De acordo com um novo estudo, pessoas com câncer têm seis vezes mais chance de morrer de Covid-19. Se o índice de mortalidade global da doença é de 2,4%, o percentual salta para 16,7% em pacientes oncológicos infectados pelo novo coronavírus. Os médicos que conduziram o estudo defendem que pacientes com câncer devem ter prioridade na fila da vacinação.
A pesquisa Journal of Clinical Oncology (JCO) foi feita por médicos brasileiros do grupo Oncoclínicas, que acompanharam 198 pacientes com câncer que pegaram Covid-19 entre março e julho de 2020. Desse total, 33 morreram. Fatores como idade avançada, presença de comorbidades e histórico de tabagismo aumentam o risco de morte pela doença.
A maior taxa de mortalidade (43,8%) registrada no estudo foi detectada em pacientes com neoplasias no trato respiratório, como câncer de pulmão metastático, e tumores hematológicos, como linfomas e leucemia. No entanto, de modo geral, o pior prognóstico é visto em pacientes que tem câncer ativo, progressivo ou metastático, segundo o oncologista Bruno Ferrari, fundador e presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas.
Tratamentos contra o câncer, como quimioterapia, radioterapia e terapia hormonal não levaram a uma maior taxa de mortalidade.
“Como sabemos que imunossuprimidos — uma parcela considerável das pessoas em tratamento ativo contra o câncer — tendem a ter um pior prognóstico diante de doenças infeciosas, começamos um acompanhamento dos pacientes na pandemia para entender se a relação entre ter câncer e desenvolver Covid-19 seria importante”, disse Bruno Ferrari ao jornal O Globo.
Pacientes com câncer devem ter prioridade na vacinação contra Covid-19
Os pacientes oncológicos já estão na lista de pessoas com comorbidades que fazem parte do grupo prioritário da vacinação, mas a segunda atualização do Plano Nacional de Imunização (PNI) reduziu o espectro desses pacientes ao detalhar que apenas os que realizaram tratamento quimioterápico ou radioterápico nos últimos 6 meses, além daqueles acometidos por neoplasias hematológicas, tem prioridade na imunização contra Covid-19.
“Muitos pacientes vão ficar de fora. Há tratamentos que não são contemplados (pelo Ministério da Saúde), ou situações específicas, como as de pessoas que ainda não começaram seus tratamentos pois estão aguardando para fazer uma cirurgia. Outra questão é que a pessoa vai ter que levar alguma comprovação e será complicado para o agente no posto de vacinação resolver cada caso”, disse ao O Globo a presidente da SBOC, Clarissa Mathias.
O novo estudo conduzido por médicos brasileiros traz um importante argumento na tentativa de inclusão de um maior espectro de pacientes com câncer no grupo prioritário da vacinação contra Covid-19.
“Esse novo estudo é um argumento para a prioridade (em restrições) destas pessoas na vacinação. O paciente oncológico está no grupo prioritário porque, como mostramos, ele tem chance de uma evolução pior da Covid-19”, afirma Bruno Ferrari.