Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a indústria brasileira cresceu 0,4% de Dezembro para Janeiro deste ano. Apesar do saldo positivo, o cenário ainda é preocupante.
Segundo a Confederação Nacional da Industria (CNI), o setor industrial encontra muita dificuldade em fazer compras nacionais e internacionais, e não tem conseguido atender os pedidos dos clientes. A entidade diz que 73% das empresas da indústria geral e 72% das companhias de construção estão com dificuldade para obter insumos e matérias-primas produzidos no Brasil. E quanto às empresas que importam insumos, 65% das companhias industriais estão com dificuldade para comprar do exterior, e setor de construção, esse percentual sobe para 79%.
A CNI também afirma que, segundo os brasileiros, o setor industrial é o mais importante para o crescimento do país. Em uma pesquisa realizada em Março deste ano, 97% dos entrevistados concorda que para o Brasil voltar a crescer, é necessário que a indústria também cresça. Em segundo e terceiro lugar de importância, segundo os entrevistados, estão respectivamente, a agricultura junto com a pecuária, e o comércio.
Montadoras paralisam atividades
Durante o mês de Março, oito das principais montadoras de automóveis do país anunciaram que vão suspender suas produções, pelo menos temporariamente. São elas: Toyota, Nissan, Volkswagen, Mercedes Benz, Renault, Volvo, Scania e Honda. O motivo alegado por todas é o mesmo: a agravamento da pandemia de Covid-19.
As negociações de paralização foram feitas por meio do sindicato dos trabalhadores, que queriam a pausa para preservar os funcionários no momento mais crítico da doença no país.
Além da preservação da saúde, as montadoras tem mais motivos para paralisar as atividades. O desabastecimento de insumos atingiu todas as cadeias de produção. A insegurança da população em investir em bens como o automóvel, associada a queda de renda dos consumidores, consequentemente reduziu a demanda.
Mas a paralisação do trabalho tem seu lado bom: reorganizar o trajeto, sem que haja demissões em massa. Segundo o gerente executivo da CNI, Renato da Fonseca, o momento é para refletir. “Quando você junta os sindicatos querendo parar, com medo de serem contaminados, e a indústria com bons motivos para suspender a produção, torna-se um momento de pausa para se reorganizar”- disse ele.
Uma das expectativas das montadoras é o retorno do programa de preservação de empregos, conhecido como BEm. A medida, criada no ano passado, firmou mais de 20 milhões de acordos entre patrões e empregados para a redução da jornada ou suspensão dos contratos de trabalho. Uma nova rodada desse programa daria um alívio às empresas, pois poderiam se planejar com mais eficiência, segundo a demanda e com a evolução da Covid-19 no país. Isso reduziria o numero de demissões e contratações, que não deixam de ser custos para as montadoras, neste momento tão frágil.
O setor moveleiro busca soluções internas
Entre as indústrias de móveis e colchões, os principais problemas estão no fornecimento de painéis de madeira, como MDF, aço, ferragens e espumas, essenciais para a produção. Muitas empresas já reduziram o ritmo de atividade por falta de matéria-prima. Depois, o produto pronto se depara com a falta de embalagens de papelão, plástico e vidros. A escassez, somada ao câmbio desvalorizado, resulta em alta de preços, que chegam a quase 200% em alguns segmentos.
A Abimovel (Associação Brasileira das Industrias do Mobiliário) acredita que, com a dificuldade de comprar no mercado externo, o momento é para o fortalecimento do mercado interno. Maristela Cusin Longhi, presidente da entidade, fala que “a valorização do produto nacional pode ser uma alternativa economicamente sustentável para vencer a supervalorização do frete internacional e a variação cambial desfavorável para a importação.”
Para o presidente da Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina), Mario Cezar de Aguiar, a mudança no perfil de consumo favoreceram cadeias de produção que são fortes no Brasil. “Nos segmentos voltados para o ambiente doméstico, houve um incremento. Nunca se vendeu tantos móveis e eletrodomésticos como na pandemia, produtos que são muito fortes, que a gente produz”, afirma.
Segundo ele, houve um movimento de valorização ao produto nacional, uma vez que os importados ficaram muito caros. “As pessoas estão ficando mais conscientes de que essa dependência de produtos asiáticos não faz bem para a economia. Vimos valorização e substituição no consumo doméstico, áreas que a indústria brasileira tem condições de atender”.
Setor metalúrgico: queda e ascensão, ainda que lenta
José Velloso, presidente-executivo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) relatou em Outubro de 2020, que 90% das empresas do setor de máquinas e equipamentos compram o material nas distribuidoras, que estão promovendo aumentos de até 50%.
“As usinas estão produzindo hoje a metade de sua capacidade instalada e está faltando aço. Está ocorrendo um verdadeiro leilão nas distribuidoras”, afirmou o executivo, lamentando o fato de algumas empresas, num momento como o atual, estarem adotando tal prática.
O setor do aço, que no ápice da crise provocada pela Covid-19, chegou a operar com apenas 45% de sua capacidade no país, voltou a funcionar como antes da pandemia, com 63%, noticiou a Gazeta, com dados do Instituto Aço Brasil.
Isso se deve às medidas tomadas pelo Governo para manutenção dos empregos e renda, e também uma mudança no comportamento dos consumidores. De fato, a indústria metalúrgica foi a que mais firmou contratos de flexibilização de trabalho durante o ano passado, para evitar demissões.
O presidente do Sindicato das Industrias Metalúrgicas e de Material Elétrico do Espírito Santo, Luís Soares Cordeiro, destaca que a mudança de comportamento dos consumidores foi essencial na recuperação. “Justamente por conta da pandemia, os valores que as famílias antes direcionavam ao lazer e turismo, investiram no conforto do lar, com reforma da casa, consumindo aços longos, ou em bens de capital, como geladeira, fogão, etc.”
A produção de aço, que chegou a ter uma a assustadora previsão de queda em 18,8% no Brasil, agora é bem menos sombria, de 6,4% de retração em 2020.
Marco Polo de Melo Lopes, Presidente Executivo do Instituto Aço Brasil, relata que o setor já vinha desde 2013 sofrendo quedas no mercado interno. Em 2018, a greve dos caminhoneiros comprometeu o abastecimento, e em 2019, a tragédia de Brumadinho comprometeu o abastecimento de minérios de ferro. O ano de 2020 começou com perspectivas de recuperação, mas como todos outros setores, amargaram com a pandemia. Mesmo com tantos reveses, Marco Polo acredita que o momento é de retomada de crescimento.