Mais de 86% das famílias têm dívidas no CARTÃO DE CRÉDITO
Proporção de pessoas endividadas nessa modalidade atingiu o maior patamar em 2022
Os brasileiros utilizaram com bastante frequência o cartão de crédito em 2022. A saber, a modalidade liderou o ranking nacional de tipos de dívidas que os consumidores possuíam no ano passado, alcançando o maior valor já registrado pela série histórica, iniciada em 2010.
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), 86,6% das famílias do país tinham alguma dívida com cartão de crédito no ano passado. Em suma, a taxa cresceu significativamente em relação a 2021, quando 82,6% dos consumidores estavam endividados nesta modalidade.
Ao considerar os últimos dez anos, a proporção de pessoas com dívidas no cartão de crédito cresceu 11,4 pontos percentuais (p.p.) no país. Isso porque, em 2013, o percentual de endividados estava em 75,2%, taxa já bastante elevada.
Vale destacar que o crescimento desse percentual de endividamento na modalidade se concentrou nos dois últimos anos. Segundo a Peic, a taxa estava em 78,0% em 2020, ou seja, a proporção de endividados no cartão de crédito disparou 8,6 p.p. em apenas dois anos. E isso aconteceu, principalmente, por causa da pandemia da covid-19.
Em síntese, a crise sanitária impulsionou a inflação em todo o planeta, inclusive no Brasil. Para segurar a taxa inflacionária, o Banco Central (BC) elevou os juros ao maior patamar em seis anos, reduzindo o poder de compra do consumidor. E isso encareceu o crédito, impulsionando o endividamento e a inadimplência no país.
Veja quais dívidas os consumidores possuem
O levantamento, realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que a proporção de dívidas com cartão de crédito liderou o ranking nacional de débitos. No entanto, outras modalidades também foram buscadas pelos consumidores, mesmo que em proporção bem menor.
Veja abaixo os principais tipos de dívidas dos brasileiros em 2022:
- Cartão de crédito – 86,6%
- Carnês – 19,0%
- Financiamento de carro – 10,4%
- Crédito pessoal – 9,0%
- Financiamento de casa – 8,1%
- Crédito consignado – 5,5%
- Cheque especial – 5,4%
A título de comparação, a segunda modalidade que mais cresceu nos últimos dez anos foi o financiamento de casa. A saber, a alta no percentual de endividados foi de 2,1 p.p., taxa mais de cinco vezes menor que a do cartão de crédito (11,4 pontos).
“A intensificação do uso do cartão de crédito pelas famílias nos últimos anos está associada a diferentes fatores. O cartão de crédito é uma meio de pagamento altamente difundido no Brasil, tipo de crédito fácil e imediato, que exige baixo esforço dos consumidores para utilizá-lo”, explicou a CNC.
“Além disso, a entrada de fintechs no mercado de cartões ajudou a difundir o meio de pagamento, aumentando o endividamento na modalidade, mesmo sendo uma das que oferecem a maior taxa de juros média do mercado”, acrescentou a entidade.
No caso do financiamento imobiliário, vale destacar que essa modalidade havia atingido patamares mais elevados em 2020 (9,5%) e 2021 (9,1%). Contudo, o percentual recuou no pós-pandemia, principalmente devido ao aumento dos juros no país, que também atingiu o setor imobiliário e fez muita gente adiar essa dívida.
Endividamento e inadimplência batem recorde
A saber, a CNC realiza a Peic desde 2010. Em todos esses anos, a entidade nunca havia registrado uma taxa tão elevada de endividamento nem de inadimplência quanto as marcas alcançadas no ano passado.
De acordo com a pesquisa, 77,9% das famílias brasileiras haviam se endividado em 2022. Em resumo, essa é a maior taxa da série histórica, e só foi alcançada devido ao salto de 7 pontos percentuais em relação a 2021, quando a proporção de consumidores endividados era de 70,9%.
Esse número também é resultado dos impactos provocados pela pandemia da covid-19. Isso porque porque a crise sanitária provocou a perda de milhões de empregos no país. Como muita gente ficou sem renda fixa, passou a utilizar com mais frequência o cartão de crédito, cujo pagamento ocorre apenas posteriormente ao seu uso.
Como a inflação ficou muito elevada no país, as pessoas precisaram gastar mais para comprar bens e contratar serviços. Nesse cenário, o aumento dos juros veio para segurar a taxa inflacionária. Contudo, um efeito colateral foi a deixar as rendas das famílias ainda mais corroídas, e muitas delas não conseguiram honrar com os seus compromissos.
Da mesma forma que o endividamento, a inadimplência também bateu recorde no país no ano passado. Em síntese, 28,9% dos consumidores do país tinham dívidas ou contas em atraso em 2022. A saber, a taxa ficou 3,7 p.p. superior a de 2021 e 7,7 p.p. maior que a registrada dez anos atrás.