como valores referentes a auxílios emergenciais, 13º salário e férias.
Para Renato Baldini, chefe do departamento de Estatísticas do BC, o aumento do indicador em si não é necessariamente ruim. “A elevação pode refletir a expansão imobiliária, por exemplo. Uma família que sai de um apartamento alugado para um financiado passa a ter maior endividamento, mas a situação financeira dela pode ser considerada mais saudável”, afirmou.
O número de brasileiros inadimplentes é composto de quase metade por homens (49,8%) e metade por mulheres(50,2%). Porém elas se destacam no quesito de renegociar as dívidas, liderando pelo segundo mês consecutivo (53,7%).
Já no ranking por regiões, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Bahia mantêm a liderança com mais inadimplentes. Em contrapartida também são as que apresentam o maior número de acordos fechados no Serasa Limpa Nome. Ao todo, mais de R$ 3,6 bilhões foram concedidos em descontos nos acordos realizados em agosto.
Nathalia Dirani, gerente de marketing da Serasa, explica que as empresas estão entendendo esse momento e estão oferecendo condições diferenciadas e alerta que é preciso realizar um acordo de modo que seja possível realizar o pagamento total da dívida. “Em alguns casos é possível realizar a negociação das dívidas em até 72 vezes. E, após o pagamento da primeira parcela, o nome já fica limpo”.
Aproximadamente três em cada dez brasileiros que renegociaram dívidas no último mês de agosto, optaram pelo parcelamento. A informação faz parte da 4ª edição do Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas no Brasil divulgada pela Serasa.
O estudo mensal sobre o cenário de endividamento no país e renegociações de dívidas, divulgado pela Serasa, mostra que o número de inadimplentes em agosto se mantém estável, em 62,2 milhões, o que representa cerca de 27% da população brasileira . Porém, apesar da estabilidade, já é possível perceber um aumento em relação ao começo do ano.
O montante do total somado entre todos os inadimplentes atingiu R$ 244,5 bilhões, apresentando uma média de pouco mais de R$ 3.900 por pessoa e R$ 1.171,00 por dívida. Os destaques são as dívidas com bancos e cartões de crédito (29%), seguidos por utilities (23,3%), e o comércio de varejo (13,20%).
Michael Viriato, sócio da Casa do Investidor, afirmou que assim como o Banco do Brasil, as instituições financeiras estão postergando as dívidas e tentando negociá-las cada vez mais, o que ajudou a reduzir o impacto na inadimplência.
Porém, ainda segundo Viriato, com a inflação batendo nos dois dígitos em doze meses e o desemprego acima de 14%, a tendência é que o endividamento suba nos próximos meses.