O número de brasileiros que tinham conseguido quitar suas dívidas e que agora, voltaram para a situação de inadimplência aumentou. Por conta da inflação de mais de 10%, queda de renda, altas taxas de desemprego e redução do Auxílio Emergencial, o bolso dos consumidores brasileiros está cada vez mais vazio.
Durante 2021, cerca de 64,3% dos consumidores inadimplentes que renegociaram suas dívidas deixaram de honrar seus compromissos ao menos uma vez. Essas pessoas acabaram voltando para o cenário de endividamento, segundo a empresa especializada em análise de crédito, Boa Vista.
O estudo levou em consideração pessoas físicas de todo o Brasil que ficaram inadimplentes por falta de pagamento de qualquer tipo de conta. O indicador, batizado de índice de “reinadimplência”, ficou em ficou em 51,8% em no ano passado e em 53,1% em 2020.
De acordo com o economista responsável pelo estudo, Flávio Calife, apesar de o índice considerar também alguns dados de 2019, historicamente a reinadimplência sempre oscilou entre 40% e 50%. Esta é uma característica do mercado brasileiro de crédito. “Em 2021, a reinadimplência deu um solavanco, saindo do padrão de 50% e indo para mais de 60%”, diz o economista.
O que influenciou o aumento das dívidas entre os consumidores
Calife atribui esta alta à oscilação da renda do consumidor no ano passado. Em 2021, o governo diminuiu o valor do auxílio emergencial pela metade, em comparação com 2020. Além disso, o desemprego continua altíssimo e as novas vagas que estão surgindo são direcionadas ao emprego informal, que possui remunerações menores.
Outro motivo citado pelo economista da Boa Vista foi o aumento da inflação. O índice fechou em 2021 com alta de mais de 10%, a maior desde 2015. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a inflação afetou o preço de itens básicos.
A inflação recorde acabou diminuindo drasticamente o poder de compra dos consumidores brasileiros e foi mais um fator que contribuiu para que as pessoas que já haviam negociado suas dívidas voltassem à inadimplência.
Qual a tendência para quitação de dívidas em 2022?
O aumento do número de pessoas que voltam a ser inadimplentes em 2021 é um fator que traz uma tendência de avanço na inadimplência aos brasileiros no ano de 2022. Para este período, se espera um cenário macroeconômico ainda adverso, o que incluiria altas taxas de juros, assim como baixa atividade.
Porém, o indicador anual de registro dos inadimplentes da Boa Vista, que mede a quantidade de dívidas ainda não pagas, fechou em 2021 com queda de cerca de 4% comparado a 2020. Já o índice de renegociação dos créditos não pagos em dia teve alta de 2,9% no mesmo ano.
O economista Flávio Calife diz que houve uma queda no número de pessoas que não quitaram suas dívidas em 2020, mas o indicador acumulado em um ano tem subido mês a mês desde 2021. Em março do ano passado, o mesmo indicador caiu mais de 21% e fechou o ano com recuo de 4,3%. Diante deste cenário, a perspectiva para 2022 é de alta na inadimplência.