De acordo com a pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgada nesta quarta-feira (4), a intenção de consumo das famílias brasileiras nunca esteve tão baixa. Ao ser pressionado pela inflação, os juros altos e as incertezas políticas, o indicador atingiu 71,6 pontos em 2021. Este valor é o equivalente a uma queda de 9,9% em comparação com 2020. O valor máximo para o índice é de 200 pontos.
Segundo o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Renan Pieri, o país teve uma queda no poder de consumo das famílias, isso porque a renda do trabalho quase não subiu, resultando na queda brusca do consumo. “Em contrapartida, o custo de vida por conta da alta no preço do combustível, energia e alimento subiu consideravelmente”, pontuou.
Motivos da queda do consumo
Ainda sobre a pesquisa, o último recorde negativo do índice havia sido em 2016, ano em que o impeachment de Dilma Rousseff causou instabilidade política no país. Em outro momento, a intenção do consumo das famílias do Brasil teve melhor desempenho em 2012, quando foram registrados 136,4 pontos.
A inflação e os juros altos não foram os únicos indicadores para tal queda. Estudos indicam que a fragilidade do mercado de trabalho e a redução na renda também aparecem como destaque para a queda na intenção de consumo no ano passado. Cerca de 40,6% dos brasileiros afirmam que a renda foi menor em 2021, quando comparado com anos anteriores. Já 31,5% apontam que o mercado de trabalho está ‘menos seguro’.
De acordo com o Coordenador do MBA em Gestão Financeira da FGV, Ricardo Teixeira, “a gente voltou a ter uma aceleração inflacionária no Brasil. E as pessoas normalmente acabam percebendo no bolso. Os produtos ficam mais caros, é um efeito danoso na economia de qualquer país. Esses altos valores prejudicam as pessoas e as empresas, que precisam comprar produtos cada vez mais caros para continuar produzindo. Tudo está interligado já que são as fábricas e indústrias que contratam as pessoas e fazem a economia girar. E com a inflação fica bem mais difícil”
O salário mínimo e o consumo
Desde o dia 1º de janeiro, foi autorizada por meio de uma medida provisória (MP) assinada pelo presidente Jair Bolsonaro a alteração do salário mínimo. Este aumento será de 10,18% em relação ao valor anterior, que era de R$ 1.100, portanto o valor atualizado será de R$ 1.212 por mês. Este também é um fator que pode acarretar em uma queda no consumo, pois com a estagnação da tabela do Imposto de Renda algumas famílias irão ficar prejudicadas financeiramente
Sobre os dados da pesquisa da CNC, na avaliação por faixa de renda, às famílias mais pobres registraram a menor intenção de consumo no Brasil. A população que recebe até 10 salários-mínimos revelou uma intenção de consumo de 68,4 pontos em 2021. Enquanto as pessoas que recebem mais de 10 salários-mínimos também tiveram uma queda na intenção, no entanto, não tão acentuado, registrando 86,9 pontos.
Avaliando o consumo das famílias por regiões, a população do Norte apresentou a maior queda da média anual, com um tombo de 26% na intenção de consumo em 2021, em comparação com o ano anterior. O Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste tiveram uma queda aproximada de 10%. Já segundo a pesquisa, as pessoas da região Sul foram as que mais cogitaram consumir no ano passado, com 79,1 pontos.