A questão do imposto sindical obrigatório tem sido alvo de debates e discussões desde a transição governamental. O presidente Lula demonstrou apoio à revisão de certos aspectos da reforma trabalhista como um aceno aos sindicalistas.
Imposto sindical: discussões sobre o financiamento sindical e uma possível nova cobrança obrigatória
Nesse contexto, o Ministério do Trabalho está avaliando a possibilidade de reintroduzir o imposto sindical obrigatório, e um projeto de lei (PL) deverá ser enviado ao Congresso Nacional para sua consideração.
A proposta de reintrodução do imposto sindical
De acordo com informações obtidas pela CNN, a minuta do projeto propõe que uma taxa seja descontada diretamente na folha de pagamento dos trabalhadores. Assim, essa taxa seria fixada em até 1% do rendimento anual de cada trabalhador.
No entanto, a implementação dessa taxa não seria automática. Dessa forma, a proposta prevê que a taxa seja adotada apenas após aprovação individual pelas categorias. Em suma, isso significa que a mudança precisaria ser submetida a votações em assembleias sindicais, além de ser oficializada nos termos de eventuais acordos ou convenções coletivas.
Além disso, a ideia é que o imposto sindical seja vinculado aos acordos de reajuste salarial entre empregadores e empregados, intermediados pelos sindicatos. Contudo, a proposta visa tornar a discussão sobre essa contribuição uma parte obrigatória do processo de negociação anual de aumentos salariais e benefícios.
Detalhes do repasse da arrecadação
Uma parte importante da proposta é o destino dos recursos arrecadados com o imposto sindical. A distribuição desse montante seria feita da seguinte maneira:
- 70% para o sindicato respectivo;
- 12% para a federação correspondente;
- 8% para a confederação correspondente;
- 7% para a central sindical correspondente.
Além disso, outros 3% seriam repassados para entidades ligadas aos empregados, embora os detalhes exatos dessas entidades ainda estejam em processo de definição.
Desafios no Congresso
A obrigatoriedade do imposto sindical foi extinta em 2017, quando a reforma trabalhista entrou em vigor durante o governo de Michel Temer. A contribuição que antes era descontada anualmente, considerando o valor de um dia de trabalho, passou a ser opcional.
A questão da reintrodução do imposto sindical é complexa e enfrentará desafios no Congresso. José Pastore, especialista em relações do trabalho, ressaltou em entrevista à CNN que essa é uma questão para ser decidida pelo Congresso Nacional e não pelo Poder Executivo ou Judiciário.
O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho, expressou forte oposição à proposta, chamando-a de “retrocesso absoluto” e uma “tentativa de ressurreição do peleguismo”. Marinho, que foi o relator da reforma trabalhista na Câmara, promete articular resistência ao avanço da proposta.
Perspectivas
As centrais sindicais de trabalhadores estão buscando um acordo com os representantes patronais para solidificar a proposta de reintrodução do imposto sindical. Em suma, acredita-se que se houver apoio por parte dos empresários, a tramitação de um projeto de lei no Congresso Nacional poderá encontrar uma maior convergência para aprovação.
Internamente, o Ministério do Trabalho pondera que o retorno da contribuição precisa estar acompanhado de mudanças na autorregulamentação dos sindicatos e em relação à transparência na prestação de contas das entidades.
A professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), Olivia Pasqualeto, destaca que um possível retorno do imposto sindical poderia ser benéfico para o financiamento dos sindicatos. Ela ressalta que a negociação da taxa estaria ligada aos benefícios gerados para a categoria como um todo.
No entanto, Pasqualeto também aponta para a possível desvantagem de que a representação sindical por categoria poderia levar a contribuições obrigatórias de trabalhadores que não se sentem devidamente representados.
Amplos debates
Em última análise, a questão do imposto sindical obrigatório é multifacetada e desencadeará grandes debates no Congresso. Desse modo, a decisão terá implicações significativas para o sistema sindical brasileiro, afetando tanto trabalhadores quanto empregadores. Portanto, é essencial um exame minucioso de todas as perspectivas antes que qualquer mudança seja implementada.