O cenário sindical no Brasil vem passando por profundas transformações nas últimas décadas, e os dados mais recentes divulgados pelo IBGE, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua – Características Adicionais do Mercado de Trabalho 2022), revelam um panorama preocupante. Isso porque apenas 9,2% dos trabalhadores no país estão sindicalizados, marcando o menor contingente desde o início da série histórica em 2012.
IBGE aponta que apenas 9,2% dos trabalhadores estão afiliados a sindicatos
Dos 99,6 milhões de brasileiros ocupados em 2022, apenas 9,1 milhões estavam associados a algum sindicato, representando os meros 9,2% mencionados. Desse modo, essa marca é a mais baixa registrada desde 2012, quando se iniciou o acompanhamento estatístico dessa questão.
A queda contínua
Ao analisarmos a evolução dos números ao longo dos anos, percebemos uma tendência de queda constante no número de profissionais sindicalizados. Conforme dados oficiais, em 2012, 14,4 milhões de trabalhadores (16,1%) eram membros de sindicatos. Contudo, os números começaram a declinar progressivamente nos anos seguintes:
- 2013 – 14,6 milhões (16%);
- 2014 – 14,5 milhões (15,7%);
- 2015 – 14,5 milhões (15,7%).
Em 2016, houve uma queda mais acentuada, com apenas 13,4 milhões de sindicalizados, representando 14,8% do total. Desse modo, em 2017, esse número caiu para 13 milhões (14,2%). Contudo, as quedas continuaram, chegando a 11,5 milhões (12,4%) em 2018 e 10,4 milhões (11%) em 2019.
No entanto, os anos de 2020 e 2021 não tiveram divulgação dos dados devido à pandemia. Porém, em 2022, o número de sindicalizados atingiu seu nível mais baixo, com 9,1 milhões, representando apenas 9,2% dos ocupados.
Variação por região
Outro aspecto relevante é a variação geográfica nesses números. Uma vez que entre 2019 e 2022, houve uma redução da sindicalização em 22 estados e no Distrito Federal.
As exceções notáveis foram observadas em alguns estados: Pará, que viu seu percentual de sindicalizados subir de 8,4% para 8,8%; Pernambuco, onde se manteve em 8,4%; Roraima, com um aumento de 6,8% para 7,8%; e Sergipe, que subiu de 9% para 9,5%.
A regionalização dos sindicatos
Analisando a distribuição regional dos sindicalizados, podemos notar que o Sul do Brasil lidera com o maior percentual de ocupados associados a sindicatos, com 11%. Na sequência, temos o Nordeste com 10,8%, o Sudeste com 8,3%, o Norte com 7,7%, e, por último, o Centro-Oeste, que registra 7,6%. Notavelmente, é a primeira vez que a região Sudeste fica abaixo da marca de 10%, indicando uma mudança significativa no cenário sindical na região mais populosa do país.
Os fatores por trás da queda
Para compreender essa drástica queda na sindicalização, é necessário analisar os fatores que contribuíram para essa tendência. Conforme informações de Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE, essa redução acentuou-se a partir de 2016, período em que a queda da sindicalização coincidiu com a retração da população ocupada total.
No entanto, é importante notar que, apesar da queda na sindicalização, o número de pessoas ocupadas atingiu seu pico em 2022, com 99,6 milhões de trabalhadores.
Todavia, vários elementos podem estar relacionados a essa queda, incluindo o aprofundamento das modalidades contratuais mais flexíveis introduzidas pela Reforma Trabalhista de 2017. Além do aumento das formas independentes de inserção dos trabalhadores na produção como alternativa à organização coletiva e o uso crescente de contratos temporários no setor público.
Uma tendência no mercado atual?
Certamente, os números divulgados pelo IBGE em 2022 indicam uma tendência preocupante de declínio na sindicalização no Brasil. Desse modo, é fundamental que sindicatos e autoridades reflitam sobre esses números e busquem maneiras de reverter essa tendência, garantindo a representação e os direitos dos trabalhadores em um contexto de crescente flexibilidade nas relações de trabalho.
Com as constantes mudanças no cenário profissional, as relações trabalhistas também têm passado por diversas alterações. Sendo assim, para que os sindicatos sejam atrativos aos trabalhadores, é necessário que o profissional se interesse pelos benefícios e se sinta verdadeiramente representado em uma situação de necessidade. Portanto, essa é uma situação que requer análise de todos os envolvidos.